Com a emergência climática exigindo respostas rápidas e contundentes, o setor elétrico figura como protagonista global da transição energética e, ao mesmo tempo, um dos maiores emissores de gases de efeito estufa (GEE). Em 2023, respondeu por 36% das emissões globais de CO2.
Nesse contexto, a proximidade da COP30, a ser realizada em Belém, coloca o Brasil sob os holofotes, com a vantagem de contar com uma das matrizes elétricas mais limpas do mundo: 90% da eletricidade nacional foi gerada a partir de fontes renováveis em 2023.
É nesse cenário que o Climate Finance Hub Brasil (CFH Brasil) lançou o primeiro volume de sua série de Cadernos Setoriais, avaliando a maturidade da transição climática no setor elétrico brasileiro. O estudo analisou 15 empresas que, juntas, representam 71% da geração de energia no país.
Fundamentado na metodologia internacional ACT (Accelerate Climate Transition) e adaptado à realidade brasileira, o levantamento oferece dados comparáveis e transparentes para orientar investimentos e decisões estratégicas rumo a uma economia de baixo carbono.
Os resultados chamam atenção. O setor elétrico brasileiro obteve desempenho médio de 12,2 pontos, mais que o dobro (2,3 vezes) da média internacional.
Na avaliação qualitativa, recebeu nota “B”, sinalizando coerência entre metas e ações, mas também espaço para maior consistência e transparência. Já a tendência é positiva para 60% das empresas, indicando avanço concreto na transição rumo à descarbonização.
Entre as companhias avaliadas, 60% já operam com matriz 100% renovável. Entre as que mantêm ativos fósseis, apenas uma apresentou desalinhamento de curto prazo com as trajetórias de descarbonização propostas.
Ainda assim, apenas 13% têm metas validadas pelo Science Based Targets initiative (SBTi) e pouco mais de um quarto está em processo de validação, evidenciando que ainda há espaço para amadurecimento institucional e credibilidade frente à comunidade internacional.
O levantamento também aponta que 93% das empresas possuem estruturas formais de governança climática e 60% contam com estratégias estruturadas, integrando metas e prazos aos objetivos de negócio. Do lado da oferta, 53% já fornecem soluções de eficiência energética.
Entretanto, os desafios permanecem: apenas 33% monitoram sistematicamente emissões de suas cadeias de suprimento, o que mostra que o engajamento na cadeia de valor é um ponto-chave a ser fortalecido.
O estudo recomenda maior transparência na divulgação de dados, especialmente sobre investimentos e receitas, além de estratégias mais robustas para reduzir as emissões indiretas (escopo 3). Também reforça a importância de ampliar o engajamento com fornecedores, clientes e compromissos globais.
Embora o Brasil parta de uma vantagem estrutural por sua matriz predominantemente renovável, consolidar uma liderança climática global exige mais: métricas claras de impacto, rotinas consistentes de reporte e maior integração entre estratégia empresarial e políticas públicas.
Com a proximidade da COP30, o país tem diante de si a oportunidade de transformar sua matriz limpa em um diferencial comparativo e competitivo, atrair novos investimentos e assumir protagonismo no debate internacional sobre descarbonização.
Luan Santos é oordenador de Pesquisas do Climate Finance Hub Brasil (CFH Brasil).