RIO — Nos próximos dias, o Porto de Suape, em Pernambuco, vai abrir uma chamada pública para que a francesa Qair apresente oficialmente o projeto de instalação de uma usina produtora de hidrogênio verde no estado, com investimentos da ordem de R$ 20 bilhões.
“Os passos agora são para definição de área em que eles pretendem elaborar o projeto. Eles vão apresentar ao Suape um cronograma de realização, estudos técnicos mais especializados, o projeto básico da planta, e de onde virá a energia utilizada”, afirmou Roberto Gusmão, presidente do porto, à agência epbr.
Uma fonte da Qair no Brasil confirmou que o assunto está em discussão, mas não detalhou a data para o anúncio.
Será o primeiro passo para a formulação de um contrato e, posteriormente, o lançamento da pedra fundamental do projeto em 2023. O início da operação está previsto para 2026.
O investimento é planejado em quatro fases, até chegar a uma produção de 480 mil toneladas de hidrogênio verde ao ano, para atender parte da demanda do mercado europeu pelo energético.
Até agora, há apenas um memorando de entendimento entre a companhia e o porto pernambucano. A Qair também possui um memorando similar com o Porto do Pecém, no Ceará.
Além dela, o porto de Suape possui protocolos relacionados à produção de hidrogênio verde assinados com outras empresas, entre eles a Casa dos Ventos, Neoenergia e White Martins/Linde.
Suape tenta atrair geração de energia renovável
Paralelamente, Suape trabalha, junto à Agência de Desenvolvimento Econômico de Pernambuco (Adeppe), no mapeamento de possíveis áreas para instalação de parques eólicos e solares que irão abastecer a planta da Qair.
Ao contrário de outros portos brasileiros que possuem protocolos para implantação de usinas produtoras de hidrogênio verde, como no Ceará e Rio de Janeiro, o Suape não conta com projetos de instalação de eólicas offshore nas suas proximidades.
Gusmão explica que, devido ao sistema integrado, esses parques não precisam necessariamente estar próximos ao porto.
“Você pode produzir essa energia em outras partes de Pernambuco mais eficientes, como o sertão e o agreste, e fazer essa distribuição e transmissão”, diz o presidente.
Suape vem se antecipando para acelerar o licenciamento ambiental do projeto da Qair. A expectativa é que um licenciamento prévio seja concluído ainda este ano.
“Estamos preparando com o órgão estadual do meio ambiente, a CPRH, uma resolução voltada para o hidrogênio verde que ajude o entendimento de analistas ambientais para poder fazer o licenciamento”, explicou Carlos Cavalcanti, diretor de sustentabilidade de Suape, à agência epbr.
Conexão Suape-Hamburgo
O complexo portuário também vem estreitando as relações com o Porto de Hamburgo, na Alemanha, para criação de um corredor de hidrogênio verde ligando o Brasil à Europa, a exemplo do que vem sendo desenhado entre o Porto de Pecém, no Ceará, com Roterdã, na Holanda.
“Nós estamos em diálogo com alguns portos, e Hamburgo é um deles. O porto alemão tem todo o interesse de desenvolver essa integração com o Suape e outros portos nacionais nessa área de hidrogênio. O Porto de Hamburgo é um dos principais portos da Europa de movimentação de granéis líquidos. E em Suape nós somos líderes em cabotagem de granéis líquidos”, conta Gusmão.
Ele explica que uma das principais questões discutidas entre os portos é a adaptação das instalações para transporte e armazenamento de amônia verde com segurança, uma vez que o material é altamente inflamável.
Indústria verde em Pernambuco
O presidente do Suape diz que a estratégia de Pernambuco não é só exportar a molécula de hidrogênio verde, mas também produzir insumos que possam ser usados na indústria de baixo carbono no estado.
“Queremos agregar valor. Precisamos desenvolver a indústria verde em Pernambuco e estamos trabalhando em um Plano Diretor de Suape para definir áreas para esse tipo de indústria”.
Hoje, são 224 empresas instaladas no complexo de Suape. Para o diretor de sustentabilidade do Porto, Carlos Cavalcanti, uma das opções estudadas é a produção de hidrogênio verde em pequena escala, uma espécie de geração distribuída.
“É um modelo que pode ser rapidamente replicável no próprio complexo industrial portuário de Suape, em que inclusive a própria indústria pode fazer a sua transição de descarbonização”, explica.
Para ele, o modelo poderia agilizar essa transição ao não depender da produção centralizada de hidrogênio verde.
“Para ter uma escala grande de produção de hidrogênio verde você vai demorar uns quatro anos, cinco anos, mas para ter essa produção em pequena escala, você pode ter em um ano”, acredita Cavalcanti.
Suape também está realizando um inventário de emissões de gases do efeito estufa para certificar o porto como carbono neutro. O complexo conta com uma reserva ambiental de oito mil hectares de Mata Atlântica e vai reflorestar mais mil hectares de mata nativa.
A expectativa é não só compensar as próprias emissões como também vender créditos de carbono aos seus clientes, que poderão neutralizar parte de suas emissões ao operar no no território do porto.