HOUSTON, TX – A Petrobras entende que é preciso dar prioridade às indústrias no fornecimento de gás natural nos próximos anos, mas sem sacrificar a margem de lucro, disse à epbr o novo diretor de Transição Energética, Maurício Tolmasquim.
O executivo, que se dedicou em anos recentes aos debates sobre descarbonização, defende que o gás natural tem um papel a cumprir na redução de emissões da produção industrial no Brasil.
Mas para fazer sentido, é preciso atender os mercados em que o fornecimento de gás natural for competitivo. “O gás [natural] deve entrar onde ele for competitivo. Então eu não gosto muito da palavra “interiorização”. Eu acho que [devemos] atender os mercados em que ele realmente seja competitivo”, disse.
Maurício Tolmasquim conversou com a agência epbr na Offshore Technology Conference (OTC), em Houston, Texas (EUA), em sua primeira entrevista exclusiva após assumir oficialmente o cargo de diretor da Petrobras.
Gás natural na transição da indústria
Tolmasquim é um crítico contratação obrigatória das térmicas a gás natural na base, contrapartida do Congresso Nacional para aprovar a privatização da Eletrobras. A lei prevê 8 GW, preferencialmente em regiões não atendidas por infraestrutura de gás.
Em declarações passadas, antes de ser escolhido para o cargo na petroleira, ele já defendeu que as térmicas na base acabam por desperdiçar o potencial de energias renováveis do país. O posicionamento consta no relatório do gabinete de transição, do qual Tolmasquim fez parte.
“Na Europa e nos Estados Unidos, a geração de energia termelétrica [a gás] é considerada transição energética, porque emite menos que as outras fontes fósseis, como o carvão. No Brasil, como a gente tem uma matriz muito renovável, a geração de energia [a gás] não é bem considerada transição. Mas no setor industrial é”, comentou.
A intenção da companhia, afirmou Tolmasquim, é ampliar o fornecimento ao setor industrial em situações em que o energético seja competitivo com fontes alternativas. Não se trata, portanto, segundo ele, de um plano de interiorização do gás. “Não gosto da palavra ‘interiorização’ do gás. Não é disso que a gente está falando”
Tolmasquim diz que a ideia é atender à demanda da indústria por mais gás e tentar ser mais competitivo nos preços. “É uma demanda da sociedade, uma demanda do mercado. E a gente vai olhar isso como um mecanismo de redução de emissões”, disse.
O presidente da Petrobras, Jean Paul Prates, já sinalizou a intenção de rever a fórmula de preços do gás natural, para dar mais peso aos custos domésticos de produção na precificação da molécula do gás.
Como diretor de Transição Energética, Tolmasquim coordena as atividades de descarbonização, mudanças climáticas, novas tecnologias e sustentabilidade, além das atividades comerciais de gás natural.
“O nosso grande desafio é tentar privilegiar o atendimento a esse setor industrial. Uma necessidade é que a gente tenha um processo de comercialização para tornar os produtos mais acessíveis, claro que mantendo todos os critérios de empresa, de lucratividade”, diz.
Nova diretoria de transição energética
Na entrevista à epbr, afirmou também que, o plano da companhia para reduzir sua pegada de carbono nos próximos anos levará à diversificação do investimento em renováveis – além das eólicas offshore – e à busca de parcerias com outras empresas.
Afirma que, sem deixar de ser uma empresa de petróleo, a Petrobras precisa recuperar “o tempo perdido” e reduzir as emissões dos seus produtos. “O grande desafio que temos é tornar os produtos da Petrobras mais verdes, dado que na descarbonização em si dos processos produtivos, estamos bem”.
Tolmasquim assumiu oficialmente em 1º de maio, quando foi concluída a reestruturação da Petrobras. No fim de março, atuou como gerente executivo de Estratégia da Petrobras, área responsável por elaborar os planos plurianuais de investimento e planejamento de longo prazo da companhia.
Mestre em Engenharia de Planejamento Energético pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Maurício Tolmasquim é professor titular da COPPE/UFRJ.
Foi presidente da Empresa de Pesquisa Energética (EPE), estatal de planejamento vinculada ao Ministério de Minas e Energia (MME), de 2004 a 2016, nos governos Lula e Dilma Rousseff. Também foi secretário executivo de Minas e Energia.