A geração distribuída (GD) se tornou um dos principais vetores de modernização do setor elétrico brasileiro. O modelo permite que consumidores gerem a própria energia, em geral a partir de fontes renováveis, e compensam o excedente na rede de distribuição.
Essa dinâmica está descentralizando a matriz energética e tornando o consumo mais sustentável, acessível e previsível.
De acordo com dados da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), entre janeiro e julho de 2025, a oferta de energia elétrica proveniente da micro e minigeração distribuída (MMGD) foi ampliada em 5.293,86 megawatts (MW).
No período, 513.321 novos sistemas foram instalados em todo o país, beneficiando 928.480 unidades consumidoras. Somente em julho, 48.511 novas usinas solares fotovoltaicas e uma termelétrica a biogás entraram em operação, somando 520,13 MW de potência adicional.
Energia limpa e descentralizada no setor público
A força da energia descentralizada já se faz presente também no setor público. Escolas, hospitais e prédios administrativos de diferentes estados vêm adotando sistemas fotovoltaicos para reduzir custos e avançar em suas políticas de sustentabilidade.
Segundo levantamento da Absolar, o poder público já responde por cerca de 3% da potência instalada em geração solar distribuída no Brasil, com projetos que somam mais de 500 MW em operação, um número que tende a crescer rapidamente.
Para espaços em que a instalação de painéis solares não é viável, seja por limitações técnicas, urbanas ou orçamentárias, a geração distribuída remota ou por meio de fazendas solares, surge como uma alternativa ainda mais acessível e eficaz.
Esse modelo permite que prefeituras, órgãos públicos ou instituições de ensino usufruam dos benefícios da energia limpa, sem precisar investir em infraestrutura própria.
Eficiência econômica e impacto direto nas contas públicas
A GD não é apenas um instrumento de sustentabilidade, ela representa também um caminho concreto para reduzir custos com energia elétrica.
A média de economia nas contas de luz para consumidores que adotam o modelo é de aproximadamente 20%, considerando diferentes perfis de consumo e modelos de compensação.
No caso do setor público, esse percentual pode significar milhões de reais economizados anualmente, liberando recursos para investimentos em áreas prioritárias.
Além da economia direta, o modelo oferece previsibilidade orçamentária e reduz a exposição das administrações às oscilações tarifárias, um fator de grande relevância em tempos de restrição fiscal.
A energia passa a ser gerida como um ativo estratégico, e não apenas como uma despesa inevitável.
Sustentabilidade e educação: o papel do exemplo público
A adoção de energia limpa no setor público vai além da economia, é também uma forma de educação e conscientização sobre sustentabilidade.
Quando escolas, universidades e órgãos governamentais adotam fontes renováveis, eles criam um efeito de demonstração que influencia comportamentos individuais e institucionais.
Essa dimensão pedagógica é essencial num país onde, de acordo com a pesquisa Sustainability Sector Index (SSI), da Kantaril, 87% dos brasileiros afirmam querer ser mais sustentáveis, mas apenas 35% mudam efetivamente seus hábitos.
Ou seja, há um forte desejo de transformação, mas o exemplo prático, especialmente vindo do poder público, é fundamental para impulsionar a mudança.
Governança e licitação: pilares da viabilidade pública
Apesar das vantagens, a adoção de geração distribuída no setor público exige rigor técnico e jurídico.
O sucesso de projetos desse tipo depende da observância aos processos licitatórios e às regras que asseguram isonomia, transparência e economicidade.
Seguir corretamente as etapas de contratação, da análise de viabilidade até a elaboração do edital, é o que garante que a economia projetada se concretize ao longo do contrato e que os benefícios sejam efetivos e sustentáveis.
A consolidação de um ambiente regulatório confiável é essencial para atrair parceiros qualificados e promover contratos de longo prazo que entreguem resultados consistentes, sem riscos de judicialização ou desequilíbrios financeiros.
Um caminho sem volta
O crescimento acelerado da geração distribuída demonstra que o Brasil está no caminho certo rumo a uma matriz energética mais limpa, descentralizada e democrática.
A energia solar, em especial, se consolida como um pilar dessa transição, e a participação ativa do setor público será decisiva para que o movimento se amplie de forma estruturada e socialmente benéfica.
Mais do que uma tendência tecnológica, a GD representa uma mudança cultural na forma como o país produz e consome energia, um modelo que alia responsabilidade ambiental, eficiência econômica e inovação, e que já se mostra essencial para o futuro energético brasileiro.
Rafael Zanatta é diretor comercial e de operações da Bow-e.
