O presidente Lula defendeu, nesta quinta-feira (6/11), que ações de enfrentamento e preparação para as mudanças do clima precisam ser materializadas “no centro das decisões” do setor privado e também da sociedade civil. Ele falou na abertura da cúpula de líderes da 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30).
O chefe de Estado do Brasil diz ser necessário avançar para “superar a desconexão” entre os salões diplomáticos e a vida real.
Para ele, o que for discutido na cúpula de líderes deve servir de bússola para as negociações técnicas. O grande evento com líderes mundiais antecede a COP30. É o momento preliminar, considerado essencial para a negociação
O cerne da discussão é o financiamento. No ano passado, na COP do Azerbaijão, foi estabelecido que os países desenvolvidos devem “assumir a liderança” no fornecimento de, pelo menos, US$ 300 bilhões anuais até 2035, muito aquém do que é considerado necessário.
O Brasil se comprometeu a apresentar, junto ao Azerbaijão, um roteiro de como alcançar a meta de US$ 1,3 trilhão.
Esse documento, divulgado na quarta-feira (5/11), menciona, majoritariamente, instrumentos já existentes.
Os exemplos incluem o perdão da dívida em troca dos esforços dos países para implementar medidas de combate às mudanças climáticas, bem como a liberação de crédito em condições e taxas favoráveis. O problema — e, na verdade, a solução — é o ganho de escala global desses mesmos instrumentos.
Confrontos entre países desviam recursos do clima
Lula apontou que os confrontos entre países atrasam a busca de soluções à crise climática.
“Rivalidades estratégicas e conflitos armados desviam recursos que deveriam ir para o combate ao aquecimento global”, disse. “Precisamos superar o descasamento entre o contexto geopolítico e a urgência climática”, acrescentou.
Lula também afirmou que a COP30 será o momento da verdade. “Não podemos abandonar o objetivo do Acordo de Paris de aquecimento de 1,5 grau Celsius”, disse. “Nosso objetivo com essa cúpula de líderes em Belém é enfrentar as divergências”, afirmou.
O presidente afirmou que a COP30 é o “ponto culminante” de um caminho pavimentado nos encontros do G20 e do Brics no Brasil.
O discurso, lido pelo presidente na maior parte do tempo, trouxe o tema da justiça climática. Ele disse que será impossível conter a mudança climática sem superar as desigualdades. “A Amazônia para o mundo é como uma bíblia, todos conhecem, mas interpretam da sua forma”, afirmou.
Urgência climática e multilateralismo
Lula também voltou a falar sobre o senso de urgência para as medidas mitigadoras das mudanças no clima, ao comentar sobre as “dramáticas perdas humanas” com o aquecimento global.
Ainda neste tema, ele também classificou que “forças extremistas fabricam inverdades” para obter ganhos eleitorais.
A fala remete ao constante discurso da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva (Rede), sobre “negacionismo climático”.
O relatório de emissões do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente estima que o planeta está sendo direcionado para o patamar de 2,5º mais quente, até 2100.
Neste cenário de alerta, mais de 250 mil pessoas poderão morrer a cada ano, de acordo com o chamado “Mapa do Caminho Baku-Belém”. O PIB global pode encolher até 30%. “A COP30 será a COP da verdade”, declarou Lula, repetindo lema que a presidência brasileira tenta emplacar.
O contexto geopolítico refratário ao multilateralismo, simbolizado com a futura saída do Estados Unidos do Acordo de Paris no início de 2026, representa um dos principais empecilhos para o compromisso de angariar recursos trilionários para a seara climática.
Por Karla Spotorno, Mateus Maia, Paula Ferreira e Renan Monteiro
