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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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O El Niño e o aquecimento dos oceanos vão atrasar a chegada da estação úmida à região Norte do Brasil, que enfrenta a segunda maior seca desde a registrada em 2009-2010, alertou o Climatempo nesta segunda (16/10).
Dados da consultoria meteorológica indicam que a estiagem no Norte do Brasil deve se prolongar além do usual por causa do fenômeno climático que eleva as temperaturas do Pacífico Equatorial, conjugado ao aquecimento dos oceanos Atlântico Norte.
A previsão é que, no final de novembro a situação melhore no Norte, com as chuvas voltando aos poucos, mas a estiagem deve persistir por todo o verão de 2023/2024. Enquanto isso, na região Sul a previsão é de mais tempestades.
Cenas como a do rio Negro, no Amazonas, que alcançou a marca de 13,59 metros esta semana, levando a capital Manaus à pior seca da história, não são casos isolados.
Na última semana, a Organização Meteorológica Mundial (OMM) divulgou um estudo mostrando o quanto as mudanças climáticas já desequilibraram o ciclo hidrológico em todo o mundo.
E fez um apelo para que os líderes globais aumentem o compartilhamento de dados para permitir alertas precoces, evitando desastres, e costurem políticas de gestão de água coordenadas e integradas, como parte da ação climática.
Sem água
Secas destrutivas e chuvas fortes estão causando grandes prejuízos, enquanto o derretimento das geleiras aumenta os riscos de inundações e ameaça a segurança hídrica a longo prazo, alerta a OMM.
De acordo com a agência da ONU, cerca de 3,6 bilhões de pessoas – metade da população do planeta – não têm acesso a água suficiente pelo menos um mês por ano e este número pode aumentar para mais de cinco bilhões até 2050.
“Uma atmosfera mais quente retém mais umidade, causando episódios de precipitação e inundações muito mais fortes. E no extremo oposto, mais evaporação, solos secos e secas mais intensas”, observa Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
Usando dados de 273 estações em todo o mundo, os cientistas descobriram que mais da metade das bacias hidrográficas e reservatórios globais estavam fora das condições normais – a maioria deles mais seca.
A diminuição da umidade na Europa refletiu em rios como o Danúbio e o Reno e até atrapalhou a geração nuclear na França, por falta de água de refrigeração.
Estados Unidos, chifre da África, Oriente Médio e bacias de La Plata (América do Sul) e Yangtze (China) foram outras regiões afetadas pelas secas severas entre 2022 e 2023.
Enquanto isso, a bacia do rio Indo, no Paquistão, testemunhou inundações extremas que levaram a pelo menos 1,7 mil mortes e quase oito milhões de pessoas deslocadas de suas casas.
O derretimento das geleiras também já está bastante evidente. Quem visitou os alpes suíços em janeiro deste ano para o Fórum Econômico Mundial, pode observar o resultado da massa de neve perdida nos últimos dois anos.
“Teremos desafios para obter água para a agricultura, para os seres humanos, para a indústria e também para a produção de energia hidrelétrica”, diz Taalas.
Cobrimos por aqui:
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Preço justo para o carbono
O secretário-geral das Nações Unidas, Antonio Guterres, pediu nesta segunda (16/10) que líderes dos setores público e privado ajam para fornecer US$ 500 bilhões por ano em financiamento acessível e de longo prazo aos países de renda média e baixa.
E apelou aos governos que estabeleçam um preço justo para o carbono e para que as empresas implementem planos de emissões líquidas zero com credibilidade.
Guterres discursou na abertura do Fórum Mundial de Investimento, em Abu Dhabi, Emirados Árabes Unidos, encontro que antecede as próximas negociações globais sobre mudanças climáticas da COP28.
A conferência, marcada para o final de novembro, terá uma área dedicada ao financiamento e investimento climático – um ponto de conflito nas negociações das COPs anteriores e que, sem avanço, vai tornando cada vez mais difícil colocar as economias no rumo de 1,5°C.
O déficit de investimentos em desenvolvimento sustentável está na casa dos US$ 4 trilhões em países de renda média e baixa – em 2015, era calculado em US$ 2,5 trilhões.
Ao mesmo tempo, a ONU apresentou uma avaliação do mercado financeiro sustentável em US$ 6 trilhões.
No entanto, os fundos canalizados para novas plantas de energia renovável, instalações de água e saneamento, projetos agrícolas e hospitais são insuficientes, afirma Guterres.
“Apenas 5% de todos os fundos sustentáveis estão localizados em países em desenvolvimento. O financiamento existe, mas a alocação foi mal orientada”.
Curtas
Embraer testa SAF
A Embraer concluiu com sucesso testes de voo com os jatos executivos Phenom 300E e Praetor 600 usando somente combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês). Os testes foram realizados em Melbourne, Flórida, e envolveram a análise do desempenho dos sistemas de motores usando combustível fornecido pela World Fuel.
Espaço para eólica e solar
As conclusões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) sobre as causas do apagão de 15 de agosto mostram que o Brasil ainda não atingiu o limite máximo de usinas eólicas e solares no sistema, dado que o problema que gerou o blecaute não veio de restrições técnicas na geração, afirma o chefe de conexão de redes da Vestas para a América Latina, Vinícius Niedzwiecki, em entrevista à agência epbr.
Mercado de carbono
A Comissão de Desenvolvimento Econômico da Câmara dos Deputados vai realizar audiência pública na quinta-feira (19) para debater a implementação do mercado de carbono no Brasil.
A autora do requerimento para a realização da audiência é a deputada Antônia Lúcia (Republicanos-AC). Segundo ela, um dos objetivos do debate é obter subsídios para os vários projetos de lei que tramitam na Câmara sobre o assunto.
Rodovias no mercado livre
A gestora de rodovias Arteris está migrando suas unidades consumidoras para o mercado livre de energia, com a contratação de fontes 100% renováveis. A expectativa é economizar cerca de R$ 750 mil e reduzir 200 toneladas de CO₂ por ano.
Recentemente, a companhia migrou cinco unidades da Planalto Sul – responsável pelos 412,7 km da BR-116, que liga Curitiba (PR) à divisa de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Outras 15 unidades já migraram, em São Paulo, Paraná e Santa Catarina.