BRASÍLIA — A plataforma Normandy da TotalEnergies começou a produzir combustível sustentável de aviação (SAF, na sigla em inglês), anunciou a companhia na última quinta (3/3). A planta na Normandia, no norte da França, complementa as capacidades de produção de biocombustível da biorrefinaria La Mède (Bouches-du-Rhône) e da planta de Oudalle (Seine-Maritime).
Segundo a TotalEnergies, a produção atende à demanda de seus clientes que precisam cumprir a legislação francesa de obrigatoriedade de pelo menos 1% de SAF nas aeronaves a partir de 1º de janeiro de 2022.
A empresa também produzirá SAF em sua plataforma de petróleo bruto Grandpuits, a sudeste de Paris, a partir de 2024.
Todo o biocombustível, destinado aos aeroportos franceses, será fabricado a partir de resíduos.
Bernard Pinatel, presidente de Refino e Química da TotalEnergies, afirma que a estratégia está alinhada com a ambição de chegar a emissões líquidas zero até 2050, apoiando os clientes.
“Ao anunciar o início da produção de SAF em um novo local na França, estamos respondendo à forte demanda da indústria da aviação para reduzir sua pegada de carbono. Também estamos confirmando nosso compromisso de apoiar os clientes oferecendo soluções inovadoras para reduzir suas emissões”, diz Pinatel.
Em 2021, a petroleira francesa anunciou a primeira entrega de SAF no aeroporto Charles de Gaulle, em Paris, e o primeiro fornecimento permanente de SAF em Le Bourget.
Também no ano passado, forneceu combustível para o primeiro voo 100% SAF de um helicóptero Airbus com motor Safran em Marignane e de um Airbus A319Neo em Toulouse.
Disputa por mercados de energia na transição
O plano de emissões líquidas zero até 2050 da Total inclui um investimento anual de US$ 100 milhões em projetos capazes de gerar créditos de carbono até 2030. Os créditos serão usados após 2030 para compensar as emissões de escopos 1 e 2 da empresa.
Em maio do ano passado, a companhia fez um reposicionamento de marca, com mudanças de identidade visual e de nome para TotalEnergies. A estratégia da gigante do petróleo é se transformar em uma empresa ampla de suprimento de energia, além da tradicional exploração de óleo e gás.
A transição está no centro da estratégia. Apostar em energias significará disputar os mercados de eletricidade, hidrogênio, biomassa, solar e eólica, mantendo ainda investimentos em óleo e gás em seu portfólio de projetos.
“Para contribuir com o desenvolvimento sustentável do planeta diante dos desafios climáticos, estamos avançando, juntos, em direção às novas energias. A energia está se reinventando e essa jornada energética é nossa”, declarou na época Patrick Pouyanné, presidente e CEO da TotalEnergies.
Segundo o executivo, a ambição é ser protagonista mundial na transição energética.
O movimento não é recente é faz parte da crescente pressão institucional sobre a indústria de energia fóssil.
Empresas de óleo e gás querem ser conhecidas como empresas de energia, capazes de suprir as demandas a partir de múltiplas fontes.
Em 2018, a Statoil, que levava a origem fóssil no nome, passou a se chamar Equinor. A britânica bp ensaiou no passado uma campanha de transição para “beyond petroleum” (“além do petróleo”, em tradução livre). Originalmente, a marca BP era sigla para “British Petroleum”.
O movimento perpassa as grandes empresas do setor e até mesmo países, como os grandes exportadores do Golfo Pérsico.
O marco comum da indústria é atingir a neutralidade de carbono em 2050, para colaborar com a meta de controle do aquecimento global em 2ºC ou menos prevista no Acordo de Paris. Analistas externos e ativistas acham pouco e a pressão externa tem se manifestado na forma da antecipação de compromissos para a próxima década.
Também na última quinta (3/3), um grupo de organizações ambientais entrou com uma ação na França contra a TotalEnergies, acusando-a de enganar os consumidores sobre seus esforços para combater as mudanças climáticas.
A reclamação, que foi apresentada à TotalEnergies e deveria ser apresentada ao Tribunal Judicial de Paris, diz respeito à campanha de marketing de “reinvenção” da empresa. Segundo a Reuters, os reclamantes dizem que a campanha infringiu a lei europeia do consumidor ao sugerir que a TotalEnergies pode atingir zero emissões líquidas de carbono até 2050, enquanto ainda produz mais combustíveis fósseis.