BRASÍLIA – As emissões globais de carbono provenientes de combustíveis fósseis aumentaram novamente em 2023 – atingindo níveis recordes, de acordo com uma nova pesquisa do grupo científico Global Carbon Project.
Publicado na segunda (4/12), durante as negociações da 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática (COP28), o relatório Orçamento Global de Carbono estima que as emissões de dióxido de carbono (CO2) oriundas de fontes de energia como petróleo, gás e carvão alcançarão 36,8 bilhões de toneladas em 2023, um aumento de 1,1% em relação a 2022.
A maior contribuição virá do petróleo (1,5% de aumento), seguido por carvão (1,1%) e gás (0,5%).
Embora as emissões de CO2 fóssil estejam diminuindo em algumas regiões, como Europa e Estados Unidos, globalmente, o cenário é de elevação. Os cientistas afirmam que a ação global para reduzir os combustíveis fósseis não está ocorrendo rápido o suficiente para evitar mudanças climáticas.
Já as emissões provenientes da mudança no uso da terra (como desmatamento) estão projetadas para diminuir ligeiramente – mas continuam elevadas para serem compensadas pelos atuais níveis de reflorestamento e plantação de novas florestas.
As emissões globais de CO2 provenientes de incêndios em 2023 foram superiores à média (com base em registros de satélite desde 2003) devido a uma temporada extrema de incêndios florestais no Canadá, onde as emissões foram seis a oito vezes superiores à média.
O relatório projeta que o total de CO2 lançado (fósseis + mudança no uso da terra) será de 40,9 bilhões de toneladas em 2023, cerca de 0,4% menor que no ano passado.
As tendências regionais também variam considerando os dois grupos. Prevê-se um aumento na Índia (8,2%) e na China (4,0%) e uma redução na UE (-7,4%) e nos EUA (-3,0%).
A equipe de pesquisa incluiu a Universidade de Exeter, a Universidade de East Anglia (UEA), o Centro Cicero para Pesquisa Climática Internacional, a Universidade Ludwig-Maximilian de Munique e outras 90 instituições ao redor do mundo.
“Os impactos das mudanças climáticas são evidentes ao nosso redor, mas a ação para reduzir as emissões de carbono provenientes de combustíveis fósseis permanece dolorosamente lenta”, comenta o professor Pierre Friedlingstein, do Instituto de Sistemas Globais de Exeter, que liderou o estudo.
“Agora parece inevitável que ultrapassaremos a meta de 1,5°C do Acordo de Paris, e os líderes reunidos na COP28 terão que concordar com cortes rápidos nas emissões de combustíveis fósseis mesmo para manter viva a meta de 2°C”.
Orçamento de carbono próximo do fim
O estudo do Global Carbon Project também estima quanto de carbono ainda pode ser lançado à atmosfera antes que a temperatura média do planeta ultrapasse o limite de aumento de 1,5°C de forma constante, isto é, ao longo de vários anos, não apenas por um evento isolado.
Pelo nível atual de emissões, os pesquisadores calculam uma probabilidade de 50% de o aquecimento global exceder consistentemente 1,5°C em cerca de sete anos.
Essa estimativa está sujeita a grandes incertezas, principalmente relacionadas ao aquecimento adicional de outros agentes fora o CO2, mas mostra o tamanho do desafio de alinhar os modelos de produção e consumo atuais às necessidades climáticas.
“Os dados mais recentes de CO2 mostram que os esforços atuais não são profundos ou abrangentes o suficiente para colocar as emissões globais em uma trajetória descendente em direção ao zero líquido, mas algumas tendências nas emissões estão começando a mudar, mostrando que as políticas climáticas podem ser eficazes”, afirma Corinne Le Quéré, professora pesquisadora da Royal Society na Escola de Ciências Ambientais da UEA.
“Todos os países precisam descarbonizar suas economias mais rapidamente do que fazem atualmente para evitar os piores impactos das mudanças climáticas”, completa.