RIO — O Banco Santander anunciou nessa terça (8/3) a aquisição de 80% da WayCarbon, empresa brasileira líder em consultoria ESG. Entre os serviços da consultoria está a implementação de estratégias ESG e o comércio de créditos de carbono. O banco espanhol é hoje o principal operador de créditos de descarbonização (CBIOs) do Renovabio.
Segundo José Linares, diretor global do Santander Corporate & Investment Banking, a aquisição é parte da estratégia do banco para fortalecer a atuação em negócios sustentáveis.
“Como líder do setor em ESG, a WayCarbon nos ajudará com nossos próprios objetivos e nossos clientes em sua transição para modelos de negócios mais sustentáveis. O Santander tem vasta experiência em projetos sustentáveis e é líder global e pioneiro no financiamento de energia renovável. Este acordo ajudará a manter o Santander na vanguarda deste espaço crítico”, afirma Linares.
Uma das metas do banco é levantar € 220 bilhões em financiamento verde até 2030.
Para o CEO da WayCarbon, Felipe Bittencourt, o setor financeiro é um dos principais motores para induzir as mudanças necessárias na transição para uma economia de baixo carbono.
“Atuaremos ao lado dos milhares de clientes do banco, em mais de 10 mercados em todo o mundo. Continuaremos a prestar serviços e prover nossa tecnologia de maneira independente para empresas públicas, privadas e governos”, disse Bittencourt em sua rede social.
Recentemente, a WayCarbon anunciou uma parceria com a EPE (Empresa de Pesquisa Energética) para a estruturação da base de indicadores e estatísticas socioambientais de riscos climáticos, mitigação e adaptação às mudanças climáticas para o Ministério de Minas e Energia (MME). O trabalho, que teve início em novembro de 2021, tem projeção de término em 15 meses.
A base de dados servirá de subsídio aos programas de desenvolvimento energético, bem como aos compromissos internacionais do Brasil relacionados às mudanças climáticas, como o Acordo de Paris e os novos compromissos assinados pelo Brasil na Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas — COP26.
Financiamento climático e mercado de carbono
Em novembro do ano passado, a agência epbr conversou com o CEO da WayCarbon durante a conferência. Na entrevista, ele destacou o papel da iniciativa privada na agenda ambiental e sua importância no financiamento climático.
“O Brasil e as empresas brasileiras estão levando o tema a sério. Tem uma gama de empresas de grande porte investindo no Redd+ jurisdicional, isto é, potencial de receita financeira por resultado, como pagamentos de serviços ambientais, créditos de carbono (…) São diversos CEOs de grandes empresas aqui presentes para mostrar que é uma agenda prioritária. O Brasil só tem a ganhar com o empresariado também”.
Na ocasião, o executivo também comentou o novo anúncio do corte de emissões feito pelo governo brasileiro dentro da Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC, na sigla em inglês) e o potencial do Brasil no mercado de carbono.
“A NDC está melhor do que estava antes da COP26”, disse Bittencourt.
“O Brasil tem tudo para ser um grande fornecedor de soluções baseadas na natureza. Mas temos que reduzir o desmatamento. O além do que conseguirmos entregar na NDC tem um baita potencial no mercado regulado. E no mercado voluntário isso vai andar a passos largos também”, comentou o CEO da WayCarbon.
Estratégia ESG De olho na COP 26 — Entrevista com Gabriella Dorlhiac, diretora executiva da ICC Brasil, e Felipe Bittencourt, CEO da WayCarbon
Preço do CBIO ultrapassa R$ 100
Os preços dos créditos de descarbonização (CBIO) do Renovabio subiram 3,4% na semana encerrada em 4 de março, negociados a R$ 100,58 na média.
Os créditos chegaram a atingir R$ 101,50, maior cotação nominal desde o início das negociações, em junho de 2020.
O mercado está mais aquecido. Nos 40 primeiros dias úteis de 2022, foram comercializados 10,088 milhões de CBIOs, crescimento de 162% em relação ao mesmo período do ano passado, quando 3,848 milhões créditos foram vendidos.
Na semana encerrada em 4 de março, com menos dias de negociação em função do Carnaval, o volume negociado caiu pela metade, para 720 mil créditos.
Com a alta nos preços, os mais de dez milhões de CBIOs transacionados este ano movimentaram R$ 824 milhões, alta de 553% na comparação com 2021.