Dia dos Ricos Poluidores

Super-ricos esgotaram limite anual de emissões nos primeiros 10 dias de janeiro

Análise da Oxfam calcula que a metade mais pobre da população levaria quase três anos para atingir o mesmo nível de emissões do 1% mais rico

Iates em Mônaco, país com a maior concentração de super-ricos per capita de todo o mundo (Foto Mike Palmer/Pixabay)
Iates em Mônaco. O país europeu conta com a maior concentração de super-ricos per capita de todo o mundo, com um bilionário a cada 12 mil residentes | Foto Mike Palmer/Pixabay

BRASÍLIA – Análise da Oxfam divulgada nesta sexta (10/1) mostra que o 1% mais rico da população mundial consome sua parcela do orçamento global de carbono – a quantidade máxima de CO2 que pode ser emitida sem ultrapassar o aquecimento de 1,5°C – em apenas 10 dias.

Isto é, os chamados super-ricos esgotaram hoje o seu orçamento de carbono. Em contraste, a metade mais pobre da população levaria quase três anos (1.022 dias) para atingir o mesmo nível de emissões.

O estudo é baseado nas estimativas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma). Para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2100 – limite apontado como seguro pelos cientistas – uma pessoa poderia emitir até 2,1 toneladas de CO2 por ano.

Enquanto o 1% mais rico emite 76 toneladas anuais por pessoa, a metade mais pobre emite apenas 0,7 tonelada, mostra a Oxfam.

Ainda de acordo com a organização que estuda as desigualdades no mundo, os super-ricos, por meio de seus investimentos e consumo extravagante, estão agravando as crises globais de desigualdade, fome e mortalidade. Exemplo disso é que os 50 bilionários mais ricos do mundo emitem mais carbono em 1,5 hora do que uma pessoa média em toda sua vida.

Dia dos Ricos Poluidores

Chamada de “Dia dos Ricos Poluidores”, a data é um alerta sobre como os super-ricos estão impulsionando desproporcionalmente a crise climática. E mostra que seria necessário que este grupo de bilionários reduzisse suas emissões em 97% até 2030.

“O futuro do nosso planeta está por um fio. Apesar da urgência, os super-ricos continuam desperdiçando as chances da humanidade com estilos de vida extravagantes, investimentos poluentes e influência política nociva”, comenta Nafkote Dabi, líder de Política de Mudanças Climáticas da Oxfam Internacional.

“Isso é um roubo puro e simples: uma pequena elite está roubando bilhões de pessoas de seu futuro”, completa.

Prejuízos trilionários

A pesquisa mostra ainda que, desde 1990, as emissões dos super-ricos já causaram – e continuarão causando – trilhões de dólares em danos econômicos, perdas agrícolas extensas e milhões de mortes por calor extremo.

Nos últimos 30 anos, os países de baixa e média-baixa renda sofreram danos econômicos três vezes maiores do que os valores de financiamento climático prometidos pelos países ricos.

Até 2050, as emissões do 1% mais rico podem levar a perdas agrícolas equivalentes ao que seria suficiente para alimentar 10 milhões de pessoas anualmente no Leste e Sul da Ásia.

Além disso, 80% das mortes por calor extremo ocorrerão em países de baixa e média-baixa renda, sendo 40% delas no Sul da Ásia.

Para Dabi, essas distorções são mais uma justificativa para taxar fortunas bilionárias, agenda que vem ganhando espaço nos fóruns econômicos e climáticos internacionais, a exemplo do consenso alcançado no G20, em 2024, sob a presidência brasileira.

“Os governos precisam parar de servir aos interesses dos mais ricos. Esses grandes poluidores devem ser responsabilizados. É hora de taxar, reduzir emissões e proibir excessos como jatos particulares e iates de luxo. Líderes que não agirem estarão escolhendo ser cúmplices dessa crise”, diz a especialista.

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