Todo fim de ano, quando se aproxima mais uma Conferência do Clima da ONU, a COP, lembro de uma história que meu avô contava. Ele dizia que, quando criança, esperava ansiosamente a chegada do circo em sua cidade. Era o grande evento do ano. Mas ele aprendeu que havia dois tipos de espetáculo.
No primeiro, o palhaço era a estrela. Chegava com maquiagem improvisada, piadas repetidas e gestos exagerados. Dominava o palco por duas semanas, roubava os holofotes, mas sem apresentar algo realmente novo.
Seu interesse parecia estar mais na própria visibilidade do que na construção de algo memorável. Quando o circo ia embora, deixava pouco além da poeira e da sensação de déjà vu.
O segundo circo, o que meu avô mais gostava, era diferente. O palhaço não era protagonista, mas mestre de cerimônias. Com inteligência e sutileza, conduzia a narrativa e dava espaço para que cada artista brilhasse.
Havia acrobatas que, com formações diversas e habilidades complementares, executavam números coletivos de tirar o fôlego. Era um espetáculo pensado, ensaiado o ano inteiro, ouvindo o público e respeitando sua expectativa. Aquilo não era vaidade, era compromisso.
Às vésperas da COP30, que será na Amazônia e no Brasil e não é COP do Brasil ou da Amazônia, essa lembrança ganha força. Porque, convenhamos, temos visto muitos líderes assumindo o papel de palhaços do primeiro circo.
Com discursos reciclados, compromissos que se repetem, metas pouco ambiciosas e um show pirotécnico que dura apenas enquanto os holofotes estão acesos. Passado o evento, as promessas evaporam com a mesma rapidez com que foram feitas.
Mas ainda há tempo de optar pelo segundo espetáculo. Um em que os líderes não são protagonistas vaidosos, mas mestres de cerimônia conscientes de seu papel.
Em que governos, empresas, academia e sociedade civil se unem como os acrobatas do circo do meu avô — com coragem, técnica e cooperação — para enfrentar o desafio coletivo das mudanças climáticas.
Porque a crise climática não se resolve com atos individuais isolados. Ela exige coordenação, planejamento, metas ambiciosas e ações estruturadas que ultrapassem o evento da vez. E isso só será possível se tratarmos a COP como o que ela deve ser: um fórum sério, com foco, relevância e resiliência.
A ministra Marina Silva (Rede) tem sido enfática ao afirmar que a COP não pode ser uma festa. Concordo. Não é lugar para entretenimento nem celebração. É, sobretudo, um espaço para negociação, escuta ativa e construção de soluções globais.
É ali que devemos reafirmar o multilateralismo como ferramenta essencial para preservar as florestas, a biodiversidade e, em última instância, a própria sobrevivência da humanidade e das demais espécies com quem dividimos o planeta.
O circo está chegando. Mas, desta vez, que tal fazermos um espetáculo digno da urgência do nosso tempo?
Este artigo expressa exclusivamente a posição do autor e não necessariamente da instituição para a qual trabalha ou está vinculado.
Jonathan Colombo é engenheiro elétrico e professor do MBA em ESG de Mudanças Climáticas e Transição Energética da FGV. Também atua como consultor para o desenvolvimento sustentável e mentor de startups alinhadas a modelos de negócio e práticas ESG.