Gás Natural

TBG estuda uma rota de gasoduto para o Triângulo Mineiro

Projeto é alternativo ao Brasil Central, da TGBC, concebido há 20 anos, mas que nunca saiu do papel

Sulgás e Necta fecham contratos de longo prazo com Petrobras para compra de gás; seis distribuidoras já celebraram acordos. Na imagem: Estação de entrega de gás natural do Gasbol, da TBG (Foto: Divulgação)
Estação de entrega de gás natural do Gasbol, da TBG (Foto: Divulgação)

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Editada por André Ramalho
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PIPELINE | TBG estuda rota de gasoduto para o Triângulo Mineiro. Projeto alternativo ao Brasil Central, da TGBC, concebido há 20 anos, mas que nunca saiu do papel.

IEA vê pico de demanda por gás mais próximo. E aposta no Brasil como um dos cinco maiores produtores de biometano do mundo. Guerra para campo de gás da Chevron em Israel e mais. Confira:

UMA NOVA ROTA PARA MINAS  A Transportadora Brasileira Gasoduto Bolívia-Brasil (TBG) tem observado um “interesse mais efetivo de empreendedores” no Triângulo Mineiro e considera incluir a região no plano de expansão de sua malha de gasodutos.

O interesse numa rota para Minas Gerais a partir do Gasbol, em São Paulo, tem sido manifestado pela empresa, controlada pela Petrobras, a autoridades políticas e grupos empresariais.

A TBG mira, do lado da demanda, as perspectivas de retomada do projeto do polo gás-químico de Uberaba – à espera de uma possível política de incentivo ao uso do gás para produção de fertilizantes, nas discussões do programa Gás para Empregar.

Já do lado da oferta, a transportadora vê potencial na injeção do biometano, sobretudo do interior paulista, na malha de transporte.

A TBG desponta, assim, como alternativa ao gasoduto Brasil Central, projeto concebido há 20 anos pela transportadora TGBC, ligada ao empresário Carlos Suarez, mas que nunca saiu do papel.


TBG PREPARA PROJETO  Na semana passada, a TBG (representada pelo head de Novos Negócios e Regulação, Robson Coelho) se reuniu com o secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, Guilherme Piai, para tratar do potencial de injeção de biometano na rede de transporte.

Um dos interlocutores, nessa aproximação, é Anderson Adauto, ex-prefeito de Uberaba (MG) e ex-ministro dos Transportes de Lula e que articula a retomada do projeto da fábrica de fertilizantes no município mineiro – um trunfo, também, para as ambições político-eleitorais do ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira (PSD/MG).

Adauto é um dos principais coordenadores da Coalizão pela Competitividade do Gás Natural Matéria-Prima – uma reunião, não homogênea, de grupos empresariais que defende a prioridade ao setor de fertilizantes e à indústria química numa política nacional para o gás.

O presidente da Associação Brasileira de Engenharia Industrial (Abemi) e líder da Coalizão pelo Gás Natural Matéria Prima, Joaquim Maia, esclareceu que a Coalizão é uma entidade institucional e que não tem nenhum projeto em particular — e sim desenvolver o mercado como um todo.

Procurada, a TBG confirmou o interesse no desenvolvimento de um gasoduto até o Triângulo Mineiro, a partir de São Paulo. A ideia é que, no caminho, o duto passe pelo interior paulista, onde há um grande potencial de produção do gás renovável – associado, sobretudo, ao agronegócio.

A TBG esclareceu à agência epbr que o trajeto do gasoduto ainda está sob avaliação e que a transportadora ainda não definiu um projeto conceitual – que, uma vez concluído, passará por consulta pública e poderá, então, ser adaptado de acordo com outras necessidades e interesses do mercado. A empresa não deu prazos para a conclusão dos trabalhos.

“A proposta de um gasoduto para abastecer o Triângulo Mineiro é um projeto que vem sendo considerado há algum tempo. Recentemente, vem sendo identificado o interesse mais efetivo de empreendedores da região. A TBG tem acompanhado de perto essa possibilidade e está preparada para a expansão nessa direção, após a confirmação da viabilidade econômica do projeto”, complementou a companhia.

Além de atender à demanda em Uberaba, o objetivo, segundo a TBG, é conquistar o maior número possível de mercados ao longo do percurso – aí incluída a injeção de biometano.

“Isso porque, quanto maior a capacidade contratada, menor será a tarifa, o que contribuirá para a viabilidade dessa nova infraestrutura”, pontuou a empresa.

Mas muita água ainda precisa correr por debaixo dessa ponte…

A produção de fertilizantes a partir do gás é, historicamente, um desafio do ponto de vista econômico, no Brasil. Exige preços bastante competitivos para o gás natural.

Nas gestões passadas, durante o governo Bolsonaro, a Petrobras decidiu fechar as unidades por falta de retorno. E mesmo hoje, num governo mais predisposto a retomar os investimentos no setor, a estatal ainda entende que o custo de oportunidade é elevado.

O Gás para Empregar promete um aumento da oferta de gás a preços competitivos para reindustrialização do país. Mas quanto de gás haverá, de fato, para políticas públicas para o setor de fertilizantes?

E a que preço essa molécula chegará?

Tudo isso ainda precisa ser respondido pelo grupo de trabalho do Gás para Empregar. Assim como ainda restam dúvidas sobre qual será o real empenho da Petrobras para viabilizar a retomada dos investimentos em fertilizantes – e de Uberaba, especificamente.

A petroleira deixou o setor de fora do lançamento do PAC, mas prometeu incluir novos projetos no programa federal entre novembro ou dezembro, para quando está prevista a divulgação do novo plano estratégico da petroleira.

A empresa tem planos, ainda não detalhados, de investir em petroquímica e fertilizantes. Jean Paul Prates já defendeu a retomada da fafen da Três de Lagoas (MS) – disse que o projeto para de pé, economicamente – e sinalizou interesse em petroquímica no Polo Gaslub (RJ). Mas nenhum compromisso foi assumido publicamente para Uberaba

A expectativa dentro da Coalizão, segundo Adauto, é que a fábrica de fertilizantes do Triângulo Mineiro seja tocada pela inciativa privada.

E O BRASIL CENTRAL? O Triângulo Mineiro é um dos principais mercados previstos no traçado original do Brasil Central – projeto de 905 km da TGBC, concebido para ligar São Carlos (SP) a Brasília (DF), passando pelo Triângulo Mineiro e Goiás.

O presidente da TGBC, José Carlos Garcez, conta à epbr que, comparativamente a um eventual projeto da TBG, o Brasil Central larga na frente no aspecto do licenciamento – um dos principais gargalos para projetos de infraestrutura do Brasil.

A licença de instalação do gasoduto da TGBC venceu em 2019, mas a empresa espera conseguir até o fim do ano uma nova licença – sem mudanças no traçado. A TBG, por sua vez, sequer possui um projeto definido.

O Brasil Central aposta numa outra âncora de demanda para tirar o gasoduto do papel: as termelétricas previstas na lei que autorizou a privatização da Eletrobras. A legislação prevê a realização de leilões de reserva exclusivos para usinas a gás natural. São 8 GW de potência, com critérios locacionais, sendo 2,5 GW no Centro-Oeste.

Depois de uma primeira tentativa frustrada de contratação das térmicas no Maranhão e Piauí, em 2022, no fim do governo Bolsonaro, os leilões das termelétricas no interior do país entraram em compasso de espera. O MME de Alexandre Silveira não é simpático ao modelo e já defendeu a renegociação dos termos da contratação.

“Temos que agora aproveitar esse momento e achar um denominador. Particularmente, eu sou um grande defensor das energias limpas e renováveis. E, em especial, estáveis, que é o caso das hidrelétricas do país. Estimular as hidrelétricas.”, afirmou Silveira, em agosto.

CONCORRÊNCIA? Relembrando… Nova Lei do Gás prevê que a autorização para construção de novos gasodutos de transporte deverá prever, nos casos estabelecidos em regulamentação, período de contestação.

Se houver mais de um transportador interessado, a ANP deverá promover processo seletivo público para escolha do projeto mais vantajoso, considerados os aspectos técnicos e econômicos.

Nas articulações para colocar de pé o projeto de fertilizantes de Uberaba, Anderson Adauto tem defendido, publicamente, que os investimentos no gasoduto sejam feitos pela TBG – e não pela TGBC, que também integra a Coalizão pela Competitividade do Gás, mas que enfrenta há décadas dificuldades para tirar do papel o Brasil Central.

Mais uma demonstração de como a Coalizão, no fundo, se trata de um grupo com interesses nada homogêneos.

O ex-prefeito de Uberaba defende que a iniciativa da TBG, não necessariamente, mata as pretensões da TGBC.

“A partir do momento em se que chegar gás à Uberaba [com um eventual gasoduto da TBG], isso pode facilitar a vida da própria TGBC, para que ela, no futuro, venha a expandir o traçado até Goiás e Brasília [onde estão as concessões de gás canalizado da Termogás, também de Carlos Suarez]”, argumenta.

Garcez rebate. Segundo ele, não há dificuldades de se financiar o Brasil Central.

“Tendo a licença e o PPA [contratos de longo prazo] das térmicas é fácil estruturar financeiramente. Mas, para isso, mudar as condições do leilão [das termelétricas] é imprescindível para deixá-lo mais competitivo”, disse.

Anderson Adauto, por sua vez, defende que o gasoduto até Uberaba não precisa dessas térmicas para se viabilizar.

A região, segundo ele, tem um potencial de demanda da ordem de 5 milhões a 6 milhões de m3/dia – incluída a fábrica de fertilizantes, uma planta de metanol, uma unidade de combustível sustentável de aviação e até uma termelétrica para abastecimento do polo, mas que não se trata das usinas da lei de privatização da Eletrobras.

“Estamos nos colocando, rigorosamente, fora dessa discussão [sobre ancorar o gasoduto em térmicas], porque foi aprovada no Congresso, mas com muita contestação técnica e política em cima”, comentou.

A TERCEIRA ROTA E tem mais… Em 2022, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) incluiu, no Plano Indicativo de Gasodutos de Transporte (PIG), um projeto que visa levar gás ao Triângulo Mineiro, mas que parte de Jacutinga (MG), do Gaspaj (Paulínia-Jacutinga), na malha da Nova Transportadora do Sudeste (NTS).

Com uma extensão de 320 km, o projeto corta 12 municípios nos estados de Minas Gerais e 16 em São Paulo. Foi dimensionado com uma vazão de 6 milhões de m³/dia, passando por cidades como Franca (SP) e Poços de Caldas (MG).

A EPE defende que o gasoduto Jacutinga (MG) — Uberaba (MG) seria uma oportunidade de otimizar a utilização do Gaspaj. Partiria de uma oferta de gás mais próxima ao hub de Paulínia (SP) e teria acesso tanto a ofertas de gás do pré-sal (da malha da NTS) quanto do gás boliviano (TBG).

Procurada, a NTS não confirmou – nem negou – interesse no projeto. Destacou, contudo, que, independente do caminho escolhido de um eventual gasoduto até o Triângulo Mineiro, é necessário, primeiro, eliminar os gargalos da capacidade de envio do gás do pré-sal até a malha em São Paulo.

A empresa cita, então, o seu projeto de reforço da compressão em Japeri (RJ). A previsão da NTS é abrir, em novembro, uma consulta ao mercado para avaliar as premissas do projeto conceitual de desengargalamento da malha da companhia, incluindo o cenário de oferta e demanda para os próximos dez anos projetado pela NTS.

GÁS NA SEMANA

GNLink e Petrobahia juntas em GNL small scale na Bahia. As empresas assinaram um acordo comercial e formarão uma Parceria Público-Privada (PPP) com a Bahiagás, a fornecedora do gás natural do projeto. A planta de liquefação será conectada à rede de distribuição da concessionária baiana, em Itabuna, no sul da Bahia, com capacidade para 98 mil m3/dia. A previsão é que o projeto comece a operar no terceiro trimestre de 2024.

Brasil será um dos 5 maiores produtores de biometano do mundo. Relatório da Agência Internacional de Energia cita que o mercado brasileiro “ainda está em sua infância”, mas que o país representará mais de 10% do fornecimento incremental do gás renovável no mercado global até 2026.

IEA vê pico de demanda por gás no fim da década. Expectativa da Agência Internacional de Energia é que o crescimento da capacidade de liquefação, associado ao declínio da demanda em mercados maduros, alivie as tensões sobre os preços do GNL após 2025.

Lei do Hidrogênio. Relatório preliminar da Comissão Especial de Transição Energética e Produção de Hidrogênio da Câmara propõe um Regime Especial de Incentivos para a Produção de Hidrogênio de Baixo Carbono (Rehidro). A ideia é que os incentivos sejam proporcionais à quantidade de emissões evitadas.

Conflito no Oriente Médio impacta produção em Israel. Governo local determinou a suspensão do campo de gás Tamar, na costa sul do país, e buscará fontes alternativas para atender à demanda, em meio à guerra entre o Hamas e Israel. A Chevron, que opera o ativo, confirmou que foi instruída a suspender a operação do campo, uma importante fonte de gás para os geradores de energia e indústria.

– O Goldman Sachs destaca que a interrupção do campo, que produz 10 bilhões de m³/ano, deve acentuar a restrição na oferta global de GNL e elevar os riscos sobre os preços europeus do gás.

Rússia inicia exportações de gás para UzbequistãoMoscou tenta aumentar sua influência política nas antigas repúblicas soviéticas da Ásia Central e também se aproxima do Cazaquistão.

Atualizado no dia 14/10, para introdução do posicionamento da Abemi, como liderança da Coalizão