Agendas da COP

Setembro é o mês mais quente da história

O ano de 2023 está a caminho de ser o mais quente já registrado, alertam os cientistas da OMM

Setembro quebra novo recorde de calor e pode ser o mês mais quente já registrado, diz OMM. Na imagem: Áreas atingidas por forte estiagem na região de Catalão, em Manaus (AM), registradas durante a visita do vice-presidente Geraldo Alckmin, em 4/10/2023 (Foto: Cadu Gomes/VPR)
Área de Manaus (AM) atingida pela forte estiagem na região amazônica (Foto: Cadu Gomes/VPR)

BRASÍLIA – A Terra acaba de ter o mês de setembro mais quente de que há registo – e por uma margem recorde –, de acordo com relatório da Organização Meteorológica Mundial (OMM) publicado nesta quinta (5/10).

A agência da ONU avalia que os dados de setembro dão continuidade a uma série prolongada de temperaturas recordes da Terra e da superfície do mar, em um sinal alarmante sobre a velocidade com que os gases com efeito de estufa estão alterando o clima.

O que coloca o ano de 2023 a caminho de ser o mais quente já registrado, dizem os cientistas da OMM.

No último mês, a temperatura média na superfície ficou em 16,38°C, cerca de 0,5°C acima da temperatura do setembro mais quente até então, em 2020.

Já em comparação com o período de referência pré-industrial de 1850-1900, o aumento de temperatura é de 1,75°C, mostram dados do Serviço de Alterações Climáticas Copernicus da União Europeia (C3S).

Calor sem precedentes

“Desde junho, o mundo tem experimentado um calor sem precedentes em terra e no mar. As anomalias de temperatura são enormes – muito maiores do que qualquer coisa que já vimos no passado”, comenta o secretário-geral da OMM, Petteri Taalas.

Ele relata que a extensão do gelo marinho no inverno antártico foi a mais baixa já registrada para junho e que o El Niño em andamento aumenta as preocupações para os próximos meses.

O fenômeno natural El Niño aquece as águas do Oceano Pacífico Equatorial de forma anormal, causando alterações no clima global. A combinação do fenômeno com as mudanças climáticas tem intensificado secas e tempestades em algumas regiões.

“O que é especialmente preocupante é que o evento de aquecimento El Niño ainda está em desenvolvimento, e por isso podemos esperar que estas temperaturas recordes continuem durante meses, com impactos em cascata no nosso ambiente e na sociedade”, explica Taalas.

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A OMM combina o conjunto de dados de reanálise C3S (chamado ERA5) com cinco outros conjuntos de dados internacionais para seus boletins de monitoramento do clima.

O relatório provisório da OMM sobre o Estado do Clima Global 2023 será divulgado no início da conferência da ONU sobre mudanças climáticas (COP28), em Dubai, no final de novembro.

“As temperaturas sem precedentes para a época do ano observadas em setembro – após um verão recorde – quebraram recordes de forma extraordinária. A dois meses da COP28, o sentido de urgência para uma ação climática ambiciosa nunca foi tão crítico”, diz Samantha Burgess, diretora adjunta do Copernicus.

Quase todo mundo longe do Acordo de Paris

Os números de setembro foram publicados enquanto um novo relatório de síntese da Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas mostra que os planos nacionais para cumprir o Acordo de Paris estão distantes do objetivo de limitar o aquecimento do planeta a 1,5°C até 2100.

Divulgado no início do mês passado, o relatório Global Stocktake (GST) analisa as políticas climáticas adotadas pelos signatários do Acordo de Paris e conclui que estamos em direção a algo entre 2,4ºC e 2,6ºC até o fim do século, com o cumprimento das atuais NDCs (sigla, em inglês, para contribuições nacionalmente determinadas).

E indica que é possível reduzir o aquecimento à faixa entre 1,7ºC e 2,1ºC caso os compromissos de longo prazo para emissões líquidas zero sejam plenamente atingidos.