LYON (FR) — Pelo menos um ano entre 2025 e 2029 tem 86% de chance de ultrapassar 1,5°C acima dos níveis pré-industriais (1850 a 1900), segundo relatório (.pdf) da Organização Meteorológica Mundial (WMO, na sigla em inglês).
A média anual da temperatura global próxima à superfície será, para cada ano entre 2025 e 2029, entre 1,2°C e 1,9°C mais alta do que a média registrada nos anos pré-industriais (antes dos combustíveis fósseis abastecerem a economia).
Com isso, há 80% de chance de que pelo menos um ano nesse período tenha temperaturas mais altas do que 2024, o ano mais quente já registrado, quando a agência da ONU estimou temperatura média 1,55°C mais alta que os níveis pré-industriais.
Por que superar 1,5°C é um problema?
O principal objetivo do Acordo de Paris, tratado climático internacional de 2015, é “manter o aumento da temperatura média global bem abaixo de 2°C em relação aos níveis pré-industriais, e fazer esforços para limitá-lo a 1,5°C”.
Segundo a WMO, ultrapassagens temporárias desses níveis são esperadas conforme o aumento da temperatura global se aproxima deles.
O aquecimento provoca eventos como ondas de calor prejudiciais, chuvas extremas, secas intensas, derretimento de calotas polares, gelo do mar e geleiras, aquecimento dos oceanos e aumento do nível do mar.
Esta semana, por exemplo, o derretimento de uma geleira nos Alpes suíços soterrou 90% do vilarejo de Blatten, com um misto de gelo lama e rocha. Enquanto do outro lado do Atlântico, mais de 17 mil pessoas precisaram ser evacuadas na província canadense de Manitoba, depois que a região sofreu seu pior início de temporada de incêndios florestais nos últimos anos.
De acordo com a comunidade científica, o aquecimento acima de 1,5°C pode desencadear impactos climáticos extremos como esses em uma frequência cada vez maior.
“Acabamos de vivenciar os dez anos mais quentes já registrados. Infelizmente, este relatório da WMO não mostra nenhum sinal de alívio para os próximos anos, o que significa que haverá um impacto negativo crescente sobre nossas economias, nossas vidas diárias, nossos ecossistemas e nosso planeta”, comenta a vice-secretária-geral da WMO, Ko Barrett.
“O monitoramento e a previsão contínuos do clima são essenciais para fornecer aos tomadores de decisão ferramentas e informações baseadas na ciência para nos ajudar a nos adaptar”, aponta.
Os dados chegam em um momento em que o mundo se prepara para discutir suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) ao Acordo de Paris, na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30) marcada em novembro deste ano, em Belém (PA).
Presidente da conferência, o Brasil divulgou suas metas para redução de 67% das emissões de gases de efeito estufa (GEE) até 2035, mas ainda não detalhou como pretende cumpri-las.