Transição energética

Emergência climática é questão de matemática e física, não ideológica, diz enviado do Clima dos EUA

John Kerry falou durante a abertura da Estocolmo+50, reunião convocada pela ONU para celebrar os cinquenta anos da conferência

John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, com a ministra sueca do Meio Ambiente Annika Strandhäll durante a Estocolmo+50 (Foto: Unep/Divulgação)
John Kerry, enviado especial dos EUA para o clima, com a ministra sueca do Meio Ambiente Annika Strandhäll durante a Estocolmo+50 (Foto: Unep/Divulgação)

RECIFE — O enviado especial dos Estados Unidos para o Clima, John Kerry, disse nesta quinta (2/6) que a emergência climática não é uma questão de ideologia política e que o mundo está em um curso destrutivo da biodiversidade. Ele falou durante a abertura da Estocolmo+50, reunião convocada pela ONU para celebrar os cinquenta anos da conferência Estocolmo e discutir a urgência das políticas de proteção do clima.

“As 20 principais economias do mundo desenvolvido equivalem a 80% de todas as emissões. A realidade é que a ciência está nos dizendo muito claramente o que temos que fazer. Esta não é uma questão de ideologia política, é uma questão de matemática e física”.

Kerry também criticou políticas ambientais que contrariam a ciência.

“Líderes do mundo e pessoas em cargos de maior responsabilidade, que poderiam fazer a diferença, tomam atitudes diferentes do que a ciência diz. Um monte de gente está ignorando a ciência e ignorando a realidade do que está acontecendo com o planeta. Infelizmente, estamos em um curso muito destrutivo com uma enorme porcentagem de biodiversidade sendo destruída”.

O encontro reunirá, até sexta (3/6) ativistas, chefes e ministros de Estado, além de representantes da sociedade civil e do setor privado para discutir a cooperação internacional e a colaboração para enfrentar a tripla crise planetária de mudança climática, perda de biodiversidade e poluição e resíduos.

A conferência tem como objetivo acelerar a redução das emissões anuais de gases de efeito estufa pela metade até 2030 para chegar a um nível zero em 2050.

Nesta quinta, as discussões enfatizaram a abordagem multissetorial entre os países para tratar das questões ambientais.

Ativistas cobram início de ações

Ativistas ambientais cobraram no encontro o início das ações prometidas pelos chefes de Estado durante os principais fóruns sobre mudanças climáticas, como a Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP26), em novembro passado.

“Já se passaram seis meses desde a COP26, quando os líderes prometeram lutar para limitar o aquecimento global a 1,5°C. Desde então, novos projetos imprudentes de combustíveis fósseis continuam a ser aprovados pelos chamados ‘líderes do clima’ no Norte Global”, criticou Vanessa Nakate, ativista de Justiça Climática da Rise Up Movement Uganda.

Nakate cobrou o fim dos combustíveis fósseis e a entrega dos US$ 100 bilhões anuais prometidos em 2009 pelos países desenvolvidos para o combate às mudanças climáticas em países em desenvolvimento, hoje atrasados.

“Não podemos nos permitir outra conferência cheia de promessas vazias enquanto as vidas das pessoas em toda a África estão desmoronando devido a secas e enchentes induzidas pela mudança no clima”.

Líder do Programa de Diplomacia Climática e Geopolítica, E3G, Alex Scott, disse que o encontro deve servir como chance para que os países estabeleçam os sistemas financeiros e de cooperação global para enfrentar as múltiplas crises ambientais e sociais.

“O momento Estocolmo+50 ocorre no meio do caminho entre a COP26 da ONU em Glasgow e a COP27 da ONU no Egito, em novembro, onde as luzes da ribalta estarão brilhando sobre o que mais os governos têm feito para apoiar as comunidades vulneráveis para lidar com os impactos climáticos”.

Segundo Scott, as comunidades estarão particularmente atentas aos países mais ricos para uma atualização sobre o que eles estão fazendo para cumprir suas promessas climáticas.

Combustíveis fósseis são a principal preocupação

Na véspera do encontro, um grupo de ativistas da Ucrânia e do Sul Global exigiram o fim da era dos combustíveis fósseis, e que os governos estabeleçam planos concretos para uma transição energética global e justa no Tratado de Não Proliferação de Combustíveis Fósseis.

O documento fala sobre os perigos que as emissões de petróleo, gás e carvão representam para a saúde, biodiversidade, segurança econômica e energética.

“Enquanto a ONU comemora 50 anos desde a primeira cúpula internacional sobre o meio ambiente, um novo relatório expõe os perigos críticos que os combustíveis fósseis representam para todos os 17 objetivos de desenvolvimento sustentável”, afirma o Tratado.

O relatório Falha de combustível: como carvão, petróleo e gás sabotam todos os dezessete Objetivos de Desenvolvimento Sustentável exige uma estrutura internacional com compromissos que restringem a produção de combustíveis fósseis globalmente e que possam complementar as promessas existentes de reduzir as emissões, reverter a perda de biodiversidade e reduzir a poluição.

“Enquanto a ação climática progride todos os dias, ainda estamos nos movendo muito lentamente para manter o planeta em uma zona segura. Os Estados devem urgentemente se mover para uma velocidade mais alta para cortar o carvão, o petróleo e o gás de suas economias e nos mover para além dos combustíveis fósseis para sempre”, declarou Laurence Tubiana, CEO da Fundação Europeia do Clima e arquiteto do Acordo de Paris.

O que é Estocolmo+50

O evento é uma comemoração dos cinquenta anos da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano em Estocolmo.

Na primeira conferência, realizada em 1972, 113 países adotaram a Declaração e o Plano de Ação de Estocolmo para o Meio Ambiente Humano, colocando as questões ambientais entre as preocupações internacionais.

A conferência também levou à criação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Unep, na sigla em inglês) e iniciou o diálogo entre os países sobre os vínculos entre meio ambiente, crescimento econômico e bem-estar humano.

Apesar da luta para frear o aquecimento global, alguns pontos negativos chamam atenção. Entre eles o uso global da eletricidade como fonte de energia que é 4,8 vezes maior do que em 1972. Este crescimento, de acordo com a ONU, tem sido principalmente atendido pela queima de combustíveis fósseis. Em 1972, existiam 659 usinas de carvão no mundo. Hoje, o número de unidades movidas a carvão aumentou para 6.612, representando um aumento de mais de dez vezes.

Além disso, cerca de 20% da Floresta Amazônica já foi perdida, e estima-se uma taxa de 52.000 km quadrados estão desaparecendo por ano.