A Petrobras e a norueguesa Equinor estão estudando projetos de energia eólica offshore no Brasil. As duas empresas assinaram mês passado um memorando de entendimentos que prevê aproveitar o potencial dos ventos em alto mar. O acordo entre as duas empresas foi assinado no último dia 26, durante a Rio Oil & Gas.
Pouco mais de um mês antes, a também norueguesa Aker Soltions apresentou – junto com seus parceiros, entre eles a Principle Power, um pedido de arrendamento para desenvolver o primeiro projeto em escala comercial de eólica offshore nos EUA, que terá capacidade para 150 MW e será instalado a 30 km da costa de Eureka, na Califórnia.
No Brasil, temos atualmente três projetos de eólicas offshore em licenciamento no Ibama. O órgão ambiental está criando uma agenda regulatória para o licenciamento de projetos de eólica offshore no país. A ideia é fazer frente a percepção de aumento de demanda por projetos do tipo que já é sentida pelo órgão ambiental.
Para falar sobre o engajamento das duas empresas na transição energética, a epbr recebeu no Rio Oil & Gas Studio, uma parceria com o IBP, a vice-presidente da Equinor no Brasil, Verônica Coelho, e o CEO da Aker Solutions, Luis Araújo.
epbr: A transição energética já é uma realidade sem retorno. A sociedade está mudando. As empresas precisam mudar junto. Como vocês estão vendo esse movimento?
Verônica Coelho: A Equinor tem uma visão bastante sólida em relação ao processo de transição energética. Acreditamos que é importante construir uma economia que seja mais equilibrada, com energia de maneira mais sustentável para a sociedade. E queremos participar desse processo de transição, liderando esse processo. Temos um respeito muito grande pelo Acordo de Paris. É possível, viável, mas é um desafio muito grande.
Nós vemos que a geração de energia renovável será uma parte muito importante nessa transição. Queremos ter um papel de liderança. A gente acredita que gerar renovável é viável, mas ela tem que ser viável do ponto de vista tanto sustentável quanto do ponto de vista econômico e financeiro. E isso é possível.
Para isso estamos investindo pesadamente para fazer os projetos mais eficientes, para que sejam lucrativos e sustentáveis no longo prazo. Temos visto um desenvolvimento muito interessante nos nossos projetos de eólica offshore, que é onde nós temos maior experiência no Mar do Norte, gerando energia para mais de 650 mil famílias no Reino Unido e com um projeto nos Estados Unidos também.
Aqui no Brasil, começamos com um projeto bem inovador para Equinor, que é um projeto de geração de energia a partir de fonte solar. Temos uma parceria coma Scatec Solar, que é uma outra empresa norueguesa, e o grupo Croma. Estamos terminando a construção do projeto no Ceará e vamos gerar energia para mais de 160 mil famílias. A ideia é começar a produzir esse ano ainda.
epbr: E tem projetos para eólica offshore?
Verônica Coelho: Estamos começando a avaliar como trazer essa competência de energia eólica offshore também para o Brasil, já que existe um potencial eólico no Brasil muito interessante. Temos uma costa enorme e incidência de vento muito interessante para este tipo de projeto. É muito incipiente ainda, desde marcos regulatórios e até avaliação das condições técnicas.
epbr: Gerar energia eólica offshore para abastecer plataformas produtoras de petróleo pode ser uma realidade para o Brasil?
Verônica Coelho: O leque de opções é enorme. Podemos gerar energia para tornar a produção de óleo e gás mais eficiente e mais sustentável. Essa é uma questão superimportante, sobretudo quando você está olhando para campos maduros, que têm uma demanda de energia muito maior. Definitivamente essa é uma opção.
Mas também estamos vendo que existe possibilidade, por que não, de gerar energia para o grid. Colocar energia na rede. Assim como a gente faz no Reino Unido e vai fazer também nos EUA. Não existe nada definido ainda, mas a gente não fecha nenhuma porta.
epbr: Preço e marco regulatório são balizadores para isso?
Verônica Coelho: A viabilidade, primeiro técnica, obviamente. E também entendermos como vai se formar o ambiente regulatório. Não é um tipo de atividade que nós temos no Brasil. Nós precisamos trabalhar com os agentes reguladores para estabelecer um marco regulatório que a gente possa trabalhar e depois fazer uma avaliação da viabilidade econômica desse tipo de projeto dado a demanda e a oferta de energia no Brasil.
Vento a gente tem. E isso é interessante demais para a gente. Queremos explorar isso. Solar também. Sol não falta. E também queremos avaliar essa possibilidade sempre. É um negócio muito novo para a gente, mas é uma área que a gente acredita que pode ter potencial para crescer e fazer projetos interessantes. Estamos olhando com bastante carinho.
Mas acreditamos também que a produção de energia a partir de óleo e gás vai continuar sendo uma parte muito importante da matriz energética do mundo. E a gente procura fazer de maneira mais sustentável, sabemos que é possível. Também tem bastante atividade e recursos sendo investidos para fazer com que essa produção de petróleo e gás seja feita de maneira muito mais sustentável.
epbr: A Aker Solutions é um tradicional fornecedor da indústria do petróleo e gás. O fornecedor acaba fazendo essa transição junto com a petroleira?
Luis Araújo: É muito difícil qualquer contratado ou operador ignorar que precisamos de uma transição energética. As metas de Paris só serão atingidas se todos trabalharem na mesma direção. Não há uma energia apenas para isso. A combinação entre as energias disponíveis na matriz vai ser muito importante. O óleo e gás está aí e vai ficar por muito tempo.
De acordo com a Agência Internacional de Energia, em 2035 quase 2/3 da energia do mundo ainda virá de hidrocarbonos. Virá de carvão, gás e óleo. Primeiro, e é reconhecido hoje, temos que tirar o que polui mais. Temos que tirar o carvão, visto o momento forte do gás, sobretudo na China. É uma mudança grande.
A partir daí qual será a combinação? Nós na Aker Solutions descobrimos que existem algumas energias que serão competitivas mais rapidamente. Estamos apostando na eólica e a eólica flutuante. O potencial é enorme para grande escala.
A Equinor instalou Hywind, que foi um projeto pioneiro. A Aker Solutions investiu em uma empresa chamada Principle Power, na Califórnia. Na verdade, no mundo, apenas duas empresas fizeram projetos flutuantes. A Equinor e a Principal Power. Nós não somos competidores, somos complementares.
Temos que observar também que os moinhos flutuantes estão distante da costa. Longe das pessoas. Existem problemas muito sérios para colocar os moinhos em terra. Você tem a migração dos pássaros, ocupa terras que poderiam estar sendo usadas para outras coisas. E se colocar perto da costa tem problemas visuais, continua com o problema da migração dos pássaros, atrapalha a navegação.
Existem conceitos hoje que você pode combinar uma fazenda eólica offshore com uma área de pesca. É por aí que o mundo tem começar a olhar.
epbr: E por que a eólica offshore?
Luis Araújo: Nós temos mais de 400 plataformas flutuantes projetadas no mundo. Temos uma experiência enorme em floating. E vai precisar também de automação. Vai precisar de digitalização. Nós fazemos cabos submarinos, amarração. Tirando turbina, quase todo o resto a Aker faz.
Além do gerencialmente de grandes projetos, já que são projetos complexos. Nós acreditamos que temos uma capacidade muito grande de industrializar isso.
Nós fomos escolhidos recentemente para o primeiro projeto de eólica offshore na Califórnia. E um dos motivos que fomos escolhidos foi o fato de a gente poder industrializar, fabricar em grande escala, e poder criar conteúdo local. E nós, como uma empresa norueguesa, sabemos a importância disso para a sociedade.
É uma área muito nova ainda. Por isso é interessante de entrar. É um nincho ainda e preciso de um diálogo muito forte. É quase que uma concessão de uma área offshore. Tem que passar pela sociedade. Na Califórnia, por exemplo, está sendo discutido a questão da pesca.
epbr: Onde existem mercados maduros para eólica offshore que podem servir de exemplo para o Brasil?
Verônica Coelho: Tem bastante projeto em operação no Reino Unido. No Mar do Norte é um mercado bastante avançado, olhando também para a Holanda. Mais recentemente tivemos um projeto bastante bem sucedido na Costa Leste dos EUA, em Long Island, perto de Nova Iorque. Os modelos divergem. Cada um tem suas especificidades.
Luis Araújo: Quanto mais fora da costa mais vento tem. Onde precisa de energia, se você for fazer essa análise, não tem uma plataforma. É bem profundo. Então, a partir de 40m, 50m já fica difícil colocar uma estrutura apoiada no fundo. Os EUA, o próprio Brasil, são lugares que não tem tanta costa rasa, como é o caso da Dinamarca, da França, que têm plataformas mais próximas. Em quase todo mundo, as regiões que demandam mais energia estão próximas da costa. Essa é outra vantagem enorme das eólicas offshore.
epbr: O gás será o combustível da transição energética?
Luis Araújo: O gás também gera CO2. O que tem que acontecer é uma combinação. Não são conflitantes. São competências que se associam. O campo de petróleo, por exemplo, quando mais maduro demanda mais energia. Você precisa colocar mais bombas, mais injeção de gás. A quantidade de carbono gerada pelo campo piora.
Então, estamos discutindo com a Equinor eólicas offshore para gerar energia para as plataformas. Estamos discutindo também com a Aker BP, que é uma operadora na Noruega, como fazer um campo operando desde o começo com eólicas offshore. A ideia é ter o mapa de carbono do projeto negativo.
Não é bem vai terminar um e começar outro. Vai haver essa matriz energética combinada. É muito difícil substituir tudo de uma vez só.
Verônica Coelho: O gás natural faz um papel muito interessante de facilitar essa transição para o mercado de baixo carbono e uma base mais renovável. É muito difícil você pensar em uma transição muito radical. O gás natural facilita essa transição de uma maneira um pouco mais suave e tem um potencial fortíssimo. É, alias, outro ponto interessante para nós aqui no Brasil.
Definitivamente, não será uma fonte de energia a solução para todos os problemas. É a combinação dessas fontes em uma matriz mais eficiente que traz a solução que a gente precisa alcançar para ter um mundo com energia para todos. Trazer energia para todas essas pessoas. Hoje já não temos energia para todos. Já existe demanda latente. E com o crescimento da população essa demanda tende a crescer. A combinação dessas diversas fontes que vai ser a solução que a gente precisa.
epbr: E nisso o Brasil sai na frente, não?
Luis Araújo: Tem uma similaridade muito grande entre Brasil e Norueguesa nesse ponto. Dois países com matriz limpa, com a energia hídrica. Eu sempre brinco que a Noruega é a bateria da Dinamarca, que tem energia muito limpa com a eólica offshore, mas quando para de ventar compra energia da Noruega. Tem que ter essa combinação.
Verônica Coelho: Essa combinação de energia a partir do gás é muito interessante como complemento. Aqui no Brasil a gente enfrentou momentos críticos, que eventualmente limitaria nosso crescimento econômico, por não ter energia suficiente, por conta de seca, por diversos fatores. A energia solar e também a energia eólica pode ser um excelente complemento para isso, mas também não é suficiente. Pode ser que não tenha vento. E aí se causa um problema. Outro dia não tem sol. E aí também causa um problema. O gás tem um papel fundamental aqui. Pode ser um excelente complemento para todas essas fontes. Temos o beneficio de ter todas essas fontes em abundância. Temos que pensar como país o melhor equilíbrio entre todas as fontes para que a gente tenha energia de maneira estável, suficiente e sustentável para nossa sociedade.