Enquanto o mundo encara o desafio da transição energética, a população dos países em desenvolvimento não pode ser prejudicada pela necessidade de redução de emissões. Dessa forma o diretor executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês), Fatih Birol, apresentou o que considera o maior desafio do setor de energia no mundo hoje: a queima de carvão que representa 1/3 das emissões globais de gases de efeito estufa.
Birol, que participou nesta quinta-feira (23) de um debate sobre o desafio do setor de energia frente ao aquecimento global no Fórum Econômico Mundial, em Davos, criticou a forma como o evento toca o debate sobre transição energética. Para ele, o Fórum adota uma perspectiva demasiadamente centrada no Ocidente. Ele lembrou que a queima de carvão, o principal causador de emissões de gases do efeito estufa, é, em muitos casos, a única alternativa para a geração de energia nos países de renda baixa.
“É injusto do ponto de vista ético e é errado do ponto de vista das mudanças climáticas porque você não pode aplicar (no mundo todo) o que se pretende na Europa”, criticou. Ele lembrou que a Europa hoje responde por apenas 9% das emissões globais de gases do efeito estufa mas frisou que as emissões “não têm passaporte” e afetam todo o mundo, onde quer que sejam produzidas.
“Como vamos lidar com o problema da queima de carvão em países em desenvolvimento sem afetar suas economias? Sem provocar grandes impactos sobre as populações pobres da Ásia?”, questionou o diretor da IEA. “Considero esse o problema mais significativo hoje. A questão do aquecimento global não é uma simples questão de apontar o que está certo e o que está errado”.
Dados do Carbon Brief indicam que desde 2000 o mundo dobrou a capacidade de geração de energia a partir de carvão, chegando a 2.000 GW, com crescimento forte na China e na Índia. Outros 236 GW estão em construção e mais 336 GW em planejamento.
O mapeamento mostra também que outros 227 GW a partir de carvão foram descontinuados nos EUA e na União Européia, o onde tem acontecido uma rápida desaceleração de novas usinas. Isso significa que o número de unidades de carvão que operam em todo o mundo caiu pela primeira vez em 2018, sugere a análise da Carbon Brief, que indica que mais 186 GW estão prontos para parar de produzir até 2030.
Produção fotovoltaica é a estrela da transição energética
Birol defende que a melhor forma de buscar uma substituição para o carvão é focar na geração de energia solar fotovoltaica, que ele considera a estrela da transição energética no momento, com grande potencial de crescimento em regiões pobres do mundo como a Índia e o continente africano. Mas o que falta no momento não é a tecnologia ou recursos financeiros, e sim o senso de urgência dos líderes políticos.
“A situação hoje é perturbadora e pede por uma grande coalizão entre governos, a indústria de energia, investidores e também os cidadãos para combater o aquecimento global antes que seja tarde demais”, disse, frisando que essa missão é plenamente viável para as indústrias do setor que, segundo ele, “têm todas as habilidades necessárias” para enfrentar o desafio do combate à crise climática.
Alerta que existem muitas tecnologias que não estão maduras o suficiente e só chegarão a esse ponto se houver projetos de grande escala que as envolvam. Considera que as companhias do setor de energia devem ser atraídas para o centro do debate, uma vez que elas têm a capacidade de desenvolver tais projetos. “Elas têm um grande expertise então por que não usar sua expertise?”, questionou.
A geração distribuída a partir de fonte solar fotovoltaica deve dobrar de capacidade até 2024, representando quase metade de todo o crescimento da capacidade de fornecimento de fonte solar fotovoltaica no planeta. A previsão faz parte do relatório Renewables 2019, da própria Agência Internacional de Energia (AIE). O relatório aponta perspectivas globais para fontes renováveis de energia nos próximos cinco anos.
O documento afirma que a capacidade global de energia renovável deverá crescer 50% nos cinco anos, um aumento de 1.200 gigawatts, o que é equivalente à atual capacidade total de geração de energia dos Estados Unidos. O aumento, diz o relatório, será impulsionado por redução de custos e esforços promovidos por políticas governamentais. A energia solar fotovoltaica representará 60% desse crescimento.
[sc name=”podcast”]