BRASÍLIA – Triplicar a capacidade de energias renováveis no mundo até 2030, conforme proposto pela Presidência da COP28, está em conformidade com os 10,5 terawatts (TW) necessários para zero emissões líquidas de carbono, de acordo com a análise da BloombergNEF.
Previsões da BNEF mostram que a produção de energia solar está no caminho certo para 2030, enquanto a energia eólica e o armazenamento exigirão uma ação estruturada para expansão.
A partir da próxima quinta (30/11), líderes globais estarão reunidos em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, para a 28ª Conferência Climática das Nações Unidas (COP28), onde serão negociados caminhos para limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até o final do século.
Entre eles, está a busca por um compromisso coletivo de triplicar a capacidade de energia renovável instalada no mundo, o que significa 11 TW de capacidade de geração de energias renováveis.
Análise publicada esta semana pela BNEF aponta que alcançar a meta, não só é necessário para frear a elevação de temperatura do planeta, como também, é possível. Mas as políticas atuais estão aquém do que é preciso para incentivar as instalações.
Difícil, rápido e realizável
Segundo os analistas, a última vez que a capacidade de produção de energia renovável foi triplicada foi entre 2010 e 2022, ou seja, levou 12 anos. Agora, o prazo ficou menor: o mundo tem oito anos para alavancar a expansão, o que exigirá uma ação conjunta para eliminar os empecilhos em todas as regiões.
Ao mapear as instalações esperadas com base nos atuais desenvolvimentos econômicos, tendências, pipelines de projetos e medidas políticas, a BNEF observa que as previsões estão aquém dos 11 TW, mesmo com eólica e solar já sendo a alternativa mais barata na maioria dos países.
“A energia solar é barata e fácil, e o mundo poderia triplicar a capacidade de energia utilizando apenas a solar. Mas deixar outras energias renováveis para trás não seria bom para as mudanças climáticas”, comenta Jenny Chase, especialista em energia solar da BNEF e co-autora do relatório.
Ela explica que obter a combinação certa de tecnologias é fundamental, porque a geração eólica ocorre em momentos diferentes da solar, tornando as fontes complementares.
“Há também partes do mundo, como o Norte da Europa, com melhores recursos para energia eólica do que recursos para energia solar”, completa.
Rumo ao net zero
O cenário “net zero” da BloombergNEF, que traça um caminho para zero emissões líquidas de carbono até 2050 e mantém o aquecimento global abaixo do 2°C, considera que a energia renovável contribui com 62% para a redução total das emissões até 2030, em comparação com um caminho sem transição.
A eletrificação dos setores de uso final, como a indústria e o transporte rodoviário, contribui com mais 15% da redução total do carbono.
Para estar alinhado com emissões líquidas zero, o compromisso proposto pela COP28 deve remover barreiras para o acesso aos desenvolvedores de energia renovável, possibilitar leilões competitivos e incentivar contratos corporativos de compra de energia elétrica, lista o relatório da empresa de pesquisa.
Além disso, defende que os governos invistam em redes, simplifiquem autorizações de projetos e garantam que os mercados de energia e serviços auxiliares sejam adequados para incentivar um sistema de energia flexível e preparado para utilizar a nova geração.
“As energias renováveis são de baixo custo e o subsídio direto não é mais o que é necessário para acelerar a implantação”, defende Meredith Annex, chefe de energias limpas da BNEF e co-autora do relatório. “Os governos e os reguladores têm uma janela limitada de tempo para ajudar o setor a entrar nos eixos”.
Desafios regionais
As contribuições de países individuais para o objetivo mundial serão diferentes, aponta a BNEF. Para os mercados que adotaram anteriormente as energias renováveis, incluindo China, EUA e Europa, o estudo enxerga que triplicar é o objetivo certo para zero emissões líquidas de carbono.
Mas outros mercados com uma base menor de produção de energia renovável e demanda em crescimento, como Sudeste da Ásia, Oriente Médio e África, precisarão mais do que triplicar a capacidade até 2030.
Nestes mercados, conseguir alavancar a energia renovável barata é mais do que uma questão de transição, significa expandir o acesso a recursos a milhões de pessoas excluídas do sistema energético.
Já no caso de economias como o Brasil, que têm a maior parte de sua energia elétrica proveniente de fontes renováveis ou de baixo carbono, a BNEF vê uma flexibilidade para contribuir menos para a meta mundial.
“No entanto, a integração de recursos adicionais de energia renovável ainda será crucial para descarbonizar ainda mais o setor, as construções, o transporte e a agricultura, e para lidar com os 10-30% de emissões finais do setor de eletricidade”, observa o relatório.