Glasgow – Conforme a conferência do clima de Glasgow vai chegando ao fim, as negociações para o texto final do acordo que precisará ser assinado por quase 200 nações se intensificam.
Na manhã desta quarta (10), as Nações Unidas divulgaram o esboço do documento final (.pdf), que ainda deverá sofrer diversos ajustes nos próximos dias.
A primeira reação de especialistas foi de que o texto oferece avanços significativos ao Acordo de Paris em relação a questões relativas à mitigação climática, mas ainda aquém das necessidades para lidar com a crise climática.
O documento inclui novos prazos para que países retornem com novas NDCs, mais ambiciosas, até 2022 e 2023, de forma que estejam alinhadas com a manutenção da meta de 1.5C.
Estabelece que os 196 melhorem suas NDCs em 2023 e que todos os países submetam metas e planos para se tornarem net-zero até 2022, em conformidade ao estabelecido no Acordo de Paris.
Menção aos combustíveis fósseis
Uma das principais novidades trazidas pelo texto é a menção à extinção do uso de carvão e fim dos subsídios a combustíveis fósseis, tópico excluídos do primeiro rascunho do acordo.
“Chamamos as partes a acelerar o fim do uso de carvão e subsídios para combustíveis fósseis”, diz o novo esboço.
Mesmo sem trazer metas específicas, o parágrafo relativo a combustíveis fósseis deverá sofrer forte rejeição de países dependentes da produção de óleo e gás, como Arábia Saudita, acreditam especialistas.
Sem meta para tirar financiamento do papel
Sobre o setor financeiro, o texto acolhe o a meta de financiamento de US$100 bilhões para países em desenvolvimento, mas não traz nenhuma pressão para a aceleração de financiamento.
Especialistas acreditam não ser suficiente enfatizar a urgência de que países desenvolvidos compareçam com mais recursos. “Financiamento climático até agora tem falhado com os países em desenvolvimento,” disse uma especialista.
A questão de reparação de perdas e danos devido à mudança climática é reconhecida pelo texto, mas especificidades nem detalhes de facilitação a esses recursos, o que tem sido constante crítica de países pequenos.
No entanto, apesar de o texto ser específico em relação à redução de emissões de gases de efeito estufa, ainda permanece muito vago no que se refere a finanças, adaptação e perdas e danos.
Alden Meyer, consultor sênior da think tank europeia E3G, disse que este não é um rascunho para a solução climática. Ele considera um absurdo o mundo permanecer até hoje fornecendo subsídios para a produção de combustíveis fósseis e considerou que a meta de 1.5C está viva “por muito pouco,” de acordo com briefing sobre o texto a jornalistas de todo o mundo.
Jennifer Morgan, diretora executiva do Greenpeace, concorda que o texto publicado nesta quarta-feira “não é um plano para resolver a crise climática,” de acordo com publicação em seu Twitter.
“Este é um acordo que nós vamos todos cruzar os dedos e esperar pelo melhor. É um pedido educado para que países talvez, possivelmente, façam mais no próximo ano. Isto não é suficiente,” acredita.
Ela defendeu que negociadores não deveriam nem cogitar sair de Glasgow sem um acordo que faça jus ao momento, e não é o que foi visto no documento atual.