BRASÍLIA — O roteiro da transição para longe da dependência dos combustíveis fósseis a ser elaborado pela presidência brasileira da COP30, ao longo dos próximos onze meses, deve ser neutro e buscará contribuições dos produtores de petróleo, sinalizou o embaixador André Corrêa do Lago no encerramento da cúpula em Belém (PA).
A COP30 acabou no último sábado (22/11) com o endosso de 195 países a 29 textos sobre mitigação, adaptação e transição justa, entre outros temas climáticos. Mas nenhum deles conseguiu consenso para incluir explicitamente os mapas do caminho que o governo brasileiro tentou emplacar.
Uma das ideias era transformar em um programa de trabalho, mas o placar ficou dividido, conta Corrêa do Lago.
Diante da falta de acordo, duas iniciativas foram anunciadas com foco nos combustíveis fósseis: a Colômbia sediará, em abril de 2026, a primeira conferência internacional sobre transição justa; e o Brasil irá elaborar o roadmap até a COP31, na Turquia. Ainda não está claro se ambas irão conversar.
“Vamos desenvolver na presidência brasileira um trabalho sobre o que há de mais alta qualidade de análise desse esforço de se afastar dos combustíveis fósseis, que é a fórmula que saiu de Dubai”, disse o presidente da COP30 a jornalistas no sábado.
Segundo Correa do Lago, o trabalho irá começar pelo convite às maiores entidades de energia do mundo para apresentarem seus estudos sobre o tema.
Ele listou as agências internacionais IEA e Irena, além da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), além de agência de biocombustíveis e energia solar entre os exemplos.
“Nós vamos juntar a maior inteligência possível sobre energia fóssil. E organizar essa informação através de reuniões, seminários e estudos que permitam que no curto espaço de tempo da presidência brasileira, a gente consiga fazer um documento muito substantivo, neutro, equilibrado e imparcial”, explicou.
A intenção, segundo o embaixador, é apresentar dados, já que a transição requer uma nova maneira de olhar para a economia.
E mencionou as diferenças entre os países para exemplificar diferentes ritmos de transição.
Brasil já começou o estudo
Segundo Corrêa do Lago, o Brasil já começou esses estudos.
“Nós começamos este estudo com um trabalho que nos mostrou que é possível fazer isso. Mais do que possível, interessantíssimo. Porque o primeiro trabalho que a gente encomendou já nos mostrou o mundo de uma maneira diferente”, disse o presidente da COP30.
O embaixador não disse qual é o estudo, mas a presidência brasileira levou a Belém uma metodologia desenvolvida pela consultoria Catavento, que propõe critérios para orientar o “mapa do caminho” para longe dos combustíveis fósseis.
O modelo reúne 22 indicadores em três dimensões — econômica, energética e climática — para classificar países segundo seu grau de prontidão para a transição.
Nele, a Alemanha aparece ente os países bem preparados — economia diversificada, instituições robustas e dependência moderada de fósseis — capaz de acelerar e liderar a transição.
Em seguida, vêm os movers, que inclui Brasil, Rússia, Noruega e Emirados Árabes Unidos, nações que possuem um papel significativo na indústria de O&G, mas estão investindo em energia limpa e possuem capacidades institucionais e sociais para avançar na transição.
Por fim, o grupo dos adapters, composto por Índia, Arábia Saudita e Nigéria, enfrenta desafios significativos devido à alta dependência dos combustíveis fósseis e às dificuldades econômicas e institucionais para viabilizar a transição.
