BRASÍLIA — O clima extremo atingiu novos patamares perigosos em 2024, com as mudanças climáticas adicionando em média 41 dias de calor extremo, de acordo com relatório da World Weather Attribution (WWA) e da Climate Central divulgado nesta sexta (27).
O grupo de cientistas alerta que o ano excepcional de clima extremo já demonstra os riscos com 1,3°C de aquecimento induzido pela humanidade, e destaca a urgência de afastar as economias dos combustíveis fósseis o mais rápido possível.
“Uma mudança rápida para a energia renovável ajudará a tornar o mundo um lugar mais seguro, saudável, rico e estável”, defende a WWA.
“As temperaturas recordes deste ano alimentaram ondas de calor implacáveis, secas, incêndios florestais, tempestades e inundações que mataram milhares de pessoas e forçaram milhões a deixarem suas casas”, diz o relatório.
Segundo o levantamento, as mudanças climáticas contribuíram para a morte de pelo menos 3,7 mil pessoas e o deslocamento de milhões em 26 eventos climáticos estudados em 2024.
Ao todo, 219 eventos atenderam aos critérios de gatilho da WWA, usados para identificar os eventos climáticos mais impactantes.
Aqui no Brasil, a floresta amazônica e o Pantanal sentiram os impactos das mudanças climáticas em 2024 na forma de secas severas e incêndios florestais, levando a uma enorme perda de biodiversidade.
“É provável que o número total de pessoas mortas em eventos climáticos extremos intensificados pelas mudanças climáticas este ano esteja na casa das dezenas ou centenas de milhares”, pontua.
Países em desenvolvimento são os mais afetados
Uma análise da Climate Central identificou que os países que experimentaram o maior número de dias de calor perigoso são predominantemente pequenos estados insulares e em desenvolvimento, que são altamente vulneráveis e considerados na linha de frente das mudanças climáticas.
Além disso, análise destaca que os impactos de longo alcance do calor extremo são subnotificados e pouco estudados.
“Muitos eventos extremos que ocorreram no início de 2024 foram influenciados pelo El Niño. No entanto, a maioria dos nossos estudos descobriu que a mudança climática desempenhou um papel maior do que o El Niño em alimentar esses eventos, incluindo a seca histórica na Amazônia. Isso é consistente com o fato de que, à medida que o planeta se aquece, a influência da mudança climática cada vez mais anula outros fenômenos naturais que afetam o clima”, explica.
Recorde de chuvas
Temperaturas globais recordes em 2024 se traduziram em chuvas recordes, com os últimos 12 meses marcados por um grande número de inundações devastadoras.
Das 16 inundações estudadas, 15 foram causadas por chuvas amplificadas pelas mudanças climáticas.
“O resultado reflete a física básica das mudanças climáticas — uma atmosfera mais quente tende a reter mais umidade, levando a chuvas mais pesadas. Deficiências nos planos de alerta precoce e evacuação provavelmente contribuíram para um grande número de mortes, enquanto as inundações no Sudão e no Brasil destacaram a importância de manter e atualizar as defesas contra inundações”, explicam.
Mares quentes e ar mais quente alimentaram tempestades mais destrutivas, incluindo o furacão Helene e o tufão Gaemi. Estudos de atribuição individuais também indicam que essas tempestades têm ventos mais fortes e estão deixando cair mais chuva.
A pesquisa da Climate Central descobriu que as mudanças climáticas aumentaram a intensidade da maioria dos furacões do Atlântico entre 2019 e 2023 – dos 38 furacões analisados, 30 tiveram velocidades de vento que eram uma categoria mais altas na escala Saffir-Simpson do que teriam sido sem o aquecimento causado pelo aumento de emissões de CO2.