A ciência tem sido clara: não há caminho para o net zero que dependa de uma única solução. Mais uma COP se aproxima e, com ela, o lembrete de que as promessas feitas na arena internacional precisam se traduzir em ações concretas e em escala.
Apesar de avanços em políticas públicas e investimentos, o mundo segue distante das metas do Acordo de Paris, que busca limitar o aquecimento a 1,5 °C.
A neutralidade de carbono até 2050 continua sendo um desafio global de enormes proporções.
O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas da ONU (IPCC) indica que precisamos reduzir 43% das emissões globais até 2030 e chegar às emissões líquidas zero até 2050.
Mesmo com reduções expressivas, entre 10% e 20% das emissões não poderão ser evitadas — algo entre 5 e 10 bilhões de toneladas de CO₂ por ano.
Essas emissões vêm de atividades particularmente difíceis de reduzir, como a agricultura, o transporte e certos processos industriais. Para compensar esse volume, será necessário remover carbono da atmosfera na mesma escala.
Atualmente, segundo o relatório The State of Carbon Dioxide Removal, já removemos cerca de 2 bilhões de toneladas de CO₂ por ano, principalmente por meio de reflorestamento e manejo de solo.
Mas esse número precisa crescer de forma acelerada: em 2050, a escala necessária pode variar entre 5 e 16 bilhões de toneladas anuais, dependendo do quanto conseguirmos reduzir emissões remanescentes.
É nesse ponto que entram as soluções de Remoção de Carbono (CDR). Elas se dividem em Soluções Baseadas na Natureza (NBS) — como reflorestamento, restauração de ecossistemas e práticas agrícolas sustentáveis — e Soluções Baseadas em Tecnologia (TBS), em grande parte fundamentadas na Captura e Armazenamento de CO₂ (CCS).
Enquanto as NBS têm custos relativamente baixos e benefícios adicionais para biodiversidade e recursos hídricos, também enfrentam limitações de área disponível, riscos de reversão (como incêndios e desmatamento) e prazos longos até que as remoções sejam consolidadas.
Já as TBS, como BECCS e DACCS, oferecem maior permanência no armazenamento do carbono, mas apresentam custos mais elevados que as soluções baseadas na natureza e dependem da disponibilidade de geologia adequada para garantir locais de armazenamento seguro em larga escala.
O papel do CCS é particularmente relevante quando associado à bioenergia (BECCS) ou à captura direta do ar (DACCS). Nessas configurações, não apenas se evitam novas emissões, mas também se remove carbono já acumulado na atmosfera.
Os cenários do IPCC estimam que, até o fim do século, será necessário remover 609 bilhões de toneladas de CO₂ para limitar o aquecimento a 2°C. Mais da metade viria de BECCS (54%), seguida por Agricultura, Florestas e Outros Usos da Terra (41%) e por DACCS (5%).
Essas projeções mostram que nenhuma rota, isoladamente, conseguirá entregar o necessário. Cada solução tem limites físicos, econômicos e de permanência.
A ciência reforça que a resposta deve ser combinada: só a integração entre NBS e TBS permitirá escalar as remoções dentro de um equilíbrio realista entre custo, durabilidade e disponibilidade de recursos.
O Brasil, com sua diversidade de biomas, tradição em bioenergia e potencial geológico para armazenamento de CO₂, é exemplo de país onde essa complementaridade pode ser explorada em escala. Mas a mensagem vale para todos: não há atalhos.
Mais do que nunca, é hora de reconhecer que CCS e Soluções Baseadas na Natureza não competem entre si — caminham lado a lado.
O recado da ciência é inequívoco: o net zero só será alcançado se apostarmos em uma visão pragmática e integrada, capaz de unir esforços, respeitar as realidades locais e regionais, e valorizar as comunidades e ecossistemas envolvidos.
Nathalia Weber e Isabela Morbach são cofundadoras da CCS Brasil