Glasgow – O ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, disse à epbr que a energia termelétrica é necessária para manter a segurança energética do país e que a expansão da geração térmica não significa “sujar” a matriz brasileira.
“Elas [termelétricas] são para ser utilizadas. Isso significa reserva de capacidade. Não são utilizadas 365 dias por ano, 24h por dia. Quando não tem vento, não tem sol, não tem água, tem que usar termelétricas para ter segurança”, defendeu.
O ministro participa da COP26 em Glasgow, na Escócia, onde o governo brasileiro anunciou o objetivo de alcançar participação entre 45% e 50% de energias renováveis na matriz energética em 2030.
Bento, por sua vez, afirmou nesta quarta (3) que o país chegará a 2030 com metade da sua matriz energética limpa.
A meta anunciada em documentos do Ministério do Meio Ambiente aponta margem para redução de renováveis na matriz.
Segundo Bento, o Brasil tem expandido a matriz e garantindo a manutenção da “renovabilidade”, como por exemplo o crescimento da geração eólica e solar.
“Essa complementaridade, que existe entre as fontes torna a matriz cada vez mais resiliente sem a necessidade de se utilizar a energia termelétrica [na base]”, pontuou.
“A nossa matriz elétrica é a mais limpa dos países da OCDE, dos países do G-20. Então, nós utilizamos o nosso parque termelétrico, ele faz parte da nossa matriz que já é considerada a mais limpa do mundo (…) Mas a energia termelétrica, não só no Brasil, mas em outras partes do mundo, é necessária para manter a segurança energética do sistema. Então é isso que foi feito, não tornamos a nossa matriz suja por conta disso”, diz.
Efeitos da escassez hídrica
Com a crise hidroenergética no último ano, o governo recorreu a maior queima de gás natural e cogeração de biomassa, mas também aumentou o despacho de usinas a óleo combustível e a diesel, mais poluentes.
O ministro lembrou que o gás natural é considerado como uma fonte energética de transição, por emitir menos do que o óleo combustível, e que a substituição de usinas antigas pode ajudar o Brasil a diminuir o impacto das térmicas.
“Temos um programa de 8GW de termelétricas a gás natural. Com isso, vamos reduzir no mínimo 35% nas emissões quando tivermos que utilizar a geração termelétrica [na comparação com óleo]”, disse.
Com chuvas, prioridade é recuperar reservatórios e preparar sistema para 2022
Com a entrada no período úmido e o retorno das chuvas dentro da média histórica, o que dá um alívio para o sistema, o ministro de Minas e Energia avalia que o momento é de recuperação dos reservatórios e garantia do fornecimento em 2022, sem crise.
As previsões atuais apontam que o próximo ano também será historicamente mais seco.
“A escassez hídrica permanece. Não quero falar em crise. O que existe é escassez hídrica e a escassez permanece”, disse à epbr.
A estratégia do governo é manter o despacho de usinas termelétricas durante todo o período úmido para que os reservatórios possam chegar no próximo período seco, em 2022, com maior capacidade de geração.
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“Então já iniciamos um plano para encher [novamente] os reservatórios, para que fiquem em condições de atender aos usos múltiplos”.
Além do uso das águas para a energia elétrica, o Executivo quer se certificar de que as bacias hidrográficas possam atender ao uso múltiplo das águas, como agricultura, abastecimento, navegação e turismo.
A possibilidade de outros usos paras as águas é uma das maiores cobranças de lideranças políticas ligadas a regiões que estão sendo afetadas pela baixa nos reservatórios, como a bancada de Minas Gerais em relação à Furnas.
Ministro afirma que matriz energética atingirá 50% de renováveis
Bento Albuquerque também garantiu que o Brasil deve atingir a marca de 50% de renováveis na matriz energética até 2030 – uma meta mais ambiciosa do que a que foi anunciada pelo próprio Ministério do Meio Ambiente na COP26.
A proposta feita no papel pelo governo brasileiro é chegar de 45% a 50% da participação de renováveis, mas sem dar maiores detalhes.
Com exceção do Combustível do Futuro, não há um percursos detalhados de ações e programas ou até mesmo uma diretriz estratégica para expansão da geração de energia elétrica, por exemplo.
Se chegar em 2030 com o piso do que foi proposto significará um recuo das fontes renováveis, já que o país atingiu a marca de 48,4% em 2020.
“Os biocombustíveis, em particular o etanol e biogás, cuja principal fonte também é a cana-de-açúcar, têm desempenhado e desempenharão um papel ainda mais significativo nos esforços de descarbonização do setor de transporte”, afirmou o ministro em evento produzido pela Unica, em Glasgow.
O plano fala em aumentar a participação de “biocombustíveis sustentáveis”, incluindo “uso de biomassa na geração de energia”, sem citar metas específicas.
Na agenda da política energética está o biorrefino, a partir do diesel verde e do diesel de coprocessamento, produto que a Petrobras pretende colocar no mercado (o antigo HBio).
O governo ainda não oficializou como será a inserção do diesel verde – não há detalhes sobre como será feita e qual será a margem para competição entre o biodiesel e novos biocombustíveis no ciclo diesel, por exemplo. Decisão deve ser tomada até o fim do ano.
Do Combustível do Futuro, programa interministerial coordenado por Minas e Energia (MME), vão sair propostas para marcos legais e regulatórios para novas soluções – captura e armazenamento de carbono a partir de biomassa (ProBioCCS); e produção de combustíveis sustentáveis para a aviação (ProBioQAV).