A transição energética mundial é um dos maiores desafios da atualidade e o Brasil, com toda a sua abundância de recursos naturais, é protagonista nesse processo. Com a matriz energética diversificada e, majoritariamente, renovável, o país vem contribuindo ao longo dos anos para a redução das emissões de gases de efeito estufa (GEE) e tem potencial para se consolidar como modelo de desenvolvimento sustentável.
Além das fontes de geração de energia já consolidadas, o Brasil possui um enorme potencial para expandir sua capacidade em energia solar e eólica.
Com áreas com alta incidência do sol e dos ventos favoráveis, o país pode se tornar um líder global na geração dessas energias. Projetos por todo o Brasil, em especial no Nordeste, estão sendo construídos e inaugurados.
Essas iniciativas geram visibilidade, atraem novos investimentos e estimulam a inovação, além de impulsionar a criação de empregos verdes. O Brasil, aliás, é o terceiro país que mais cria empregos no setor de energia renovável, segundo um recente relatório da Irena e da OIT.
Atualmente, a geração de energia vinda do sol e do vento já representa 30% da nossa matriz elétrica.
Diante do seu tamanho, o país está, cada vez mais, também fortalecendo o seu papel como líder da diplomacia energética. Em termos de holofotes, o Brasil está no centro das atenções globais ao receber o G20, em novembro, e a COP30, que será realizada em Belém, no Pará, no ano que vem.
A urgência climática e a necessidade de ação agora estão destacadas no Green Transition Scenarios 2024, estudo anual da Statkraft que mudou de nome, mas mantém o objetivo de analisar detalhadamente as diretrizes e impactos da transição energética global até 2050.
Nesta edição, ele projeta um declínio drástico no uso de combustíveis fósseis nas próximas décadas e projeta possíveis cenários de acordo com o desenvolvimento mundial.
Para chegar às nossas conclusões, mais de 50 especialistas e analistas internos avaliaram três principais cenários: Cenário de Transição Verde, Cenário da Rivalidade da Tecnologia Limpa e o Cenário de Transição Atrasada.
O primeiro traz um panorama otimista, mas realista, no qual a tecnologia, a dinâmica do mercado e as políticas proativas aceleram a transição energética.
Já o segundo, detalha como os impactos da briga de grandes potências pela corrida da energia verde podem influenciar globalmente.
E o último, considera as tensões geopolíticas e as preocupações com a segurança energética, além de interrupções na cadeia de suprimentos que ofuscam as prioridades ambientais.
Com isso, o estudo determina quatro passos fundamentais para a transição sustentável global. São eles: aumentar a geração de energia renovável; impulsionar a eficiência energética e a mudança de comportamento social; reduzir o uso dos combustíveis fósseis, com segurança energética; e o investimento na geração de soluções de energia limpa e flexível.
A partir desses passos, o estudo prevê que, no Cenário de Transição Verde, a geração de energia solar e eólica vai quadruplicar a sua produção até 2030, e aumentar em treze vezes até 2050.
Além disso, para lidar com a crescente dependência de fontes energéticas variáveis, como o sol e o vento, será essencial o desenvolvimento de soluções de flexibilidade, como sistemas de armazenamento por baterias, hidrelétricas flexíveis e demanda inteligente.
Essas tecnologias garantirão a estabilidade e resiliência dos sistemas energéticos, reforçando o papel do Brasil como líder nesse processo.
No entanto, em todos os cenários analisados, o relatório aponta para uma iminente redução dos combustíveis fósseis, com um forte crescimento das fontes solar, baterias e eólica, que já são comercialmente viáveis e altamente competitivas.
Enquanto tecnologias ainda inovadoras, como energia eólica offshore, hidrogênio e captura e armazenamento de carbono, precisam de amadurecimento e mais apoio governamental.
Diante do apresentado, fica claro que os desafios que temos pela frente são imensos e urgentes.
O nosso relatório Green Transition Scenario 2024, no entanto, não propõe soluções prontas e imediatas, mas sim possibilidades que poderão fazer a diferença para atingirmos o objetivo da descarbonização mundial.
O que resta saber é se estamos indo rápido o suficiente frente aos desafios que temos. A hora de agir é agora, e o Brasil pode e deve ser uma parte essencial dessa jornada.
Fernando de Lapuerta é CEO e Diretor Presidente da Statkraft.