A transição energética dependerá criticamente da forma como o mundo das finanças irá se orientar nos próximos anos. A avaliação é do membro do Conselho de Administração Saudi Aramco e consultor especial do Fundo Soberano da Arábia Saudita, Andrew Liveris, que participou nesta terça (21) do painel Solving the Green Growth Equation, no Fórum Econômico Mundial, em Davos, Suíça.
Liveris, contudo, não tem dúvidas que os combustíveis fósseis estão com os dias contados, mas avalia que os próximos passos para a transição energética ainda precisam ser definidos globalmente, com destaque para a regulação, que terá um papel essencial para colocar em prática as metas previstas no Acordo de Paris.
“Combustíveis fósseis, os combustíveis do século 20, estão com os dias contados. Eles não acabaram, mas estão caminhando para acabar”, afirmou o executivo.
Durante o debate, Livers questionou a afirmação do presidente do Banco da Inglaterra, Mark Carney, de que investidores estão desesperados para conhecer dados sobre a exposição de empresas às mudanças climáticas.
Livers, que foi presidente da Dow Química, afirmou que durante seu tempo à frente da companhia nenhum investidor jamais pediu esses dados, mas Carney o contrariou e disse que a postura dos investidores está mudando.
“Dois terços das perguntas nas reuniões de acionistas são sobre essas questões”, disse o executivo do Banco da Inglaterra. “Eles não estão desinvestindo da noite para o dia, mas querem saber: ‘qual é o plano’?”, questionou.
“Hoje você tem o Banco da Inglaterra e um número de bancos centrais sendo pressionados para a transição para a economia de emissão zero”, disse Carney.
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Transição energética na Arábia Saudita é vista com ceticismo por analistas
Com a estreia na bolsa de valores saudita Tadawul, no final de 2019, a Saudi Aramco realizou a maior oferta pública inicial de ações da história, levantando US$ 25,6 bilhões. Mas há muitas incertezas quanto ao futuro da estatal saudita, no momento em que todo o setor de energia começa a se direcionar à transição energética.
Para o diretor de estudos de mercado da Schneider Electric, David Hunter, há dúvidas sobre a valorização dos papéis da Saudi Aramco nos próximos anos.
“Há muitos fundos que desejam deixar de investir em ativos de combustíveis fósseis”, disse Hunter à BBC no ano passado, quando a companhia anunciou sua oferta pública de ações. “É uma listagem gigantesca de combustíveis fósseis em um momento em que os investidores estão se tornando cada vez mais éticos”.
Entre analistas há grande desconfiança sobre a forma como a Arábia Saudita vai enfrentar a transição energética, ainda que a família real saudita adote um discurso favorável a uma economia de baixo carbono – algo que está previsto no plano de desenvolvimento do país, o Saudi Vision 2030, que prevê, por exemplo, a instalação de 6,2 GW de capacidade em usinas eólicas até 2030.
Em 2017, 40% da eletricidade na Arábia Saudita é gerada com a queima de óleo e 60%, com gás natural. O país têm cerca de 70 GW de capacidade instalada e planos de expansão para 120 GW, até 2032, de acordo com dados compilados pela agência americana EIA.
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Em julho do ano passado, a italiana Saipem assinou um memorando de entendimentos com a Plambeck Emirates, empresa saudita que atua na área de renováveis, para a construção de um parque eólico no país, com capacidade instalada de 500 MW. Foi o segundo projeto de usina eólica do país a começar a sair do papel.
Antes, o reino solicitou a um consórcio liderado pela EDF e Masdar a instalação de 400 MW de capacidade no Norte do país.
Em março de 2018, o príncipe herdeiro e principal liderança política do país, Mohammed Bin Salman, chegou a anunciar um investimento de US$ 200 bilhões na instalação de painéis solares. Seria, em suas palavras, “um grande passo na história da humanidade”. Mas o plano foi cancelado em outubro.
Para analistas, como Homayoun Falakshahi, da empresa de inteligência energética Kpler, as fortes restrições que cientistas dizem ser necessárias sobre combustíveis fósseis nos próximos anos para reverter o quadro de emergência climática prejudicariam sensivelmente os resultados financeiros de empresas estatais de petróleo do Oriente Médio, como a Saudi Aramco.
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