Diálogos da Transição

Setor de energia ainda está desalinhado com limite de 2°C, mostra TPI

Resultados do setor elétrico são bem melhores que os de O&G, mas ainda há um longo caminho para mitigar aquecimento global

Setor de energia em desalinho com limite de 2°C para aquecimento global. Na imagem: Chaminés de indústria de petróleo emitindo grande volume de gases de efeito estufa, gerando uma densa fumaça branca e, ao fundo, turbinas eólicas (Foto: Emphyrio/Pixabay)
No setor de O&G, 48 empresas não estão alinhadas, nem com NDCs, nem com cenários abaixo de 2°C. Petrobras é uma delas (Foto: Emphyrio/Pixabay)

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Diálogos da Transição

eixos.com.br | 10/02/22
Apresentada por

Editada por Nayara Machado
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Relatório publicado na quarta (9/2) pela Transition Pathway Initiative (TPI) mostra que a maioria das empresas do setor de energia (eletricidade e óleo e gás) está desalinhada com as metas de limitar o aquecimento do planeta abaixo de 2°C até o final do século.

No setor elétrico os resultados são significativamente melhores do que no O&G, mas ainda há um longo caminho pela frente.

Das 76 companhias do setor elétrico analisadas, 33 têm gestões de emissões alinhadas com o cenário abaixo de 2°C até 2100, como propõe o Acordo de Paris. Enquanto 11 empresas já estão alinhadas com 1,5°C.

No setor de óleo e gás, 48 — de um total de 58 analisadas — não estão alinhadas, nem com as NDCs (compromissos apresentados pelos países para cumprir o Acordo de Paris), nem com os cenários abaixo de 2°C. A Petrobras é uma delas.

Três empresas (TotalEnergies, Occidental Petroleum e Eni) estão alinhadas com o cenário 1,5ºC e apenas uma, a Galp, com 2°C.

Quatro (Shell, Repsol, Origin Energy e Ecopetrol) estão alinhadas com as NDCs — ainda assim consideradas insuficientes.

A análise foi feita a partir de um benchmark desenvolvido pela TPI com caminhos de descarbonização setorial voltado para investidores. Veja a íntegra em inglês (.pdf)

479 das maiores empresas de capital aberto do mundo, com valor de mercado somando cerca de US$ 10 trilhões, são avaliadas pela ferramenta que permite aos investidores julgar se as empresas estão na direção certa para a transição para emissões líquidas zero até 2050.

  • A TPI é apoiada por investidores com mais de US$ 40 trilhões em ativos. Suas referências são usadas ​​pelo Climate Action 100+, iniciativa de investidores para garantir que os maiores emissores corporativos do mundo tomem as medidas necessárias sobre as mudanças climáticas.

O relatório cobre os setores de Eletricidade, Petróleo e Gás, Alumínio, Cimento, Mineração, Papel, Siderurgia e Transportes (Automóveis, Aviação, Navegação), e usa como base os cenários da Agência Internacional de Energia (IEA, na sigla em inglês).

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Adam Matthew, presidente da TPI, explica que o objetivo da ferramenta é dar mais clareza sobre como deve ser a transição.

“Em um mundo onde nos deparamos com múltiplas interpretações (…) muitas vezes com a intenção de desacelerar em vez de acelerar a taxa de mudança, [ou] defender ações menos ambiciosas por parte das empresas, é imperativo que nós, como investidores, tomemos decisões com base em análises críveis e rigorosas”, comenta.

Segundo o especialista, as estratégias lançadas pela TPI são explicitamente focadas na meta de zero líquido e refletem as realidades econômicas, técnicas e sociais da transição para baixo carbono.

Por exemplo, o caminho de descarbonização para a aviação afirma que, se uma empresa individual deseja estar alinhada com 1,5°C, sua intensidade de emissões até 2030 deve ser inferior a 616 toneladas de CO2/RTK (receita tonelada-quilômetro).

Ele afirma que esse nível de detalhe permite que o investidor julgue a definição de metas das empresas e as responsabilize, à medida que suas emissões do mundo real são relatadas ano a ano.

Por falar em investimentos… Investidores continuaram a migrar para fundos ESG (sigla em inglês para critérios ambientais, sociais e de governança) em janeiro, apesar de uma queda nas big techs que atingiu o desempenho dos fundos.

À medida que a transição global para uma economia de baixo carbono ganha ritmo e os investidores institucionais são cada vez mais avaliados pela sustentabilidade de suas participações, os fluxos para fundos focados em encontrar vencedores ESG permaneceram constantes, mostra uma análise da Reuters.

Dados da rede Calastone, que rastreia negociações em fundos domiciliados no Reino Unido, mostram que os fundos de ações ESG com foco global arrecadaram US$ 622,28 milhões líquidos de 1º de janeiro a 3 de fevereiro, em comparação com US$ 543,56 milhões fluindo para os de ações sem ESG.

Embora janeiro tenha sido o pior mês em mais de três anos para o índice Nasdaq e seus componentes tecnológicos, o dinheiro continuou fluindo, favorecido pelos fundos ESG por suas baixas emissões e altas pontuações de provedores de dados ESG.

…e energia, o Carbon Tracker lançou hoje (10/2) um estudo que alerta para o dilema do gás na Polônia. À medida que o país começa sua transição para longe dos suprimentos a carvão, os planos ficam cada vez mais dependentes da energia a gás.

“Os resultados apresentados no Energy Dilema da Polônia mostram que as novas energias renováveis ​​​​serão investimentos mais baratos do que o novo gás”, diz o think tank.

A análise compara o custo nivelado de energia (LCOE) para novos investimentos em renováveis ​​na Polônia com os custos de investimento projetados para gás natural.

LCOE Novo Gás na Polônia vs. LCOE de Novas Renováveis (Fonte: Carbon Tracker)
LCOE Novo Gás na Polônia vs. LCOE de Novas Renováveis (Fonte: Carbon Tracker)

“Novas unidades de gás de grande escala na Polônia parecem totalmente incompatíveis com um caminho de zero emissões líquidas até 2050 e qualquer uma que seja construída pode ser forçada a fechar bem antes do fim da vida útil planejada”, alerta o relatório.

Além disso, essa estratégia também arriscaria prender o país a um futuro com altos preços de eletricidade, em meio a preços recordes de gás no atacado em todo o mundo. Veja a análise em inglês

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