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Diálogos da Transição
eixos.com.br | 23/03/22
Editada por Nayara Machado
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Lançado nesta terça (22/3), o Rastreador de Políticas de Petróleo e Gás (OGPT, na sigla em inglês) revela que, apesar dos compromissos de instituições financeiras e investidores em restringir apoio à indústria de petróleo e gás, suas políticas falham quando o assunto é alinhar os negócios com as metas de emissões líquidas de zero até 2050.
E estão longe do esforço global de conter o avanço da temperatura do planeta a 1,5°C até 2100.
A ferramenta, desenvolvida pelo Reclaim Finance e mais 15 ONGs ambientais de diversos países, avalia as políticas de exclusão de petróleo e gás (ou falta delas) das 150 maiores instituições financeiras do mundo (60 bancos, 60 investidores e 30 seguradoras). Não há brasileiras na lista.
Menos da metade delas implementou políticas de exclusão de petróleo e gás.
O dado é preocupante, já que 74 pertencem à Glasgow Financial Alliance for Net Zero (GFANZ) – grupo criado na COP26, em novembro passado, comprometendo US$ 130 trilhões em financiamento privado com metas líquidas zero.
Segundo o rastreador, 20 membros da GFANZ não têm políticas sobre os negócios de petróleo e gás.
As ONGs pedem às instituições financeiras que não querem ser expostas como greenwashers a adoção de políticas robustas “com linhas vermelhas claras contra a expansão de petróleo e gás”.
“Apesar de suas promessas climáticas, eles [GFANZ] estão falhando no teste mais básico para qualquer instituição que pretenda alinhar seu portfólio com 1,5°C. E como a guerra de Putin contra a Ucrânia revela, eles também tornam o mundo mais instável enquanto financiam conflitos futuros”, comenta Lucie Pinson, diretora da Reclaim Finance.
A divulgação desses dados chega em meio a um cenário turbulento.
De um lado, as sanções impostas contra a Rússia após a invasão da Ucrânia estão levando os preços do petróleo e gás a máximas, enquanto países se preparam para uma crise de suprimento.
Parte dessas estratégias passa, inclusive, por acelerar a transição para fontes mais limpas de energia. Outra, por subsidiar os fósseis.
Em epbr:
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Os principais achados do rastreador
O OGPT classifica as políticas de exclusão de petróleo e gás analisando três indicadores principais: restrições a novos projetos de petróleo e gás, restrições a empresas que desenvolvem novos projetos de petróleo e gás e estratégias para eliminar o petróleo e o gás. Veja aqui
Também aponta grandes falhas nas políticas existentes, dificultando os esforços para enfrentar a expansão de petróleo e gás, em linha com o que a ciência climática exige para ficar abaixo de 1,5°C.
Nove instituições financeiras excluem totalmente o apoio a novos projetos de petróleo e gás upstream. A Reclaim Finance alerta, porém, que o caminho para 1,5°C da Agência Internacional de Energia (IEA, em inglês) não inclui novos campos de petróleo e gás.
“As políticas tendem a se concentrar na exclusão do suporte apenas para alguns projetos petróleo e gás não convencionais, como areias betuminosas, Ártico, fraturamento hidráulico e/ou águas ultraprofundas”, explica em nota.
Cinco instituições financeiras restringem — parcial ou totalmente — o apoio a empresas que desenvolvem novos projetos de petróleo e gás.
Segundo a organização, o financiamento desempenha um papel crítico em novos projetos e a maioria das políticas está concentrada em restringir o suporte direto ao projeto, mas ainda permite o suporte no nível da empresa.
Mais preocupante, diz a Reclaim Finance, é que o exame revela um número crescente de instituições financeiras que está abrindo espaço para grandes exceções nas letras miúdas de suas políticas.
Um exemplo é que apenas 14 instituições financeiras têm políticas para combustíveis fósseis convencionais e não convencionais, enquanto 66 têm restrições limitadas a um ou mais setores não convencionais.
Um dos bancos listados no rastreador, o holandês ING anunciou hoje (23/3) que não financiará mais novos projetos de petróleo e gás.
À Reuters, o chefe de Energia do banco, Michiel de Haan, disse que o ING não financiaria projetos aprovados após 31 de dezembro de 2021, mas ainda financiaria empresas de energia (o que inclui as fósseis) — justamente uma das críticas do OGPT.
De Haan também disse que o banco visaria um aumento de 50% nos empréstimos para energia renovável até 2025, com base em um forte crescimento em 2021, quando o financiamento cresceu 26%, para 7,3 bilhões de euros.
‘Plano Marshall’ para transição
A secretária de Energia dos EUA, Jennifer Granholm, afirmou nesta quarta (23/3) que a transição para energia limpa pode ser “projeto de paz” e que 2022 deve ser o ano de implementação dos esforços neste sentido.
A proposta é garantir o fornecimento de energia, o que inclui os fósseis, ao mesmo tempo em que busca novas fontes.
“Essa transição de energia limpa pode ser o projeto de paz do nosso tempo. Mas a paz sempre vem depois da luta. Então, vamos dar a este projeto de paz o foco, o compromisso e os recursos de um esforço de guerra. Nosso Plano Marshall”.
O Plano Marshall foi uma ajuda financeira dos EUA para reconstruir a Europa no pós-Segunda Guerra Mundial, e evitar o avanço da União Soviética sobre o Ocidente.
Granholm discursou no encontro de ministros de Energia da IEA, que começou hoje e vai até amanhã.
“Ambas as crises precisam ser abordadas agora”, disse, em alusão à crise energética causada pela guerra de Putin e à emergência climática.
“Não é um ‘ou, ou’. É um ‘ambos, e’. Devemos aumentar o fornecimento confiável agora e acelerar nossos esforços por energia limpa. O futuro da segurança energética, da segurança econômica, da segurança nacional e da segurança climática estão exigindo uma transição acelerada”.
Segundo Granholm, os planos dos EUA passam por aumentar os investimentos públicos e privados em novas tecnologias, além de trabalhar com empresas de petróleo para ajudá-las a diversificar seus portfólios de energia.