Para o diretor-executivo da Agência Internacional de Energia (IEA, sigla em inglês), Fatih Birol, cada país tem autonomia para escolher o caminho para atingir as metas de transição energética, mas o tempo se torna cada vez mais curto.
“Há uma corrida para atingir as metas do clima, mas não é uma corrida entre países e sim contra o tempo. Alguns países começam na frente. Mas, se todos não atingirem o final, ninguém ganha”, avaliou.
Birol participou nesta quarta (09) do webinar World Energy Transition, promovido pela FGV Energia.
Ele deixou claro que os estudos feitos pela agência para zerar emissões de carbono é apenas um caminho apontado e não ações mandatórias.
Lembrou que muitos países têm feito compromissos para zerar emissões até 2050 e que, mesmo assim, este ano o mundo deve enfrentar a segunda maior emissão de carbono desde 1945 — causada principalmente pelo uso de carvão na Ásia.
“É um gap entre o que os governos estão falando e estão fazendo. Nós não dizemos que é o caminho, mas um caminho. Cada país tem que escolher o seu”.
No mês passado, o cenário Net Zero adotado pela agência projetou que a neutralidade de carbono até 2050 apenas será alcançada se a indústria de petróleo e gás interromper todos os novos projetos de exploração ainda em 2021.
A posição gerou reações no mercado de óleo pelo mundo. No Brasil, o ministro Bento Albuquerque defendeu a continuidade dos investimentos no setor brasileiro, após ser questionado sobre o documento no início de junho.
A Petrobras está concentrando cada vez mais seus investimentos para acelerar a produção nos ativos de alta rentabilidade do pré-sal e seguindo a estratégia de desinvestimentos com a venda de participações em energia renovável, como a venda da BSBIOS, Bambuí e Belém Bioenergia, além de parques eólicos.
Durante o webinar, Albuquerque ponderou que o processo de transição energética é complexo e varia com o cenário de cada país. “Não há escolha tecnológica única e nem receita universal”, disse.
O ministro voltou a ressaltar a importância dos projetos na área de biocombustíveis como principal contribuição do Brasil na redução de emissões, bem como o início do projeto Combustível do Futuro, que pretende ampliar o uso de biocombustíveis para aviação e navegação e tornar mais eficiente os já usados no transporte veicular.
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“Todos os países e empresas serão afetados pela transição energética”, alerta diretor-executivo
Birol alertou ainda que as companhias devem considerar em seus planejamentos de longo prazo as mudanças nos mercados globais.
Estas passam, necessariamente, por compromissos com redução de emissões e transição energética — especialmente nas empresas estatais, que têm se atentado menos aos debates internacionais, disse.
Segundo a professora da FGV, Fernanda Delgado, a produção destas companhias nacionais corresponde a cerca de 90% da produção mundial de petróleo e gás.
Há muitas empresas com expertise em exploração de petróleo e gás offshore investindo em eólicas offshore, bem como na captura e armazenagem de carbono e em energia solar, exemplificou o diretor-executivo.
“É uma questão de escolha de modelo econômico. Eu só espero que as empresas nacionais de petróleo que estão completamente ignorando o que está acontecendo no mercado global de energia não sejam pegas de surpresa em seus planejamentos de investimento de longo prazo”.
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Crescimento econômico lento não é uma estratégia de baixa emissão, defende
O diretor-geral defendeu ainda que o melhor caminho para redução de emissões de carbono não é o freio no crescimento econômico, e sim maior compromisso com o cenário de Net Zero.
Para ele, há duas principais medidas para serem tomadas nos próximos 30 anos para concretizar os objetivos de emissão zero.
Em uma primeira frente, avaliou que é preciso fazer com que se incentive ao máximo o uso do leque de energias renováveis já existentes — como solar, eólica, hidráulica, biocombustíveis, nuclear e eficiência energética.
Birol destacou que uma das fontes que tem sido esquecida nos debates atuais é a hidráulica.
Ele avaliou que a hidrelétrica é hoje a maior fonte de energia totalmente livre de carbono e que tem grande importância não apenas no fornecimento de energia, mas de forma combinada com outras fontes intermitentes como solar e eólica.
A IEA deve lançar no dia 30 de junho um estudo voltado especificamente para a energia de fonte hidráulica no mundo.
Por outro lado, também será necessário o investimento dos países em tecnologias que ainda estão em desenvolvimento, como soluções avançadas em bioenergia, captura de carbono e principalmente o hidrogênio, segundo o diretor-executivo.
“Essas tecnologias não estão disponíveis ainda. É trabalho dos países torná-las prontas para o mercado”, disse.
Para Birol, o Brasil tem capacidade de liderar países vizinhos na América Latina para o que considera um caminho inevitável da transição energética.
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