RECIFE — As emissões de dióxido de carbono (CO₂) atingiram 421 partes por milhão em maio de 2022, alertam os cientistas da Administração Nacional Oceânica e Atmosférica dos Estados Unidos (Noaa, na sigla em inglês). O número é equivalente a mais de 50% em comparação aos níveis pré-industriais.
As medições de dióxido de carbono da Noaa registraram uma média de 420,99 partes por milhão (ppm), um aumento de 1,8 ppm em relação a 2021. Cientistas da Scripps, que mantém um registro independente, calculam uma média mensal de 420,78 ppm.
Segundo os cientistas, esses números empurram a atmosfera para um território não visto em milhões de anos.
A nível de comparação, antes da Revolução Industrial, os níveis de CO₂ permaneceram consistentemente em torno de 280 ppm, durante 6 mil anos. Desde então, os humanos geraram cerca de 1,5 trilhão de toneladas de poluição por CO₂, e boa parte desse volume continuará a aquecer a atmosfera por milhares de anos.
“A ciência é irrefutável: os humanos estão alterando nosso clima de maneira que nossa economia e nossa infraestrutura devem se adaptar. Podemos ver os impactos das mudanças climáticas ao nosso redor todos os dias”, afirma o administrador da Noaa, Rick Spinrad.
Mundo ainda não conseguiu reverter emissões
A poluição por CO₂ é gerada pela queima de combustíveis fósseis para transporte e geração elétrica, pela fabricação de cimento, desmatamento, agricultura e entre outras práticas.
Juntamente com outros gases de efeito estufa, o CO₂ retém o calor irradiado da superfície do planeta que, de outra forma, escaparia para o espaço, fazendo com que a atmosfera terrestre seja aquecida de forma constante.
Os impactos climáticos desse aquecimento vão desde episódios de calor extremo, secas e incêndios florestais, até maiores níveis de precipitação, inundações e atividade de tempestade tropical.
Os impactos da poluição por gases de efeito estufa nos oceanos também refletem no aumento da temperatura da superfície do mar, elevação do nível do mar e uma maior absorção de carbono, o que torna a água mais ácida, leva à desoxigenação do oceano e dificulta a sobrevivência de alguns organismos marinhos.
Os níveis de CO₂ são agora comparáveis ao Pliocene Climatic Optimum, registrados entre 4,1 e 4,5 milhões de anos atrás, quando estavam próximos ou acima de 400 ppm. Naquela época, o nível do mar estava entre 5 e 25 metros mais alto do que hoje, alto o suficiente para afogar muitas das maiores cidades modernas do mundo.
“É deprimente que nos faltou a força de vontade coletiva para retardar o aumento implacável de CO₂. O uso de combustíveis fósseis pode não estar mais acelerado, mas ainda estamos correndo em alta velocidade em direção a uma catástrofe global”, alertou o geoquímico Ralph Keeling, dirigente do programa Scripps.
Apesar de décadas de negociação, os cientistas observam que a comunidade global não conseguiu desacelerar significativamente, e muito menos reverter, os aumentos anuais nos níveis de CO₂ atmosféricos .
“O dióxido de carbono está em níveis que nossa espécie nunca experimentou antes — isso não é novo. Sabemos disso há meio século e não fizemos nada significativo sobre isso. Quanto tempo vai demorar para acordarmos?”, questionou Pieter Tans, cientista sênior do Laboratório de Monitoramento Global.