RIO – A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil S.A. (TBG) espera realizar em 2024 a contratação da capacidade do projeto de ampliação do Gasbol.
Inicialmente, a expectativa era realizar este ano a chamada pública incremental para oferta da capacidade extra do gasoduto Bolívia-Brasil, mas a transportadora decidiu rever o escopo do projeto.
A TBG informou à agência epbr que realizou consultas recentes ao mercado para reanálise da demanda e que, a partir disso, “vem estudando soluções para um projeto otimizado”.
O projeto original da TBG previa a ampliação da capacidade do Gasbol em 4 milhões de m³/dia, mas depois de uma reavaliação do mercado, a empresa ampliou o escopo para até 7 milhões de m³/dia.
A transportadora se debruçou, ao longo do ano, na otimização desse último projeto e esclareceu que só ao fim das novas análises de mercado é que será possível definir a “capacidade ótima a ser ofertada”.
Segundo a TBG, a companhia faz consultas constantes ao mercado, porque o “cenário de demanda tem se mostrado razoavelmente volátil”.
Em Santa Catarina, por exemplo, a distribuidora local, a SCGás, lida com frustrações na demanda – em especial do setor ceramista.
Gasbol terá cada vez menos gás boliviano
A ampliação do Gasbol é um projeto previsto para ser concluído no fim da década e é discutido num momento em que a Bolívia vem enfrentando dificuldades para repor suas reservas de gás natural e vem reduzindo suas exportações ao Brasil, por meio do gasoduto.
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A expectativa é que a demanda da região Sul seja abastecida, cada vez mais, daqui para frente, com o gás do pré-sal. A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) destaca, nos estudos preparatórios do Plano Decenal de Expansão (PDE) 2032, por exemplo, que o Sudeste – principal produtor de gás do país – deve se consolidar como fonte de gás para o Sul.
A Nova Transportadora do Sudeste (NTS), por exemplo, tem um projeto, batizado de “Corredor Pré-Sal”, que prevê aumentar a capacidade de oferta de gás do Rio até São Paulo – na conexão com o Gasbol.
Além disso, o gás argentino, se um dia o projeto de integração entre o Brasil e o país vizinho sair do papel, também pode despontar como um supridor da região Sul, via Gasbol.
Gasbol convive com gargalos
Do lado da demanda, os gargalos do gasoduto Bolívia-Brasil já são uma realidade. O Gasbol é telescópico, o seu diâmetro é menor ao longo da extensão. Mais de 20 anos após a construção do gasoduto, ele apresenta barreiras à expansão do mercado no Extremo Sul, sobretudo entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
A capacidade do Gasbol até o Rio Grande do Sul está limitada em 2,5 milhões m³/dia. O consumo no estado costuma bater no teto durante o inverno.
A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) já aponta, em seus estudos, restrições, por exemplo, na operação da termelétrica Canoas (248,5 MW) a plena carga, de forma simultânea à operação do Pólo Petroquímico de Triunfo – o que leva a substituição do gás por diesel na usina.
A TBG espera concluir em 2024 um projeto de reforço da capacidade do trecho sul, a partir da ampliação de estações de compressão – e, assim, transferir uma capacidade de saída de 680 mil m³/dia para o extremo sul do gasoduto. Mas os ganhos são marginais.
ANP revê regras de contratação de gasodutos
Em paralelo à revisão do escopo do projeto de ampliação do Gasbol, a Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) está revisando as regras de contratação de capacidade dos gasodutos de transporte.
O objetivo é simplificar os procedimentos e dispensar a contratação de capacidade existente das chamadas públicas.
As CPs passam a ser obrigatórias somente para contratação de capacidade incremental – ou seja, ampliação ou construção de um novo gasoduto. O objetivo dela é estimar a demanda pelo serviço de transporte em questão. Em seguida, é feita a contratação da capacidade em si.
A ANP esclareceu que, para o efetivo lançamento do processo de chamada incremental do Gasbol, ainda aguarda a apresentação de novo mapeamento de demanda, atualizado pela TBG em 2023, bem como a apresentação de nova documentação que reflita os resultados obtidos pela transportadora em sua pesquisa junto ao mercado.
A agência esclareceu, ainda, que não necessariamente a chamada pública do Gasbol depende da conclusão da nova regulamentação – prevista para outubro.