Agendas da COP

Países formam coalizão para o desenvolvimento de projetos eólicos offshore

Global Wind Energy Council
Foto: Global Wind Energy Council

Vinte e cinco países assinaram na COP26, em Glasgow, na Escócia, na última sexta (5), um acordo para ampliar os financiamentos para projetos de energias renováveis, como foco especial em eólica offshore.

A coalizão foi viabilizada pelo Global Wind Energy Council (GWEC), que, pela primeira vez, participa com um estande em uma conferência climática das Organizações das Nações Unidas (ONU).

A presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica (ABEEólica), Elbia Gannoum, que participa da conferência, contou que o interesse dos investidores nos projetos de eólica offshore é crescente. A constatação veio de um encontro com cerca de 50 investidores sobre o tema na semana passada. A executiva espera que o Brasil também se torne signatário da coalização em breve.

“Já temos 15 associados na ABEEólica específicos para investimentos offshore, como a Shell, a Equinor e o Grupo Iberdrola”, contou Elbia durante a live Estratégia ESG – De olho na COP26, promovida pela agência epbr e pela Alter Conteúdo na segunda (8).

“E há 46 GW eólicos offshore em licenciamento no Ibama”, completou.

Para destravar esses empreendimentos no litoral brasileiro, os investidores esperam uma sinalização regulatória.

Em Glasgow, durante sua participação na COP26, o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse que o governo pretende publicar um decreto em dezembro, mas não deu maiores detalhes. O ministro disse ainda esperar que o país contrate projetos offshore já a partir de 2022, nos leilões de energia.

Protagonismo dos setores privado e financeiro

Para Roberto Kishinami, coordenador do Instituto Clima e Sociedade (ICS), que também participou da live, a regulamentação das eólicas offshore é bem vinda, seja por decreto ou por meio de projeto de lei, como o proposto pelo senador Jean Paul Prates (PT/RN), que sugere a licitação de blocos offshore para a instalação desses projetos.

Contudo, é preciso que o Estado interfira menos e deixe os setores privado e financeiro agirem mais.

“O que temos é que procurar um sistema governamental e legislativo que não atrapalhe. Daqui para frente, o que vamos ter é cada vez mais o protagonismo do setor privado, do mundo financeiro e, no plano de Estado, de entidades subnacionais, como os fóruns de governadores. Lugares onde se pode ter o melhor do Estado combinando com a necessidade de mais energia e mais atividade econômica”, sentencia.

Kishinami aponta que o Brasil ainda continua tendo uma visão distorcida da agenda climática, apostando no fato de que a matriz elétrica do país já é uma das mais limpas do mundo.

Isso, para ele, ao invés de ser um ponto de acomodação, tem que funcionar como um estímulo ainda maior para a busca de novas soluções de mitigação dos impactos ambientais.

“O fato de o Brasil ter uma matriz elétrica limpa não nos exime de traçar estratégias para o futuro”, diz.

O especialista cita um estudo financiado pela GIZ que mostra ser possível aumentar significativamente a presença de renováveis na matriz.

“Isso tinha de ser um guia. A matriz elétrica é fundamental para eletrificar a economia. Geração de riqueza, empregos, novas atividades, futuro para as novas gerações depende uma matriz elétrica limpa, com destaque para a eólica”.

Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Sitawi, Fernando Malta ressalta que o Brasil vive um descompasso entre o que promete fazer para combater as mudanças climáticas e o que efetivamente faz para o tema.

O executivo é crítico em relação aos anúncios feitos pelo governo brasileiro durante a COP26 envolvendo o combate ao desmatamento, a redução das emissões de metano e a antecipação das metas de redução de emissões e de ampliação das renováveis na matriz elétrica.

“Estamos comemorando o fato de termos feito nada mais do que a nossa obrigação. A mudança do governo brasileiro foi ter voltado a um diálogo que já travávamos nas duas últimas décadas”, comenta.

Para ele, o ponto principal é como implementar os compromissos no país. “Um dos motores para essa alteração do governo foi a pressão da sociedade civil, que em massa tem falado sobre isso antes da COP26. A sociedade civil brasileira está falando em sintonia com a sociedade global.”

Durante a live, Malta lembrou que um quarto dos mais de R$ 14 bilhões emitidos em títulos verdes por empresas do país são oriundos de projetos de energias renováveis, notadamente eólica e solar.

A expectativa é que a incorporação do risco climático pelo setor bancário nacional a partir de 2022, como determinado pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), seja mais uma virada de chave na ampliação dos investimentos nesse segmento.

“A partir de 2022 o setor bancário nacional vai ter de se adaptar e incorporar o risco climático na política de responsabilidade socioambiental dos bancos. Vai se tornar política de responsabilidade socioambiental e climática. Já é um primeiro passo maravilhoso, e algo que faz com que o setor bancário brasileiro saia na frente de outros países”.