BRASÍLIA — Relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) da ONU sobre o estado do clima global mostra que a temperatura da Terra em 2022 ficou 1,15°C acima da média de 1850-1900. O estudo considera uma margem entre 1,02°C e 1,28°C. Os anos de 2015 a 2022 foram os oito mais quentes no registro instrumental que começou em 1850.
Divulgado na última semana, às vésperas do Dia da Terra, o estudo alerta que 2022 foi o 5º ou 6º ano mais quente, apesar de três anos consecutivos de resfriamento do La Niña.
Além disso, as concentrações dos três principais gases de efeito estufa – dióxido de carbono, metano e óxido nitroso – atingiram níveis recordes em 2021, o último ano com valores globais consolidados.
Os cientistas da ONU apontam que o aumento anual na concentração de metano de 2020 a 2021 foi o mais alto já registrado. Dados em tempo real de locais específicos mostram que os níveis dos três gases de efeito estufa continuaram a aumentar em 2022.
“Enquanto as emissões de gases de efeito estufa continuam a aumentar e o clima continua a mudar, as populações em todo o mundo continuam a ser gravemente afetadas por eventos climáticos e climáticos extremos”, comenta Petteri Taalas, secretário-geral da OMM.
Ele cita como exemplos dos efeitos da mudança climática no último ano as secas contínuas na África Oriental, chuvas recordes no Paquistão e ondas de calor recordes na China e na Europa, que impulsionaram a migração em massa e custaram bilhões de dólares em perdas e danos.
O novo relatório da OMM é acompanhado por um mapa histórico dos indicadores climáticos e foca nos impactos.
De acordo com a análise, o aumento da desnutrição foi exacerbado pelos efeitos combinados dos riscos hidrometeorológicos e da covid-19, além de guerras.
Ao longo do ano, climas perigosos e eventos relacionados ao clima levaram a novos deslocamentos populacionais e pioraram as condições de muitas das 95 milhões de pessoas que já viviam deslocadas no início do ano.
Clima extremo e prejuízos bilionários
Entre os eventos climáticos extremos em 2022, a OMM lista a seca que tomou conta da África Oriental, as inundações no Paquistão e as ondas de calor na Europa, Índia e Paquistão que levaram a prejuízos bilionários.
Na África Oriental, a precipitação está abaixo da média há cinco estações chuvosas consecutivas, a mais longa sequência desse tipo em 40 anos.
Em janeiro de 2023, estimava-se que mais de 20 milhões de pessoas enfrentavam insegurança alimentar aguda em toda a região, sob os efeitos da seca e de outros choques.
Já no Paquistão, as chuvas recordes em julho e agosto do ano passado levaram a grandes inundações com saldo de mais de 1.700 mortes e 33 milhões de pessoas afetadas, enquanto quase 8 milhões de pessoas foram deslocadas. Os danos totais e as perdas econômicas foram avaliados em US$ 30 bilhões.
Ondas de calor
O verão europeu foi marcado por calor extremo e, em algumas áreas, condições excepcionalmente secas. O excesso de mortes associadas ao calor na Europa ultrapassou 15 mil somando Espanha, Alemanha, Reino Unido, França e Portugal.
A China teve sua onda de calor mais extensa e duradoura desde o início dos recordes nacionais, estendendo-se de meados de junho até o final de agosto e resultando no verão mais quente já registrado por uma margem de mais de 0,5 °C. Foi também o segundo verão mais seco já registrado.
Índia e Paquistão também sofreram com ondas de calor na estação pré-monções de 2022, cujo resultado foi uma queda no no rendimento das safras, ameaçando a disponibilidade de alimentos básicos nos mercados internacionais. O cenário, que já estava prejudicado pelas restrições às exportações de arroz na Índia após o início do conflito na Ucrânia, ficou ainda mais escasso, observa a ONU.