Crise ameaça deixar ativos de petróleo "encalhados" e favorece transição, avalia Carbon Tracker

Kingsmill Bond, CFA, is the Energy Strategist for Carbon Tracker
Kingsmill Bond, CFA, is the Energy Strategist for Carbon Tracker

A queda drástica na demanda global por combustíveis fósseis provocará uma enorme quantidade de ativos “encalhados”, acredita Kingsmill Bond, da Carbon Tracker, grupo internacional que alinha os mercados de capitais e políticas climáticas, durante webinar do Instituto E+ Transição Energética.

“Estamos saindo de um mundo que era fácil fazer dinheiro com petróleo para um mundo em que as dificuldades estão aumentando”, avaliou Bond, ressaltando que, com preços em queda e restrições de demanda, indústria de petróleo torna-se cada vez mais um negócio arriscado e investidores acostumados a modelos de negócios de alto retorno terão que se adaptar aos novos tempos.

“É momento de diversificar essas indústrias de alto risco, que possuem um futuro incerto e provavelmente de declínio. Hoje, é muito arriscado ir longe em um caminho que pode vir a ser um beco sem saída”.

O estrategista da Carbon Tracker classifica, diante da crise da covid-19, as companhias de petróleo em três grupos.

“O primeiro grupo envolve parte do setor de óleo do Canadá e Reino Unido, por exemplo, em que os custos variáveis da produção são maiores que o preço atual. Elas estão com seus ativos completamente encalhados e não têm futuro e vão precisar fechar”, alerta Bond.

O segundo grupo é composto por empresas em que os novos preços estão abaixo do custo total, mas ainda acima dos custos variáveis. São negócios que podem preservar margens positivas, mas perderam sua capacidade de pagar dividendos, a exemplo do que acontece com o shale no Equador.

E por fim, o último grupo de empresas que continuam lucrando, entretanto, em níveis muito abaixo que no passado, como na Arábia Saudita.

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Cenário favorável às renováveis

“O contexto é mais favorável para as energias renováveis, que apresentam melhores taxas de retorno de investimento e ganhos crescentes de produtividade com o desenvolvimento tecnológico”, afirmou Bond.

De acordo com ele, mesmo na pós pandemia a tendência é que os combustíveis fósseis não recuperem a demanda, principalmente por conta de políticas adotadas por países importadores.

“São os importadores de combustíveis fósseis que estão mudando seus sistemas primeiro e mais rápido. Neste momento, por exemplo, a Índia está tirando o subsídio dos combustíveis fósseis”, ressaltou Bond, defendendo que a retomada econômica será pautada em renováveis.

“Todo o crescimento do setor energético será das renováveis. É improvável que voltemos ao mesmo de antes. Fontes de energia renovável são grandes o suficiente para fazer parte do crescimento”.

Bond aconselhou que o Brasil deveria “estar bastante cético em relação a lucratividade de empresas de gás”.

“O gás é uma ponte para transição, porém um ponte muito curta. E o preço pode ser pouco competitivo com energias renováveis. Por outro lado, vocês tem uma oportunidade de liderança nas indústria do futuro, tais como a energia solar”, afirma.

O analista citou como exemplo plantas de gás que estão fechadas nos EUA. “O problema do gás é que 40% dele é utilizado para geração de energia, logo está competindo com solar e eólica. Nos EUA, estão fechando plantas de gás porque a eólica é mais barata. Isso porque lá o gás é um dos mais baratos do mundo. Na Europa também já estão reduzindo a importação de gás”.

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