RIO — O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Gustavo Montezano, defendeu que o Brasil tem toda capacidade para liderar o mercado de finanças verdes no mundo, apostando principalmente em investimentos na Amazônia.
“O Brasil tem todas as condições e possibilidade de liderar a corrida tecnológica pelas finanças verdes. Além desse capital natural que a gente tem, temos um mercado financeiro desenvolvido e criativo”, disse Montezano, durante painel da Brazil Conference sobre bioeconomia, nesta terça (13).
Segundo ele, o mercado financeiro está engajado como nunca e os clientes corporativos do Banco estão buscando formas inovadoras para investir na floresta Amazônica.
“Fazendo um mea culpa, a gente negligenciou por anos a região e como operar nela. Não só o BNDES, mas todo o setor bancário hoje reconhece, e a gente tem que mudar a forma de ver o valor desse capital natural”, avaliou.
A grande aposta do banqueiro é a utilização de mecanismos de blended finance para gerar um fluxo financeiro para a região. Essa categoria de financiamento é uma espécie de investimento híbrido, com recursos de fontes públicas ou filantrópicas do setor privado, aplicados no desenvolvimento de comunidades de países emergentes.
“Seja através de garantias de crédito, fundos híbridos, pagamento por serviços ambientais, qualquer tipo de investimento hibrido é o mais adequado para a região”, afirmou Montezano.
Recentemente, o BNDES lançou uma estrutura para emissão de títulos verdes, sociais e sustentáveis, o Sustainability Bond Framework (SBF), com apoio do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Os recursos a serem captados em operações com base no SBF serão utilizados para financiar e refinanciar projetos novos ou já existentes na carteira do BNDES
“A estrutura reforça a importância atribuída ao tema Ambiental, Social e de Governança (ASG) pelo BNDES e pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID)”, disse a instituição em nota.
Bioeconomia é urgente para evitar degradação da Amazônia
Montezano também destacou a importância do desenvolvimento de uma bioeconomia na região e que o grande desafio não é a falta de recursos, mas a alocação desses investimentos. Para resolver essa equação, ele defende o fomento de empreendedores florestais e da diversificação de atividades.
“O maior desafio que a gente tem é a aplicação e desenvolvimento da última milha, do empreendedor que faz a roda girar de forma economicamente e ambientalmente sustentável”.
Já o pesquisador Carlos Nobre, titular do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), acredita que o desenvolvimento econômico da região é uma das saídas para o processo de “savanização” da Amazônia por conta do desmatamento.
“Se não conseguirmos mudar o modelo de desenvolvimento da Amazônia, ela vai se savanizar até 70%. E com isso perder 250 bilhões de toneladas de carbono e vai ser quase impossível atendermos as metas do Acordo de Paris”, afirmou o pesquisador.
“A Amazônia está muito próxima do tipping point, um ponto de não retorno. Estamos vendo todos os sinais de savanização. Períodos de seca quatro semanas mais longos, mais quentes reciclagem de água muito menor, boa parte da floresta já não absorve carbono”, concluiu.
Nobre defende que um dos modelos para proteção ambiental da Amazônia é a exploração do seu potencial genético e biotecnológico.
“Temos que trazer ciência e tecnologia de ponta. Combinarmos o conhecimento tradicional, principalmente dos povos indígenas , com a ciência avançada, e descobrirmos inúmeros novos produtos da biodiversidade”, disse Nobre.
Atualmente, propostas buscam, por meio da Lei de Biodiversidade, permitir que concessionários florestais possam acessar e explorar recursos genéticos das florestas públicas.