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Diálogos da Transição
APRESENTADA POR
Editada por Nayara Machado
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Em outubro de 2023, o Rio Madeira, na Amazônia, atingiu o menor nível registrado nos últimos 56 anos, deixando milhares de pessoas sem água, prejudicando atividades econômicas e levando à paralisação das operações da hidrelétrica Santo Antônio, em Rondônia.
A seca ocorreu em meio ao fenômeno climático natural El Niño, que de tempos em tempos aquece as águas do Oceano Pacífico na região próxima ao Equador, provocando ondas de calor nas zonas tropicais.
Mas as mudanças climáticas causadas por atividades humanas – como queimar de combustíveis fósseis e desmatar florestas – ajudou (e muito) a agravar a estiagem amazônica.
É o que mostra um estudo da World Weather Attribution (WWA) publicado hoje (25/1). Formado por um consórcio de cientistas, o grupo descobriu que a crise climática tornou 30 vezes mais provável a seca extrema que atingiu a Amazônia de junho a novembro de 2023.
Com um agravante: as consequências foram sentidas de forma mais intensa pelas populações mais pobres e isoladas da região, onde desmatamento e queimadas pioram os efeitos do calor.
“Muitas comunidades que vivem na bacia do Rio Amazonas simplesmente não tinham vivenciado uma seca como essa antes”, observa Simphiwe Stewart, pesquisadora do Centro Climático da Cruz Vermelha em Haia, nos Países Baixos.
“As vias fluviais secaram em questão de meses. As pessoas foram obrigadas a fazer jornadas extensas, arrastando barcos sobre trechos secos do rio, para acessar alimentos, medicamentos e outros bens essenciais”.
Em entrevista coletiva para apresentação do trabalho, na quarta (24), Stewart defendeu maior intervenção do governo para apoiar as comunidades e prepará-las para a intensificação da seca na Amazônia, já que a tendência é que as temperaturas continuem aumentando.
Por que o aumento da temperatura do planeta afeta a Amazônia?
Os cientistas do WWA constataram que a mudança climática está reduzindo a precipitação e aumentando o calor.
Isso impulsiona a estiagem: rios em algumas regiões atingiram seus níveis mais baixos em mais de 120 anos.
É um efeito dominó: o clima mais seco contribuiu para a propagação de incêndios florestais, a fumaça piora a qualidade do ar e adoece as pessoas. Na biodiversidade dos rios, o aquecimento das águas foi associado à morte de mais de 150 golfinhos cor-de-rosa ameaçados de extinção.
Mais secas estão por vir
Ao analisar os dados meteorológicos históricos, o levantamento da WWA constatou que a estiagem que ocorreu na Amazônia em 2023 foi um evento excepcional.
No clima atual, 1,2°C mais quente que nos períodos pré-industriais (antes de começarmos a queimar combustíveis fósseis para sustentar a economia), podemos esperar secas meteorológicas semelhantes, com precipitação muito baixa, aproximadamente a cada 100 anos, enquanto secas agrícolas, com baixa precipitação e alta evapotranspiração, podem ser esperadas aproximadamente a cada 50 anos.
Os dados históricos também indicam que a precipitação de junho a novembro na Amazônia está diminuindo à medida que o clima se aquece. Veja o estudo, em inglês
Se chegarmos a 2°C de aumento – como indicam as políticas atuais –, períodos como o do ano passado podem se repetir a cada 33 anos, enquanto secas agrícolas se tornarão três vezes mais prováveis, esperadas para ocorrer a cada 13 anos.
“À medida que o clima se aquece, uma potente combinação de diminuição da precipitação e aumento do calor está impulsionando a seca na Amazônia. Para proteger a saúde da Amazônia, precisamos preservar a floresta tropical e nos afastar dos combustíveis fósseis o mais rápido possível”, comentou Regina Rodrigues, professora de Oceanografia Física e Clima da Universidade Federal de Santa Catarina.
Cobrimos por aqui:
- Brasil registrou recorde de desastres climáticos em 2023
- Davos: mundo precisa fechar lacuna de 600 bilhões de toneladas de CO2
- Brasil vai à COP28 apegado ao controle do desmatamento, mas distante do Acordo de Paris
- Países amazônicos querem trocar dívida por ação climática
- De biodiesel a solar, os planos de descarbonização da matriz da Amazônia
Curtas
Na rota do aço verde
A produção de aço à base de hidrogênio verde pode ser a opção mais barata para produzir aço com zero emissões em 2050, segundo a BloombergNEF. Estudo aponta que o Brasil é um dos candidatos a receber siderúrgicas em busca de produção de aço com baixo teor de carbono a preço competitivo.
Petrobras avalia SAF de etanol
Em reunião com empresários da indústria canavieira do Nordeste, o presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, disse que a companhia formará um grupo de trabalho para estudar novos projetos de combustíveis sustentáveis. Segundo Prates, o GT dará sequência a possíveis termos de cooperação em pesquisa e desenvolvimento.
“Essas análises fazem parte do compromisso da Petrobras com a transição energética e a busca por soluções de baixo carbono em parceria com outros agentes do setor energético nacional”, comentou em uma publicação na rede social X (ex-Twitter).
- Veja na reportagem especial da agência epbr: Petrobras inicia execução do primeiro plano de Lula 3 sob equilíbrio de pressões
Acordo Mercosul-UE
Na presidência pro tempore do Mercosul, o Paraguai apresentou suas prioridades durante os 6 meses que ficará à frente do bloco. Entre elas, está a de avançar nas negociações para consolidar o acordo comercial com a União Europeia e a promoção de negociações com os Emirados Árabes. O primeiro encontro de chanceleres dessa nova gestão ocorreu na quarta (24/1).
Eletrificando
Também na quarta, a presidência da República recebeu um carro elétrico para uso oficial do presidente Lula (PT). No Palácio da Alvorada, o chefe do Executivo se reuniu com representantes da BYD Brasil, empresa chinesa de automóveis elétricos, que vai criar sua primeira fábrica brasileira em Camaçari, na Bahia.
Além da BYD, Lula se reuniu ontem com a GM, que anunciou R$ 7 bilhões em investimentos no Brasil. Somados, os investimentos da BYD e GM no país chegam a R$ 10 bilhões, parte destinada à produção de veículos elétricos.
Renováveis na moda
A empresa de moda C&A adquiriu certificados de energia da Elera para garantir que 100% do seu consumo de energia no Brasil em 2023 fosse considerado renovável. A aquisição de I-RECs cobriu a demanda de suas mais de 330 lojas, centros de distribuição e escritórios.
A operação vai neutralizar as emissões do consumo de energia da empresa referente a 2023, evitando a emissão de 7,3 mil toneladas de CO2 na atmosfera. Os certificados foram emitidos pelo Complexo Eólico Renascença, no Rio Grande do Norte, operado pela Elera.