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Sequestro de carbono chegou para ficar, diz presidente da Shell Brasil 

Cristiano da Costa também afirma que Brasil perderá competitividade se elevar carga tributária do setor

Discussão sobre sequestro (ou captura) de carbono chegou para ficar, afirma presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, em entrevista ao estúdio epbr durante a CERAWeek 2024 da S&P Global (Foto: Reprodução epbr)
Presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, em entrevista ao estúdio epbr durante a CERAWeek 2024 da S&P Global (Foto: Reprodução epbr)

HOUSTON – O tema do sequestro de carbono “chegou para ficar” e vai ser fundamental para atingir a meta de zerar as emissões líquidas até 2050, disse o presidente da Shell Brasil, Cristiano Pinto da Costa, em entrevista ao estúdio epbr nesta segunda-feira (18/3) durante a CERAWeek 2024, da S&P Global, no Texas. Veja na íntegra a entrevista.

“O mundo não vai chegar em 2050 sem isso”, afirmou.

O executivo destacou ainda que está percebendo nas discussões ao longo do evento uma convergência maior em relação à necessidade dos esforços da transição energética para atingir as metas de descarbonização.

“Mas os desafios são enormes para conseguir chegar lá”, ressalvou.

Segundo Costa, a demanda por petróleo vai seguir firme por muitas décadas e ainda deve ser relevante em 2050. Ele também afirmou que o mercado tem reforçado a importância do papel do gás liquefeito natural (GNL) na transição energética, sobretudo na substituição do carvão.

“Há uma consciência de que o mundo ainda vai precisar de óleo e gás durante algumas décadas. Então essa acho que é uma outra convergência de mensagens: a gente tem que trabalhar bastante na melhora da eficiência do hidrocarboneto, tanto do ponto de vista de custo quanto do ponto de vista de intensidade de carbono”, disse.

O executivo afirmou que esse contexto é favorável para o Brasil, que pode produzir petróleo e gás com custos e emissões competitivos em relação a outras fontes. Costa ressaltou que é importante que o país não perca essa janela de oportunidade. Segundo ele, existe uma preocupação do setor no país com a carga tributária, principalmente depois da instituição no começo de 2023 de um imposto temporário sobre a exportação de petróleo.

“O Brasil já tem uma carga tributária muito pesada. Nos preocupa qualquer aumento”, ressaltou.

Um dos alvos de preocupação, segundo o presidente da Shell, é a discussão no Congresso Nacional sobre o imposto seletivo, a partir da reforma tributária. Esta semana, o Ministério de Minas e Energia (MME) enviou ao Ministério da Fazenda um alerta sobre a possibilidade de bitributação do setor com a definição do imposto. A companhia apoia a posição do Instituto Brasileiro do Petróleo (IBP), que é contra a introdução do imposto seletivo de até 1% para atividade de extração.

“Olha o que está acontecendo na Guiana, no Suriname, na Namíbia. Se o Brasil errar na mão na carga tributária, vai perder competitividade e o dinheiro vai acabar indo para outros países, vizinhos nossos. Concordamos 100% com a posição do Ministério das Minas e Energia, nesse alerta feito ao Ministério da Fazenda” afirmou Costa.

Atualização das metas climáticas

Este mês, a Shell atualizou pela primeira vez a estratégia global da empresa para transição energética, anunciada em 2021. A companhia recebeu críticas por reduzir a meta de redução de emissões prevista para 2030 em relação a 2016. O objetivo passou a ser de uma diminuição entre 15% e 20%, ante a mitigação de 20% prevista anteriormente.

Segundo Costa, a mudança está em linha com a estratégia de investimentos anunciada pela empresa em 2023, que busca concentrar os esforços de transição em rotas de descarbonização específicas. Ele ressaltou ainda que a empresa anunciou uma nova ambição para 2030, com a redução de 15% a 20% a intensidade de carbono dos produtos derivados de petróleo vendidos.

“É uma tentativa da companhia de mudar um pouco o diálogo entre aquilo que a gente percebe como uma corrida de quem promete mais em 2040 ou 2050 para quem entrega mais nos próximos anos”, disse.

O executivo reforçou que a companhia está comprometida com a meta de reduzir 50% das emissões de carbono até o final da década em relação a 2016. A empresa já tinha atingido 31% de mitigação até o fim do ano passado.

O presidente da Shell afirmou ainda que a tendência é que as cadeias de energia passem a ser mais locais com o avanço das energias renováveis, em comparação com as cadeias de petróleo e gás, que são globais.

“Acreditamos que o biocombustível e energia renovável vieram para ficar e vão ser super importantes para que o mundo entre na transição”, afirmou.

Confira a cobertura do estúdio epbr na CERAWeek 2024