Biocombustíveis

Statkraft avalia hidrogênio e biocombustíveis no Brasil

“Acredito que a maior parte dos parques eólicos vão se tornar híbridos, é uma combinação muito boa”, afirmou Rynning-Tønnesen

Norueguesa Statkraft avalia hidrogênio e biocombustíveis no Brasil, afirma CEO global, Christian Rynning-Tønnesen, em evento de lançamento de complexo eólico durante visita ao Brasil, em fevereiro de 2024 (Foto: Divulgação)
CEO global da Statkraft, Christian Rynning-Tønnesen, durante o lançamento de complexo eólico no Brasil (Foto: Divulgação)

A Statkraft mira potenciais investimentos no Brasil em hidrogênio e biocombustíveis, além de considerar transformar todos os projetos de geração eólica no país em híbridos, com geração solar fotovoltaica associada. Segundo o CEO global da companhia, Christian Rynning-Tønnesen, a empresa vê o hidrogênio como uma extensão da eletricidade renovável.

“No futuro, o mundo vai precisar de moléculas, não apenas de eletricidade. E essas moléculas devem ser, predominantemente, de hidrogênio”, disse em visita ao Brasil esta semana.

A Statkraft está iniciando a construção dos seus primeiros projetos de hidrogênio na Europa. A ideia é, eventualmente, replicar o modelo no Brasil no futuro. Segundo o executivo, a mesma estratégia deve ocorrer no segmento de biocombustíveis, área na qual a companhia está iniciando a atuação, com a construção de uma planta piloto na Noruega. Rynning-Tønnesen ressaltou o papel de destaque global que o Brasil tem nessa área.

“Estamos buscando novas formas de produzir combustíveis renováveis, com o uso de resíduos florestais e da agroindústria”, disse.

A empresa norueguesa inaugurou, na quarta-feira (6/2), o maior projeto de geração eólica da companhia fora da Europa, o complexo eólico Ventos de Santa Eugênia, na Bahia. Com capacidade para 519 megawatts (MW), o complexo tem 14 parques e 91 aerogeradores, fornecidos pela Nordex, e teve a construção iniciada em 2021. O investimento total é de R$ 2,8 bilhões. Com a entrada em operação, a capacidade instalada da empresa no Brasil passa de 710 MW para 1.229 MW.

O projeto venceu um leilão A-6 da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) em 2019, com a negociação de 75,3 MW médios. A maior parte da geração do complexo, no entanto, está sendo negociada no mercado livre de energia.

“Cada vez mais as empresas norueguesas veem o Brasil como um parceiro prioritário para descarbonizar operações e expandir o portfólio”, disse a cônsul-geral da Noruega, Mette Tangen, durante a inauguração da planta.

Ainda no primeiro semestre deste ano, a expectativa é de início da hibridização do projeto, com a instalação de placas solares fotovoltaicas e baterias. A entrada em operação está prevista para 2025 e vai elevar a capacidade do complexo para o fornecimento de 682 MW. Segundo o CEO da companhia, a transformação de plantas eólicas em projetos híbridos garante uma maior eficiência das linhas de transmissão, que podem ser usadas por mais horas ao longo do dia.

“Acredito que a maior parte dos parques eólicos vão se tornar híbridos, é uma combinação muito boa”, afirmou Rynning-Tønnesen.

Nos últimos anos, a Statkraft fez uma série de aquisições como estratégia para o crescimento no Brasil. Em agosto de 2023, a empresa comprou dois parques eólicos da EDP no Rio Grande do Norte.

Em novembro do ano passado, a companhia anunciou a compra das operações brasileiras da Enerfín, subsidiária da Elecnor. A aquisição adicionou ao portfólio da empresa norueguesa nove parques eólicos em operação no Rio Grande do Sul e Rio Grande do Norte. A expectativa é que a transação seja concluída no primeiro semestre deste ano, depois da aprovação dos órgãos reguladores. Com isso, até o final deste ano, a Statkraft deve se consolidar como uma das três maiores geradoras eólicas do país. Ao todo, a empresa vai atingir uma capacidade instalada de 2,23 GW no Brasil, crescimento de cinco vezes em relação ao início de 2023.

Questionado sobre o apetite para novas aquisições, o CEO explica que a empresa ainda tem apetite para outras negociações, mas afirma que já utilizou a maior parte da disponibilidade financeira que tinha para fazer grandes operações nos últimos anos. Por isso, o foco a partir de agora será nos projetos greenfield, construídos do zero, e em aquisições menores.

“Precisamos reservar capacidade financeira para novas construções. Temos mais de 400 projetos em planejamento em paralelo no mundo e precisamos garantir que temos capacidade financeira suficiente para isso”, disse.

Em relação à entrada no mercado de eólicas offshore, Rynning-Tønnesen defende que a companhia aguarde um maior amadurecimento do segmento. Hoje, a Statkraft tem projetos de geração eólica offshore no Reino Unido e na Irlanda, mas o CEO acredita que vai levar pelo menos mais dez anos para que haja uma redução de custos que justifique esses investimentos no portfólio brasileiro.

“Para o Brasil, é uma estratégia melhor expandir a geração terrestre e gradualmente ir para o mar, conforme ocorra uma redução de custos”, disse.

No país, o foco deve seguir no desenvolvimento de eólicas terrestres no curto prazo, dada a grande quantidade de terras disponíveis. Para ele, um projeto como Ventos de Santa Eugênia, inaugurado esta semana, tem a mesma escala de um projeto de geração eólica offshore, mas com menores custos.

“Os recursos eólicos aqui são excelentes, temos aqui alguns dos geradores terrestres com maior nível de utilização”, disse.

Esta foi a segunda visita do CEO ao Brasil desde que a companhia entrou no país, em 2008. Rynning-Tønnesen afirma que alguns dos fatores que contribuem para os investimentos da norueguesa no país são, além dos recursos solar e eólicos, as regulações, a organização dos sistemas de leilões e outorgas, além do ambiente de trabalho. Afirma, no entanto, que vai ser importante para o país simplificar o regime tributário.

“O Brasil já é um país muito importante nas renováveis, mas o potencial indica que vai continuar a crescer a se tornar ainda mais relevante no futuro. (…) Nós confiamos no Brasil, de forma geral, e aqui é um lugar onde os negócios podem prosperar, onde podemos construir usinas e ter um retorno”, afirmou.