Gás Natural

Short haul? Sergipe pede à ANP tarifa especial para transporte de gás de curta distância

Governo sergipano quer atrair indústrias interessadas em comprar gás do terminal de GNL do estado e da futura UPGN da Petrobras

Short haul? Sergipe pede à ANP tarifa especial para transporte de gás de curta distância. Na imagem, governador sergipano, Belivaldo Chagas (dir.) assina protocolo de intenções com Petrobras para atrair consumidores de gás para Sergipe (Foto: Mario Sousa)
Governador sergipano, Belivaldo Chagas (dir.) assina protocolo de intenções com Petrobras para atrair consumidores de gás para Sergipe (Foto: Mario Sousa)

O governo de Sergipe apresentou à Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) uma proposta para criação de uma tarifa diferenciada para o transporte de gás natural de curta distância (conhecida, no mercado global, como short haul).

A ideia do governo sergipano é, com isso, reduzir os custos para indústrias interessadas em se instalar no estado e comprar o gás diretamente do terminal de regaseificação da Centrais Elétricas de Sergipe (Celse) — adquirida pela Eneva; e do gás novo que será produzido no projeto de águas profundas da Petrobras em Sergipe.

Em ofício enviado nesta quarta-feira (22/6) ao diretor-geral da ANP, Rodolfo Saboia, o governador Belivaldo Chagas (PSD) defende, justamente, a criação de uma tarifa exclusivamente aplicável para o transporte de gás injetado na rede a partir de uma UPGN ou terminal de GNL e destinado ao consumo interno, no mesmo estado.

O governo sergipano propõe, à ANP, duas alternativas de modelos para o short haul:

  • uma tarifa de curta distância calculada com base no custo de construção e operação de um eventual gasoduto dedicado de distribuição — concorrente da malha de transporte;
  • ou uma tarifa de transporte que privilegie o fator locacional, em linha com as tarifas do Gasoduto Bolívia-Brasil (Gasbol). Nesse caso, a tarifa seria calculada com base em duas parcelas: uma de acordo com a metodologia de Distância Ponderada pela Capacidade (CWD, na sigla em inglês) e outra pela metodologia postal, numa proporção 80% x 20%, por exemplo.

Chagas justifica que o short haul funcionaria como uma resposta regulatória ao risco de by-pass — isto é, que a conexão desses pontos de suprimento a eventuais consumidores livres se dê a partir da construção de gasodutos dedicados de distribuição.

De acordo com o documento assinado pelo governador, se isso ocorrer, “há risco de investimentos relevantes em infraestrutura ocorrerem de forma a atender interesses específicos, resultando em ineficiência de investimentos nos gasodutos”.

“A premissa da política estadual é assegurar condições para tornar o preço do gás natural o mais competitivo possível, razão pela qual busca-se desonerar os componentes do preço do gás. Dentre as iniciativas do Estado para viabilizar tal redução foi identificada a importância de reduzir o custo do transporte de gás natural que seja produzido e consumido dentro do Estado como alternativa à conexão de consumidores livres diretamente a fontes supridoras”, escreve Chagas, no ofício.

Petrobras e Eneva miram mercado livre

O pleito do governo sergipano se dá num momento em que importantes agentes se mobilizam no mercado de gás no estado — que já tem, hoje, um consumidor livre: a fábrica de fertilizantes operada pela Unigel em Laranjeiras (SE).

Em maio, a Transportadora Associada de Gás (TAG) fechou um acordo com a Celse para construir a interligação do terminal de gás natural liquefeito (GNL) de Sergipe à malha nacional de gasodutos de transporte.

O projeto tem 25 km de extensão, demandará investimentos de R$ 300 milhões e está previsto para entrar em operação em 2024.

A obra é importante para as pretensões da Eneva de se consolidar como uma comercializadora de gás natural. A companhia assinou, no mês passado, contrato para compra da Celse junto à New Fortress Energy e Ebrasil.

A Petrobras também se movimenta. A proposta sergipana para criação da tarifa de transporte diferenciada foi apresentada à ANP uma semana depois de o governador ter assinado, com a estatal, um protocolo de intenções para atrair grandes consumidores interessados em fechar contratos de longo prazo para aquisição do gás a ser produzido no projeto de águas profundas de Sergipe.

A petroleira busca uma forma de monetizar o gás do projeto e, assim, colocar de pé um novo sistema de escoamento do energético com capacidade de 18 milhões de m³/dia até a costa. O gasoduto ainda não tem uma data para entrar em operação.

O projeto de produção de óleo e gás em águas profundas de Sergipe é a primeira grande nova fronteira em desenvolvimento pela Petrobras fora do pré-sal. A intenção da empresa é instalar duas plataformas flutuantes (FPSOs) no litoral sergipano.

A primeira delas (P-81) está prevista para entrar em operação em 2026, com capacidade para produzir 120 mil barris/dia de petróleo e escoar 8 milhões de m³/dia de gás natural.

A Petrobras declarou a comercialidade das descobertas em águas profundas de Sergipe no fim de 2021, nas concessões BM-SEAL-4 e BM-SEAL-11. Os novos campos foram batizados como Budião, Budião Noroeste, Budião Sudeste, Palombeta, Cavala, Agulhinha e Agulhinha Oeste.