Agendas da COP

COP28 aprova transição para longe dos fósseis no mesmo dia em que Brasil amplia exploração

Ministra Marina Silva diz que Brasil deve avaliar conveniência de novas fronteiras de exploração de petróleo a partir do que foi decidido na cúpula climática

COP28 aprova transição para longe dos combustíveis fósseis no mesmo dia em que Brasil amplia exploração de petróleo e gás. Na imagem: Presidente da COP28, Sultan Al Jaber, bate o martelo durante a plenária de encerramento da cúpula em Dubai, em 13/12/2023 (Foto: Christopher Pike/UNFCCC)
O presidente da COP28, Sultan Al Jaber, durante a plenária de encerramento da cúpula em Dubai (Foto: Christopher Pike/UNFCCC)

BRASÍLIA – A 28° Conferência das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (COP28) chegou ao fim nesta quarta (13/12), com um dia de atraso, convocando os países a uma “transição para longe dos combustíveis fósseis nos sistemas de energia, de maneira justa, ordenada e equitativa, acelerando ações nesta década crucial, a fim de atingir emissões líquidas zero até 2050, em conformidade com a ciência”.

A COP que se temia ser dominada pela agenda do petróleo foi a primeira a conseguir algum avanço em relação ao apelo para a transição de óleo, gás e carvão em direção a fontes com menor impacto sobre o clima global.

Como alternativa à menção sobre eliminação gradual (phase out, em inglês), o novo texto propôs a transição dos combustíveis fósseis (transitioning away from, no termo em inglês).

É menos ambicioso do que eliminar, mas um pouco mais incisivo do que a versão divulgada na segunda (11).

“Estabeleceu-se aqui uma transição para o fim do uso de combustíveis fósseis. Isso é algo que precisa ser devidamente alinhado à ideia de uma transição justa”, comentou a ministra brasileira de Meio Ambiente e Mudança do Clima, Marina Silva.

Em coletiva de encerramento da COP28, Marina disse que o Brasil trabalhou até o último minuto para que ficasse claro que os países ricos deveriam tomar a dianteira nesse processo.

Leilão de petróleo

No mesmo dia em que celebrou a “transição para longe dos combustíveis fósseis”, o Brasil oferta cinco blocos para exploração de petróleo no leilão de partilha do pré-sal.

O certame é questionado na Justiça pela organização ambiental Arayara, que acionou judicialmente os órgãos públicos envolvidos, pedindo a retirada dos blocos em sobreposição e em área de influência direta de territórios quilombolas, indígenas, unidades de conservação e impedir o impacto climático da oferta permanente de concessão que está em seu 4º ciclo.

Em Dubai, Marina chamou a realização do leilão logo após a conferência climática de uma coincidência, após ser questionada se não seria uma contradição, e disse que o debate sobre a conveniência de exploração de petróleo está sendo feito “a partir de agora”.

“A questão de oportunidade e conveniência da exploração de petróleo não só para o Brasil, mas tanto na relação com todos os produtores e consumidores é o debate que está sendo feito a partir de agora. Setor público e setor privado terão que traduzir o compromisso que assumimos aqui em suas ações e planejamentos”.

Outro movimento brasileiro em direção à expansão dos combustíveis fósseis, a decisão sobre exploração de óleo na Margem Equatorial, em especial na Foz do Amazonas, deve ser discutida no Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), defendeu a ministra.

“Em relação ao debate sobre abrir novas frentes de exploração de petróleo, é um debate que precisa ser feito dentro do CNPE que considerará o que aqui foi aprovado em relação a uma trajetória que nos leve a retirar a nossa dependência – de todas as economias do mundo – do uso de combustível fóssil. É uma ação que deve ser pensada no contexto de países produtores e de países consumidores”.

Balanço da COP

A COP8 começou em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, há duas semanas sob forte pressão para incluir a “eliminação de combustíveis fósseis” no documento final, o Global Stocktake (GST).

GST é um balanço do que foi feito desde o Acordo de Paris até agora para frear o aquecimento do planeta. O texto aprovado pela COP28 reconhece a insuficiência das ações e indica o que deve ser feito para ser suficiente.

Um dos pontos celebrados entre os negociadores e observadores é o alinhamento com 1,5°C até 2100 – limite defendido por cientistas.

As próximas COPs, em 2024 no Azerbaijão, e em 2025 no Brasil, deverão indicar os caminhos para fazer essa transição, avalia a ministra brasileira.

A COP29 será focada na definição dos meios de implementação do que foi indicado no GST, o que deverá ser refletido nas atualizações das NDCs (contribuições climáticas definidas individualmente por cada país) a serem apresentadas na COP30.

“Ainda não temos clareza sobre a tradução de uma transição justa, onde países desenvolvidos, na lógica do princípio das responsabilidades comuns porém diferenciadas, tomam a dianteira. Mas consideramos que temos aqui as bases para fazer avançar algo que há 31 anos não estava colocado na devida dimensão”, comentou Marina Silva na coletiva.