Diálogos da Transição

Startups renováveis em alta no mercado de fusões e aquisições

M&A de startups de energia movimentou R$ 327 milhões no primeiro trimestre de 2023

M&A de Startups para energias renováveis em alta no mercado de fusões e aquisições. Na imagem: Espaço para coworking da primeira one stop digital de energia do Brasil, a Beenx, que recebeu aporte de R$10,5 milhões de empresas como ArcelorMittal, AES Brasil e Eneva (Foto: Divulgação Beenx)
Primeira one stop digital de energia do Brasil, a Beenx recebeu aporte de R$10,5 milhões de empresas como ArcelorMittal, AES Brasil e Eneva (Foto: Divulgação Beenx)

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Editada por Nayara Machado
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Em 2022, as startups de soluções relacionadas à transição energética receberam investimentos de R$ 1,35 bilhão, mostrando que o setor de renováveis está no radar de investidores e grandes empresas, principalmente quando o assunto é altamente especializado, avalia a advogada Natalie Sequerra, do escritório Graça Couto, especialista em fusões e aquisições (M&A).

“É um mercado amplo, que inclui atividades e tecnologias correlatas que contribuem para a transição energética. Estamos falando de operações envolvendo, por exemplo, hidrogênio, combustíveis alternativos, biomassa, tecnologias para armazenamento de energia, tecnologia na eficiência de edificações, reaproveitamento de resíduos sólidos, entre outros”.

Sequerra conta que, apenas no primeiro trimestre deste ano, os investimentos em startups de energia somaram R$ 327 milhões – dos R$ 24,4 bilhões movimentados pelas 359 transações gerais de M&A.

A advogada observa que, no geral, essas transações estão pouco aquecidas em outros segmentos mais tradicionais da economia.

Mas a energia está seguindo um caminho inverso. E a transição energética parece ter muito a ver com isso.

“O Brasil, que já ocupa uma posição estratégica vantajosa em relação a países da Europa e EUA, vislumbra grandes oportunidades pela frente, como por exemplo, se tornar um exportador de hidrogênio verde ou ficar à frente na comercialização do mercado de carbono”, observa Sequerra.

De acordo com a advogada, em 2022, startups que apresentaram soluções renováveis foram as que mais receberam investimentos.

“Esse mercado se torna também muito estratégico para o poder público. Basta ver algumas medidas recentes, como a criação do Comitê de Transição Energética pelo Congresso Nacional”, completa.

Energytechs

Grandes companhias já se movimentam e estão investindo em energytechs como estratégia para absorver a expertise em áreas como inteligência artificial, eficiência energética e aplicativos para relacionamento com os clientes.

Este ano, a Delta Energia, por exemplo, adquiriu uma empresa de tecnologia para desenvolver software e hardware para a LUZ poder atender os diferentes perfis de clientes que virão com a abertura do mercado livre no ano que vem.

Outro exemplo vem da Vale, que criou a Vale Venture, com US$ 100 milhões para investir em soluções sustentáveis para incorporar em suas operações, entre as quais, descarbonização na cadeia de mineração.

Em maio, a Vibra lançou uma chamada para startups lideradas por mulheres, com recursos da Vibra Ventures, que tem R$ 150 milhões para investir em startups. A ideia é conectar os negócios a parceiros estratégicos. O grupo também aporta recursos em energytechs para eletromobilidade.

“Existe um volume de recursos de grandes empresas direcionado para essas operações envolvendo as chamadas energytechs. A busca por essas startups não se restringe ao segmento de renováveis, mas perpassa todo o universo que contribua para uma matriz mais independente, como a adoção de tecnologias”, explica Sequerra.

Segundo levantamento da Liga Ventures, de julho de 2023, existem atualmente 241 energytechs ativas no Brasil.

Os segmentos que mais se destacam são os de eficiência energética (45 empreendimentos), geração compartilhada (44), data analytics (29) e gestão de consumo (26).

Grande parte desses projetos está nas regiões Sul e Sudeste, sendo que São Paulo concentra o maior número de startups (34% do total), seguido de Minas Gerais (13%), Santa Catarina (12%), Rio de Janeiro (10%) e Paraná (10%).

35 GW e R$ 170 bi em investimento solar

O Brasil ultrapassou esta semana a marca de 35 gigawatts (GW) de potência instalada da fonte solar fotovoltaica, somando as usinas de grande porte e os sistemas de geração distribuída, de acordo com dados da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar).

A fonte agora representa 15,9% da capacidade da matriz elétrica do país.

Ainda de acordo com a entidade, desde 2012, a geração solar movimentou no Brasil mais de R$ 170 bilhões em novos investimentos, e contribuiu com cerca de R$ 47,9 bilhões em arrecadação aos cofres públicos.

Solar ajudou a aquecer operações de M&A

Pesquisa da Greener mapeou 11 transações envolvendo fusões e aquisições no setor solar no terceiro trimestre de 2023.

No acumulado de janeiro a setembro são 19 operações, sete no 1º trimestre e apenas uma de abril a junho. Na comparação com o mesmo período do ano passado, quando foram reportados 14 negócios, o crescimento é de 35%.

Foram quatro operações em julho, cinco em agosto e outras duas em setembro. Dessas, 73% foram aquisições parciais ou total de empresas da cadeia solar.

Com uma fusão e sete aquisições, a consultoria destaca o apetite de empresas de óleo e gás, que estão em um movimento de diversificação e ampliação de seus negócios no setor de renováveis, sendo responsáveis por 27% das transações do 3º trimestre.

As aquisições de usinas tanto para geração distribuída quanto centralizada representaram outros 27% das transações de M&A, transacionando R$ 397,4 milhões.

Foram três transações no trimestre, envolvendo 10 usinas fotovoltaicas somando 256,7 MWp, todas operacionais, quatro em Minas Gerais e seis na Bahia.

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