A economista Elbia Gannoum, presidente da Associação Brasileira de Energia Eólica e Novas Tecnologias (Abeeólica), será a enviada especial para energia na 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP30), que será realizada em Belém, no Pará, em novembro.
A informação foi confirmada pela própria executiva, nesta terça (6/5), durante evento promovido pelos Países Baixos e a Abeeólica no Rio de Janeiro. Procurada, a COP30 disse que as informações sobre os enviados especiais serão divulgadas nos próximos dias.
“Fui convidada pela Presidência da República em nome do presidente da COP, o embaixador André Corrêa do Lago, para assumir a posição de enviada especial do governo na área de energia para COP30”, disse Gannoum, que também é vice-presidente do Conselho Global de Energia Eólica (GWEC).
“Serei a pessoa responsável pela temática de energia, para fazer a relação do governo, do setor público com o setor privado, engajamento do setor privado, dos investidores para a temática de energia. É uma grande honra e também uma grande responsabilidade”, afirmou a executiva.
Ela informou que irá se reunir com o embaixador nos próximos dias.
“Tenho muito mais trabalho pela frente, mas aceito com muita alegria esse tipo de responsabilidade. Vamos ter, muito em breve, a primeira reunião com o embaixador para definir melhor como vai ser nosso trabalho. Vamos ter uma missão muito importante para levar o tema da energia na COP — e é claro que o tema da eólica offshore também”.
Segundo o jornal Estadão, além de Gannoum, o governo brasileiro já teria escolhido outros dois representantes para atuar como enviados especiais em áreas estratégicas da COP30.
Para a Amazônia, o escolhido é Denis Minev, CEO do Grupo Bemol — que controla uma importante rede varejista com atuação na Região Norte. Já a representação do setor privado ficaria a cargo de Marina Grossi, presidente do Conselho Empresarial Brasileiro para o Desenvolvimento Sustentável (CEBDS), que defende que o Brasil aposte na energia limpa.
Neoindustrialização, eólicas offshore e petróleo
A nomeação da presidente da Abeeólica é um indicativo de como o tema energético será abordado na pauta climática brasileira.
Com doutorado em políticas públicas e longa trajetória no setor elétrico, Gannoum tem liderado discussões sobre transição energética, neoindustrialização verde e, mais recentemente, sobre o papel do Brasil no desenvolvimento do hidrogênio verde e da eólica offshore.
Além disso, a Abeeólica, sob a sua presidência, agregou como associados companhias do setor de óleo e gás, como Equinor, Shell, TotalEnergies e Eneva, e se aproximou do Instituto Brasileiro de Petróleo e Gás (IBP), olhando para o desenvolvimento da indústria de eólica offshore.
Nesta COP30, um dos maiores desafios do Brasil será enfrentar o dilema entre exploração de petróleo e liderança climática.
Embora o Brasil seja referência em energias renováveis, seu interesse na exploração de novas fronteiras petrolíferas — como a Foz do Amazonas — levanta dúvidas entre organizações ambientais sobre como o país vai equilibrar suas credenciais climáticas para cobrar de países ricos recursos no financiamento da sua transição energética.
Petróleo na COP30
O IBP vai defender a continuidade da exploração e produção de óleo no Brasil, baseado em um estudo feito em parceria com a consultoria Catavento e o Instituto Clima e Sociedade (iCS).
A análise propõe uma abordagem multicritério para avaliar a continuidade da exploração de petróleo e gás no cenário de transição energética e sugere que o abandono das atividades de extração não deve ser guiado apenas pela renda dos países, mas sim por fatores como competitividade de custo, pegada de carbono e segurança energética.
A tese central é que o petróleo brasileiro, por ser de alta qualidade, com baixo teor de enxofre e baixas emissões de CO2, deve permanecer como uma opção viável, segura e estratégica na transição energética global.
A defesa ocorre em meio às discussões sobre a necessidade de exploração de novas fronteiras petrolíferas pelo Brasil, embaladas pela Margem Equatorial, que inclui a Foz do Amazonas.
O IBP também reforça o interesse de suas associadas no desenvolvimento de energia eólica offshore.
A expectativa da associação é que o primeiro leilão para cessão de áreas destinadas a esse tipo de energia ocorra ainda este ano.