A francesa Total aprovou hoje (28) a mudança de identidade visual e de nome para TotalEnergies, marca da estratégia da gigante do petróleo para se transformar em uma empresa ampla de suprimento de energia, além da tradicional exploração de óleo e gás.
Segundo comunicado, a alteração foi aprovada “quase por unanimidade” em assembleia geral de acionistas, com mais de 90% dos votos. O detalhamento ainda não foi publicado.
“Os acionistas votaram por ampla maioria a favor desta resolução porque percebem o real processo de transformação no qual a empresa está envolvida e fizeram deste voto um apoio a uma estratégia ambiciosa e desafiadora”, diz a nota.
A transição está no centro da estratégia. Apostar em energias significará disputar os mercados de eletricidade, hidrogênio, biomassa, solar e eólica, mantendo ainda investimentos em óleo e gás em seu portfólio de projetos.
“Para contribuir com o desenvolvimento sustentável do planeta diante dos desafios climáticos, estamos avançando, juntos, em direção às novas energias. A energia está se reinventando e essa jornada energética é nossa”, declarou em nota Patrick Pouyanné, presidente e CEO da TotalEnergies.
Segundo o executivo, a ambição é ser protagonista mundial na transição energética.
O movimento não é recente é faz parte da crescente pressão institucional sobre a indústria de energia fóssil.
Empresas de óleo e gás querem ser conhecidas como empresas de energia, capazes de suprir as demandas a partir de múltiplas fontes.
Em 2018, a Statoil, que levava a origem fóssil no nome, passou a se chamar Equinor. A britânica bp ensaiou no passado uma campanha de transição para “beyond petroleum” (“além do petróleo”, em tradução livre). Originalmente, a marca BP era sigla para “British Petroleum”.
O movimento perpassa as grandes empresas do setor e até mesmo países, como os grandes exportadores do Golfo Pérsico.
Mais que uma estratégia de marketing, é uma tentativa de se manter relevante junto a investidores, especialmente nos países mais ricos, onde a agenda climática ganha cada vez mais força.
Exemplos desse momento da indústria de óleo são os eventos desta semana. Grupos de acionistas ativistas conseguiram garantir a vitória na disputa por cadeiras nos conselhos da ExxonMobil e da Chevron, em uma ação vista, ao menos inicialmente, como uma vitória em direção a planos mais ambiciosos de descarbonização.
Na Holanda, um tribunal local determinou que a Shell corte em 45% suas emissões e antecipe planos de neutralidade, em uma ação movida por ONGs europeias. A empresa deve recorrer da decisão.
O marco comum da indústria é atingir a neutralidade de carbono em 2050, para colaborar com a meta de controle do aquecimento global em 2ºC ou menos prevista no Acordo de Paris. Analistas externos e ativistas acham pouco e a pressão externa tem se manifestado na forma da antecipação de compromissos para a próxima década.
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É preciso financiar a transição, diz Pouyanné
Recentemente, Patrick Pouyanné participou de um encontro da Citi sobre ESG, justamente em um painel sobre a necessidade de antecipar planos de descarbonização, de 2050 para 2030.
Defendeu, entre outros, um ponto-chave para uma empresa como a TotalEnergies: será preciso financiar a transição.
“Se eu quiser mudar para a TotalEnergies, preciso de algum apoio dos investidores, incluindo o custo da minha dívida. Se minha dívida está aumentando porque as pessoas vão considerar que eu tenho 70% do meu portfólio fóssil, e então eu não sou bom, isso não será positivo para me empurrar na direção certa”, disse.
Afirmou que as políticas públicas, inclusive de estímulo às alternativas verdes, serão fundamentais.
“[E] Os investidores são a outra parte da equação. Têm que integrar esta ideia de transição e a transição energética não virá apenas de novas empresas verdes com novos investimentos. Virá também de agentes maiores com a capacidade de aportar esse capital”, disse.
De acordo com Pouyanné, é preciso um entendimento de que os balanços das companhias do setor estão atrelados ao financiamento e, portanto, à rentabilidade do petróleo.
Hoje, os acionistas da companhia recebem dividendos de 6% a 7% do petróleo, comentou.
“Por isso, é muito importante que mantenhamos todos os formadores de política – e sei que não é tão fácil – e os investidores também, [isto é], a comunidade financeira deve se integrar com a ideia de transição. A transição não é da noite para o dia. Leva tempo”.
“Em toda esta primeira fase de investimentos em renováveis, criei uma infraestrutura. E então, em 10, 15 anos, após a amortização inicial, vocês [os investidores] terão um retorno muito bom. Quando você está investindo em uma empresa como a Total Energies, você precisa investir a longo prazo”, completou.
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