BRASÍLIA — O grupo Enel vai medir a circularidade dos negócios comparando seu desempenho econômico com o total de recursos consumidos no decorrer das atividades produtivas, tais como combustíveis e matérias-primas.
A companhia lançou um índice, o Economic Circulability, no Fórum Econômico Mundial de Davos, durante painel que reuniu cerca de 100 empresas, entidades públicas e associações da Platform for Accelerating Circular Economy (Pace) — consórcio global de aceleração da transição para um modelo de economia circular.
O novo indicador considera os lucros globais em euros da Enel, em relação ao montante de recursos, como matérias-primas e combustíveis (expressos em toneladas), utilizados ao longo da cadeia de valor pelas diversas atividades do negócio.
A empresa de energia estabeleceu como meta duplicar os resultados até 2030, em comparação aos níveis de 2020. Isso significa que a multinacional terá que consumir metade da quantidade de recursos relativos aos lucros gerados.
“Decidimos medir a nossa circularidade e duplicá-la até 2030, pois acreditamos que ela é parte integrante da nossa estratégia industrial e competitiva, e da nossa sustentabilidade. Na verdade, nós nos esforçamos para nos tornarmos líderes na transição energética”, afirmou o diretor de inovação da Enel, Ernesto Ciorra.
O diretor explicou que, na estratégia de circularidade, para além de utilizar os insumos, é preciso disponibilizá-los para as produções futuras.
“Para conseguir isso de forma sustentável, precisamos fazer um esforço para não consumir matérias-primas, mas sim usá-las e depois disponibilizá-las novamente para futuros ciclos de produção”, disse.
E comentou que o avanço nas iniciativas de circularidade pela Enel trará vantagem competitiva frente à demanda global. O grupo estava avaliando o potencial da economia circular como driver estratégico desde 2015.
“Precisamos fazer isso agora, já que as matérias-primas estão disponíveis hoje, mas a demanda global está aumentando exponencialmente, assim como os esforços para descarbonizar a geração de energia e a produção industrial em geral”.
“Os que estão na vanguarda obterão uma vantagem competitiva com a circularidade, enquanto os últimos correm o risco de lidar com uma disponibilidade de material cada vez mais escassa”, completa Ciorra.
Em comunicado, a empresa reforçou que o compromisso é dobrar a circularidade nos próximos anos, em parceria com fornecedores.
Transição para modelo circular
Levantamento do Pacto Global da Organização das Nações Unidas (ONU) com multinacional Accenture mostra que 49% dos CEOs estão adaptando seus negócios para um modelo circular e 63% estão buscando levar a sustentabilidade para seus empreendimentos através de novos produtos e serviços. A pesquisa ouviu 2.600 executivos em 128 países.
O número ainda é baixo diante da emergência climática, embora os CEOs globais demonstrem preocupação com o cumprimento dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) até 2030.
87% deles acreditam que o atual nível de mudanças econômicas e tecnológicas pode impactar na entrega dos objetivos e 93% dizem estar enfrentando desafios em seus negócios.
Enquanto isso, uma análise da McKinsey revela que as ações de “transição de materiais” serão cruciais para reduzir os impactos ambientais e as emissões de dióxido de carbono (CO2) a nível industrial. Um exemplo é o investimento na reciclagem, que diminuiria a demanda por materiais industriais primários.
O setor responde por 75% de todas as emissões de CO2 da indústria europeia.
Em 2020, a Comissão Europeia lançou o Plano de Ação da Economia Circular e Estratégia Industrial. Além de auxiliar a União Europeia a alcançar a neutralidade de emissões de CO2 até 2050, o conjunto de estratégias busca promover a redução de resíduos e descarte de materiais na cadeia de consumo do continente.