Opinião

Chegou a hora de o Brasil usar sua vantagem competitiva verde para atrair IA e a nova indústria de baixo carbono

Atrair indústrias globais para o nosso litoral, a fim de “limpá-las”, é só o começo, escreve Pedro Camanho

Pedro Camanho, sócio e diretor executivo do Grupo Apolo Energia (Foto: Divulgação)
Pedro Camanho, sócio e diretor executivo do Grupo Apolo Energia | Foto: Divulgação

Diferencial competitivo é uma característica que faz uma empresa se sobressair em relação às concorrentes. É um valor reconhecido por quem utiliza seus produtos ou serviços. Esse conceito também vale para os países.

No mercado internacional, bons produtos e serviços vendem mais e geram mais riqueza e empregos para o país.

No cenário mundial da competitividade, o Brasil não está bem na foto. No World Competitiveness Ranking (WCR), edição 2024, o país aparece na 62ª posição entre 67 países. Apesar disso, temos setores em que somos extremamente competitivos. O agronegócio é um deles. O outro é o setor energético, particularmente o elétrico.

Nenhum país economicamente relevante está tão bem-posicionado no mundo para enfrentar os desafios da transição energética como o Brasil.

Nossa matriz elétrica atinge incríveis picos de 93% de geração oriundas de fontes limpas e renováveis (hidráulica, eólica, solar e biomassa). Para se ter uma base de comparação, a média dos países da OCDE é de 33% e a mundial, 29%.

Diante de um planeta que precisa urgentemente limpar sua matriz energética para minimizar uma crise climática, o Brasil reluz no setor de renováveis. E é exatamente aqui – frente à necessidade urgente de uma neoindustrialização global, de baixo carbono – que o país pode – e deve – se apresentar com uma opção real de “greenshoring”. O conceito diz respeito à instalação de parques fabris em extensos litorais que sejam movidos à energia limpa.

A neoindustrialização que se busca em função do Acordo de Paris deverá permear toda a economia.

Para evitarmos a emissão de milhões de toneladas de gases de efeito estufa, será necessário revisarmos os processos industriais, de A a Z. Desde a fabricação de uma latinha de refrigerante, que depende de um processo eletrointensivo na produção do alumínio, à produção de papelão, que utiliza grandes quantidades de vapor.

Para não sucumbirmos às mudanças climáticas, todos os sistemas produtivos deverão sofrer um rigoroso escrutínio para que sejam baseados em eletricidade renovável.

O cenário, no entanto, é desafiador. Pois, para complicar, assistimos, ao redor do planeta, à multiplicação de novos e gigantescos datacenters voltados ao processamento de inteligência artificial, com um consumo de energia jamais visto.

O mesmo mundo que anseia pelos benefícios da IA é o que deverá contribuir para atenuar os fatores que alimentam as mudanças climáticas – um paradoxo que precisa ser enfrentado.

A boa notícia é que o Brasil surge como parte da solução para a tão almejada transição energética. Já conquistou o mais difícil, que é a matriz elétrica verde.

Mas, atrair indústrias globais para o nosso litoral, a fim de “limpá-las”, é só o começo.

Quem pretende investir em atividades produtivas no país, com base na sua matriz elétrica limpa, quer um ambiente regulatório confiável, assim como a sinalização clara de que essa matriz seguirá sendo limpa no futuro.

Nossa matriz elétrica tem potencial para ser a mais competitiva do mundo por muito tempo. Se cuidarmos bem desse potencial, podemos gerar riqueza, multiplicar empregos e ainda contribuir para mitigar a crise climática.

E vale lembrar que o país, hoje, preside o G20 e atua em defesa das energias renováveis. Talvez este seja o fórum ideal para darmos o nosso recado: chegou a hora de o Brasil ser um hub mundial de IA e indústrias verdes.


Pedro Camanho é sócio e diretor executivo do Grupo Apolo Energia