VITÓRIA — O CEO da EDP para a América do Sul, João Marques da Cruz, acredita que a segurança energética do Brasil não depende exclusivamente da contratação de térmicas a gás e o armazenamento de energia é uma alternativa viável que pode contribuir para a estabilidade do sistema.
A empresa espera adicionar mais de 500 MW de capacidade de armazenamento em todo o mundo até 2026.
“A contratação de térmicas a gás é uma forma, mas não é a única, de conseguir segurança energética”, disse à agência eixos durante um evento sobre COP30 promovido pela EDP na última semana.
“Maior penetração de armazenamento conduz ao mesmo objetivo. Tem que fazer estudos técnicos aprofundados para decidir qual o caminho. Eu não excluo a possibilidade de o Brasil ter térmicas a gás. Podem ter o seu lugar, mas é preciso estudar e há um espaço bom para a armazenagem”.
Marques da Cruz comentou ainda os desequilíbrios recentes no sistema elétrico, como o curtailment, e a necessidade de uma expansão planejada das novas fontes de energia.
“Foi uma grande penetração da geração distribuída e grandes adições de geração renovável sem transmissão. O primeiro fato criou uma pressão grande na distribuição. O segundo criou o curtailment”, explica.
“Temos que ter uma capacidade de planejamento para que as coisas avancem mais ou menos a par para não haver esses problemas. Mas eu diria que são crises de crescimento”.
No Brasil, a EDP atingiu o marco de 100% de geração renovável em 2024, após concluir a venda da termelétrica Pecém (CE). Ao todo, possui hoje 3.9 GW de capacidade instalada em fontes renováveis que incluem usinas solares, eólicas e hidrelétricas.
Hidrogênio precisa de mercado de carbono
O executivo também falou da viabilidade de projetos de hidrogênio verde no Brasil. A EDP foi pioneira ao implantar um projeto piloto no Ceará, no porto do Pecém.
Mas, segundo o CEO, ainda existem obstáculos econômicos para escalar a tecnologia, Na avaliação dele, o mercado de carbono seria essencial para destravar essa indústria.
“Infelizmente, há um problema de viabilidade econômica do hidrogênio verde e é importante que haja um mercado de carbono regulado no Brasil. Neste momento, é verdade que há uma dificuldade de rentabilizar projetos”.
Outro projeto da EDP de hidrogênio verde, também no Ceará, foi selecionado pelo governo na chamada para hubs de hidrogênio, para concorrer a financiamento internacional.
A companhia não divulgou detalhes do projeto. O CEO afirma que a empresa mantém interesse em desenvolver o projeto, desde que haja um cliente que viabilize economicamente a operação.
“Não é só uma questão de financiamento, é até fundamentalmente uma questão de off-taker, ou seja, de encontrarmos um cliente que pague o custo certo e viabilize o projeto”.
Carta de intenções
Na semana passada, o executivo detalhou os compromissos da EDP com a COP30 e durante evento realizado pela empresa no Espírito Santo.
De acordo com ele, a conferência climática que será realizada em novembro em Belém, no Pará, precisa ser marcada por ações concretas.
“A EDP pretende que a COP30, a COP do Brasil, seja uma COP de ação, não sejam só palavras. A EDP está engajada com o desenvolvimento do Brasil, com o desenvolvimento do Estado do Espírito Santo”, afirmou a jornalistas.
A companhia apresentou uma Carta de Intenções baseada em três frentes: investimentos em infraestrutura de redes e geração renovável, capacitação dos colaboradores e melhoria da qualidade do serviço prestado à população.
O Espírito Santo será um dos principais focos da EDP, com R$ 5 bilhões até 2030 destinados à modernização da rede de distribuição, da qual é a concessionária responsável.
“Em todo o Estado do Espírito Santo estamos construindo novas subestações, temos um plano muito ativo”.
Renovação de concessão
O investimento também é parte dos requisitos para a renovação da sua concessão no ES, sob as novas regras da Aneel que estipulam ações para o aumento da resiliência das redes de distribuição frente a eventos climáticos.
No início de abril, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) adiou a decisão sobre a renovação da concessão da EDP Espírito Santo, que vence em julho deste ano. O diretor Fernando Mosna pediu vista do processo.
O executivo acredita, no entanto, que a renovação da concessão da distribuidora capixaba é praticamente certa.
“Tenho a certeza absoluta que a renovação vai ser feita. É uma questão de mais dia menos dia”.
O limite para a decisão da Aneel é até 4 de maio. Esse será o primeiro pedido de renovação avaliado pela agência dentro das novas regras que prorrogaram as concessões por mais 30 anos.
Ao todo, 19 distribuidoras possuem contratos a vencer entre os anos de 2025 e 2031, incluindo Enel e Light, que estão em uma situação mais desafiadora por questões técnicas e financeiras.
O jornalista viajou a convite e com despesas pagas pela EDP