RIO — A Tradener concluiu esta semana um projeto-piloto para fornecimento de gás natural boliviano à Compagas, distribuidora de gás canalizado do Paraná. Testado o modelo, a comercializadora vai em busca de novos contratos no mercado livre para o gás importado.
Em março, a companhia fechou um acordo de dois anos com a estatal boliviana YPFB, para compra de até 2,2 milhões de m³/dia na modalidade interruptível — que prevê a interrupção ou reativação dos envios diante da disponibilidade de molécula por parte dos supridores.
Durante dez dias, encerrados no domingo (26/6), a Tradener entregou 10 mil m³/dia à Compagas no projeto-piloto.
Ao anunciar o projeto, no início de junho, a distribuidora paranaense havia informado que não havia perspectivas de recebimento do gás no curto prazo, dada a redução do envio de gás natural boliviano ao Brasil desde maio.
Relembre: A Bolívia reduziu em 30% o envio de gás à Petrobras, para 14 milhões de m³/dia a partir de maio, depois de se comprometer a aumentar as exportações para a Argentina até setembro. O volume vendido aos argentinos subiu de uma média de 8 milhões a 10 milhões de m³/dia para 14 milhões de m³/dia. Recorrer ao gás boliviano foi, para a Argentina, uma alternativa aos elevados preços do GNL no mercado internacional. Para a Bolívia, significa uma receita extra. A Bolívia informou que o preço pago pela Argentina pela cota extra de gás atingiu, em maio, os US$ 20 o milhão de BTU — ante os cerca de US$ 7 o milhão de BTU pagos pelo Brasil.
O presidente da Tradener, Walfrido Avila, no entanto, não vê na redução do envio de gás boliviano ao Brasil um empecilho.
Ele disse à agência epbr que, por ter um contrato na modalidade interruptível com a YPFB — e, portanto, mais flexível — a comercializadora consegue encontrar, com mais facilidade, janelas de oportunidade para importação.
Além disso, o volume é pequeno em relação ao que a Petrobras importa, na modalidade firme.
“Agora vamos atrás de um cliente de cada vez, como foi na abertura do setor elétrico. Há várias negociações em discussão [com potenciais consumidores livres]. Eles estavam querendo saber, primeiro, como se daria a importação, qual seria o imposto etc”, comentou o executivo.
Segundo ele, agora que a empresa já entregou a primeira carga ao mercado paranaense, a expectativa é que novos contratos sejam celebrados.
Tradener oferece gás flexível
Avila conta que o modelo de negócios da comercializadora se baseia na flexibilidade da entrega de gás. “Há meses em que será possível entregar mais, outros menos”, disse.
É da natureza dos contratos interruptíveis. Por outro lado, segundo ele, a Tradener não pretende trabalhar com cláusulas de take-or-pay (volume mínimo de gás que deve ser retirado, para não pagamento de penalidades).
Ele disse que mira a demanda por parte de indústrias interessadas em diversificar o portfólio de supridores e compor um mix de diferentes fontes – e modalidades de contratação, como a flexível.
Além do gás boliviano, a Tradener conta também com os volumes oriundos da produção própria da companhia, no campo de Barra Bonita, no Paraná.
A concessão tem capacidade para produzir cerca de 100 mil m³/dia, dos quais 30 mil m³/dia serão consumidos pela termelétrica Pitanga (10 MW), negociado pela Tradener no leilão emergencial de 2021.
Sem dar maiores detalhes, Avila afirmou que o volume restante, de 70 mil m³/dia, será destinado às indústrias, via gás natural comprimido (GNC). A comercializadora também não descarta entregar o gás local para a rede da Compagas em Londrina.
Compagas também compra da Gas Bridge
Além de testar a compra de gás da Tradener, a Compagas também tem um acordo para um projeto-piloto nos mesmos moldes com a Gas Bridge: 10 mil m³/dia por dez dias.
A concessionária paranaense confirmou que o volume contratado com a Tradener já foi operacionalizado e que a execução do teste com a Gas Bridge está prevista para os próximos dias.
Esta é a primeira vez que a Compagas firma contrato com supridores alternativos à Petrobras.
O objetivo da Compagas é, após a validação do projeto-piloto, avançar em negociações com outros potenciais supridores para a aquisição de volumes maiores de gás, em condições mais competitivas, por meio de contratos interruptíveis — em complemento ao volume já contratado com a Petrobras.