RIO — Os investimentos em infraestrutura, incluindo o setor de energia, no Brasil estão enfrentando desafios para encontrar novos mecanismos de financiamento que atendam às necessidades de transição energética e de adaptação dos ativos para as mudanças climáticas, apontam especialistas da KPMG.
Segundo a consultoria, a transição energética está entrando em uma nova fase, marcada por um maior pragmatismo econômico.
Em paralelo, cresce a demanda por uma infraestrutura resiliente aos fenômenos do clima, como enchentes e incêndios. Mas a adaptação dos ativos para essa nova realidade ainda tem custos altos.
As conclusões são resultado de um estudo da consultoria sobre as tendências para os setores de infraestrutura e transportes em 2025.
A líder do segmento de Infraestrutura da KPMG no Brasil, Tatiana Gruenbaum, cita como exemplo a adaptação do mercado para o uso de combustíveis menos poluentes, incluindo a disponibilização de infraestrutura para veículos elétricos em rodovias, por exemplo.
“É necessário estar todo mundo na mesma página: tanto o governo, como as empresas, como as entidades privadas”, diz.
Nesse sentido, ela lembra que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ainda é o principal financiador de projetos ligados à transição energética e resiliência climática no Brasil, mas que o governo tem buscado atrair capital estrangeiro.
“A primeira coisa que qualquer investidor olha é a segurança jurídica”, ressalta.
Gruenbaum lembra que, além da estabilidade das regras, também entram nos cálculos dos investidores a eventual vulnerabilidade dos ativos às mudanças do clima.
“É por isso que vários leilões que já deveriam ter saído não saíram ou tiveram poucos participantes. Isso faz com que o governo volte, refaça estudos, traga novas audiências públicas, que é o que tem sido feito”, diz.
Para a especialista, o governo brasileiro tem percebido essa demanda do mercado e tem buscado reestruturar contratos.
As novas regras para as concessões de rodovias, por exemplo, preveem que 1% da tarifa deve ser destinada para o desenvolvimento de novas tecnologias e medidas de sustentabilidade.
A alta da taxa de juros também é um entrave, sobretudo no setor de energia, que tem contratos de longo prazo.
“O custo do dinheiro é alto, ainda mais com Selic a 15%”, diz o especialista da KPMG para o setor de energia, Manoel Fernandes.
Nesse contexto, Fernandes cita também as dificuldades para investimentos para o enterramento de redes elétricas.
A substituição das redes aéreas pelas subterrâneas pode ajudar a reduzir problemas no fornecimento de energia causados por chuvas, vendavais e raios.
Mas, como as distribuidoras são ressarcidas por investimentos por meio de reajustes nas tarifas, um eventual esforço para enterrar os fios teria impactos diretos nas próximas revisões tarifárias, ou seja, acabaria pesando no bolso do consumidor.