Energia

TCU sugere ao governo acabar com leilões de térmicas da lei de privatização da Eletrobras

Tribunal cita que contratação compulsória de usinas previstas na lei não tem respaldo técnico

TCU sugere ao governo acabar com leilões de térmicas da lei de privatização da Eletrobras. Na imagem: Homem branco, calvo, de cabelos e barba brancos, de terno e gravata, está sentado em cadeira preta, diante de microfone sobre mesa de madeira. Ministro do TCU Benjamin Zymler (Foto: TCU)
O relator Benjamin Zymler citou a carência de estudos sobre as consequências tarifárias e efeitos ambientais da contratação das térmicas (Foto: TCU)

RIO — O Tribunal de Contas da União (TCU) recomendou nesta quarta (25/1) que o Ministério de Minas e Energia avalie a possibilidade jurídica de não contratar parte das termelétricas a gás natural imposta pela lei de desestatização da Eletrobras.

A área técnica da corte de contas concluiu que, apesar de prevista em lei, a contratação compulsória dos 8 GW, a serem instalados em regiões específicas do interior do país, sobretudo em áreas não atendidas por gasodutos, não tem respaldo técnico. Além disso, fere princípios legais e constitucionais que regem a administração pública e o setor elétrico — como os da eficiência, defesa do consumidor e livre concorrência.

O relator Benjamin Zymler citou, dentre outros pontos, a carência de estudos sobre as consequências tarifárias da contratação das térmicas e sobre os efeitos ambientais da construção dos gasodutos que atenderão às usinas.

Relembre:

Além disso, contestou a falta de critérios claros na divisão de quantos gigas serão contratados em cada região. E destacou que, atualmente, não existe estudo oficial indicando a necessidade sistêmica para contratação dos 8 GW na modalidade energia de reserva para início de suprimento entre 2026 a 2030, como previsto na lei.

“O Poder Legislativo acabou adentrando num terreno técnico que incumbe ao MME, à Aneel [Agência Nacional de Energia Elétrica]: a ideia de regulação do setor de energia elétrica”, argumentou Zymler.

Ao TCU, cabe apenas recomendar

O relator afirmou que o TCU tem limites de competência para lidar com o assunto. E citou o entendimento do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, de que não cabe ao Tribunal de Contas exercer o controle difuso de constitucionalidade nos processos sob sua análise. Daí a decisão de apenas recomendar o MME.

“Eu, me colocando na posição do MME, estaria absolutamente tentado a buscar em cada caso concreto a não aplicação da literalidade da lei. Mas não posso impor a eles isso que imagino que faria”, comentou Zymler, em seu voto.

Zymler também mencionou que dará ciência ao Ministério Público Federal (MPF) e associações de consumidores de energia para que eles avaliem a possibilidade de entrar com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) no STF questionando a lei de privatização da Eletrobras.

A análise do TCU é uma resposta a um pedido do deputado federal Elias Vaz (PSB/GO), encaminhado por meio da Comissão de Fiscalização Financeira e Controle da Câmara.

No radar do governo

A contratação compulsória dos 8 GW térmicos previstos na lei sofre oposição das associações de consumidores e ambientalistas.

O assunto esteve no radar também do gabinete de transição de governo, no fim de 2022. O programa de governo de Lula, aliás, faz oposição à própria privatização da Eletrobras.

Nas discussões do grupo de energia do gabinete de transição, o coordenador do grupo de trabalho de Minas e Energia, Maurício Tolmasquim, defendeu diversas vezes que é preciso rever a contratação compulsória de térmicas — que tendem a encarecer a tarifa, na visão dos grandes consumidores.

Durante os debates do gabinete, foi feita uma defesa pela edição de uma medida provisória revogando a obrigação com as térmicas inflexíveis. Essas informações foram antecipadas em novembro, pelo político epbr.

“Na energia elétrica, a principal preocupação diz respeito à mitigação das consequências negativas da privatização da Eletrobras sobre as tarifas do setor elétrico, em função do processo de “descotização” e da concentração de poder de mercado em uma empresa privada”, diz o relatório do grupo de transição.