BRASÍLIA — O número de lobistas de combustíveis fósseis bateu recorde na 27ª Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas (COP27). Segundo o relatório da organização Global Witness, no evento foram identificados 636 representantes das indústrias de petróleo, gás e carvão, 25% a mais em comparação à edição anterior, que teve 503 participantes do setor de energias fósseis.
Lançado na última semana, o documento elaborado em parceria com a Corporate Accountability e a Corporate Europe Observatory analisou a lista de 30 mil credenciados na cúpula do clima deste ano.
Ao todo, 29 países levaram 200 lobistas de combustíveis fósseis como parte das delegações oficiais. O volume não inclui representantes da indústria financeira, do agronegócio ou petroquímica.
Os lobistas dos empreendimentos de gás, petróleo e carvão correspondem ao dobro do eleitorado oficial da Organização das Nações Unidas (ONU) para os povos indígenas, por exemplo.
Também foi constatado que há mais lobistas de combustíveis fósseis cadastrados do que as delegações nacionais do continente africano, ainda que o evento esteja sendo realizado em Sharm el-Sheikh, no Egito.
O mesmo acontece com as delegações dos dez países mais afetados pelas mudanças climáticas como Porto Rico, Mianmar, Haiti, Filipinas, Moçambique, Bahamas, Bangladesh, Paquistão, Tailândia e Nepal, segundo dados da GermanWatch.
Difícil é largar o fóssil
Os Emirados Árabes Unidos, sede da COP28 no ano que vem, possuem o maior grupo de associados aos interesses das corporações de fósseis. Dos 1.070 delegados do país, 70 foram classificados como lobistas de combustíveis considerados ‘sujos’ pela pesquisa.
A Rússia é a segunda maior nação com participação dessa indústria, com 33 delegados no total. Mais de um em cada cinco dos 150 delegados russos são representantes de combustíveis fósseis.
A presença dos lobistas é contraditória, visto que a conferência discute os caminhos para uma transição energética limpa, com redução das emissões de gases do efeito estufa (GEE) provenientes de energias fósseis.
De um lado, sua participação faz sentido, já que precisará aderir aos esforços de descarbonização e encontrar caminhos para continuar viva. De outro, ambientalistas temem que os interesses corporativos influenciem os resultados das negociações climáticas.
A campanha Kick Big Polluters Out (expulse os grandes poluidores, em inglês), por exemplo, faz um apelo para que as autoridades restrinjam os representantes das indústrias de petróleo e gás na COP27. A ação tem apoio de mais de 450 instituições.
“Precisamos de tomadores de decisão para ouvir as pessoas, pedindo uma transição equitativa, justa e rápida, não os poluidores negando, atrasando e distraindo. Precisamos expulsá-los”, reforça o documento.
Reveja nossa conversa nos Diálogos da COP27 sobre o papel da energia na transição energética e no combate às mudanças climáticas. O jornalista Gabriel Chiappini, da agência epbr, conversou com Luna Viana (Origem), Luiz Carlos Ciocchi (ONS), Eduardo Kantz (Prumo Logística) e Edmar de Almeida (PUC-Rio e Galp).