BRASÍLIA — O diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme, confirmou nesta terça (14/10) a apresentação formal de uma proposta de compromisso para elevar quatro vezes, a nível global, a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
O documento foi apresentado na reunião preparatória para a COP30, a pré-COP, que ocorre em Brasília (DF) esta semana.
A iniciativa é encabeçada por Brasil, Japão, Itália e Índia. Segundo Leme, alguns países europeus manifestaram interesse, mas ainda não aderiram formalmente. A intenção é mobilizar adesões até a COP30, marcada para novembro, em Belém (PA).
“A primeira reunião de apresentação do relatório, aqui em Brasília, na pré-COP, já teve uma boa receptividade e a ideia é que, de agora até o período de Belém, isso possa ganhar mais tração”, disse o embaixador a jornalistas.
“Nós vamos nos reunir com outros países para trazer tantos quanto possível para apoiar essa iniciativa”.
Em setembro, um grupo de 34 países co-liderados por Brasil e Japão divulgou a intenção de quadruplicar a produção de etanol, biodiesel, biometano, SAF (aviação), metanol e amônia (navios), entre outros, para acelerar a descarbonização dos transportes.
Um tema recorrente na agenda do governo brasileiro quando presidiu o G20 em 2024, que também promete marcar presença na cúpula climática das Nações Unidas este ano.
Na segunda, durante a sessão de abertura da pré-COP, o presidente em exercício e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Geraldo Alckmin (PSB), disse que o Brasil já tem resultados concretos para a transição energética, listando iniciativas para promover a bioenergia.
“Na COP28, houve o compromisso de triplicar as renováveis e dobrar a eficiência energética e agora nós temos uma possibilidade de quadruplicar o uso de combustíveis sustentáveis”, explicou o diretor do Itamaraty.
“Esperamos ter um bom número de adesões para que, no processo de descarbonização dos sistemas energéticos, os combustíveis sustentáveis também tenham um papel relevante em complementação à eletrificação e a outras tecnologias que já estão adiantadas”.
Ainda de acordo com Leme, a ideia é que o compromisso seja um documento adotado em nível político, na cúpula de líderes.
“E como isso vai influenciar os trabalhos da COP? Pode ser pela via da Agenda de Ação, pode gerar um documento de consenso, mas nós estamos menos preocupados com o documento formal que a COP venha a gerar na negociação em torno dessa iniciativa, porque isso, na verdade, responde a coisas que já foram decididas anteriormente”.
Ele cita como exemplos os setores de aviação e navegação, onde a substituição de combustíveis fósseis é mais desafiadora e será preciso avançar com a oferta de biocombustíveis e eletrocombustíveis para descarbonizar.
“O que nós estamos falando aqui, para setores em que essas energias [elétrica renováveis] não são aplicáveis, pelo menos no curto e médio prazo, precisamos tentar substituir as fontes fósseis com alguma outra coisa, que são os combustíveis sustentáveis de diferentes tipos”.
Biocombustíveis na transição
De acordo com um documento da indústria, atingir emissões líquidas zero de gases de efeito estufa (GEE) exigirá combustíveis de baixo carbono para satisfazer aproximadamente 20% do consumo energético final global até 2050.
Isso requer um aumento substancial na oferta e demanda de combustíveis sustentáveis em todos os setores.
Apesar de a indústria estar registrando recordes de crescimento, a produção e utilização ainda está abaixo do potencial e fora da rota zero líquido.
Por isso a iniciativa para aumentar a produção e o uso de combustíveis sustentáveis até 2035.
“Dependendo da tecnologia, algumas são de implantação mais rápida, outras são mais demoradas. Mas, somando as diferentes rotas, podemos até 2035, com base em números de 2024, ter uma multiplicação significativa dessas soluções e, com isso, ajudar a descarbonização e os países a alcançarem as suas metas”, explica Leme.